Por André Siqueira, co-fundador da Resultados Digitais, diretor da RD University e palestrante especialista em aquisição de clientes.
Alguns dias atrás publiquei no meu Instagram a história do primeiro RD Summit, em 2013. De lá pra cá, os menos de 20 palestrantes viraram mais de 150 por edição e os quase 300 participantes viraram mais de 12 mil.
Não é nenhum exagero dizer que o RD Summit virou o centro de um ecossistema em ebulição. Muito conteúdo, muitos negócios, muita coisa boa em um lugar só.
Com esse crescimento todo, também vieram muitas oportunidades para quem está no centro das atenções.
Tenho orgulho e felicidade imensa em já ter recebido inúmeras mensagens dizendo que o RD Summit foi um ponto de virada e que fez a diferença na vida e carreira deles, trazendo visibilidade e autoridade.
E mesmo entre profissionais super valorizados e com um imenso histórico palestrando, o feedback de que foi o melhor evento/palestra da vida deles não é incomum.
Isso tudo traz em muita gente o desejo de estar lá nos palcos e por esse motivo sempre recebemos o questionamento: o que faço para estar entre os escolhidos?
Essa é a primeira vez que escrevemos de forma mais longa e detalhada sobre o tema e serve de guia para ajudar quem se enquadra nesse estágio.
Os 3 grandes pilares da avaliação de palestrantes
Há todo um contexto para a montagem da grade e nossas escolhas, há inúmeros detalhes e nuances, mas dá pra tentar de alguma forma resumir os critérios de avaliação em 3 grandes pilares:
1- Conteúdo
Conteúdo é a peça central do evento, o que faz a conexão de tudo, então obviamente é algo que vamos avaliar antes de escolher alguém. Dá pra desdobrar conteúdo em algumas coisas diferentes:
Tema
o RD Summit tem em mente o profissional de uma pequena ou média empresa em crescimento (ou em busca de crescimento).
Esse profissional pode ser de diferentes áreas e níveis de experiência, temos as diversas trilhas para isso.
Não que outras personas não possam participar, mas o evento não foi feito pra elas.
É a persona ideal e o problema dela que vai ser refletido nas palestras.
Por isso você não vai encontrar palestras de “Como inovamos nas campanhas de TV integrando ON e OFF”.
Isso não é um problema comum das pequenas e médias que atendemos.
Também não vai ter “Como ganhar dinheiro em casa” ou “Fique rico fazendo XYZ”, não miramos pessoa física criando um produto próprio.
É válido olhar para as trilhas que temos por lá: Marketing Digital Iniciante, Marketing Digital Avançado, Conteúdo, Marketing, Vendas, Sucesso do Cliente, Gestão e estratégia, Desenvolvimento Pessoal, Agências de Sucesso, Histórias que Inspiram, Produto e Tecnologia e RD Station.
É sempre recomendado olhar a agenda e palestras dos anos anteriores para entender a pegada que seguimos.
Não entram técnicas que não endossamos, como aquelas que podem comprometer a experiência do cliente, priorizam muito o curto prazo prejudicando o longo prazo.
Com exceção do mercado de agências, acabamos não incluindo também palestras focadas em segmentos, como a linha de “Marketing Digital para Imobiliárias”.
Isso porque a audiência é muita diversificada e nenhum segmento tem percentual suficiente pra um público grande, capaz de lotar uma sala.
E uma sala vazia é sinônimo de superlotação nas outras, o que a gente quer evitar ao máximo.
Profundidade, experiências reais e viés prático
Claro que algumas acabam entrando e sendo necessárias, mas o RD Summit não é um evento para trazer conceitos e ideias abstratas.
É um evento mão na massa! Queremos que as pessoas que falam de um assunto não falem só porque leram um livro e fizeram um curso, resumiram os aprendizados e estão compartilhando.
Queremos que elas falem daquilo que elas colocaram na prática, viram o que funciona ou não, otimizaram e fizeram mais testes.
O conteúdo vem da experiência e de resultados incríveis. A gente não se chama Resultados Digitais à toa!
2- Capacidade de apresentação
No começo dos eventos, nos importávamos menos com isso. A gente procurava quem realmente tivesse resultados incríveis nos temas que queríamos e colocávamos lá para falar do assunto.
O que descobrimos com o passar do tempo é que a capacidade de fazer boas apresentações é tão ou mais importante que o conhecimento técnico.
As pessoas avaliam de forma muito diferente as palestrantes que têm essa habilidade e as que não tem, mesmo quando a informação e o conhecimento técnico são de altíssimo nível.
Domínio de palco
Saber projetar a voz, falar com fluidez e sem vícios de linguagem, ter uma boa postura corporal, usar as subidas e descidas de tom (um único tom é tão ruim que a gente encara monótono como sinônimo de chato).
Fora isso, é importante não sentir a pressão de uma super audiência ávida por conteúdo de altíssimo nível, então confiança é requisito também.
Ter palestrado muitas vezes e em muitos eventos não é necessariamente obrigatório para estar no RD Summit, mas, por outro lado, é raro alguém chegar a essas habilidades de apresentação sem ter praticado e aperfeiçoado muito com a experiência.
Engaja, sabe contar boas histórias e construir um bom roteiro
Saber filtrar qual conteúdo colocar e qual tirar, saber entregar valor a cada fala e conectar tudo em uma história envolvente vai além do domínio de palco, é uma arte. Queremos esses artistas!
Só dizer que trabalha na empresa X, Y ou Z, que é grande e tem ótimos processos, não garante que a palestra engaja e tem o roteiro certo.
Me impressiona a quantidade de profissionais das empresas top que se perdem nisso.
3- Alinhamento com a RD
Somos curadores do evento, atraímos pessoas que gostam da nossa forma de pensar negócios, dos nossos valores e das nossas escolhas.
Para a gente entregar a promessa e cumprir com as expectativas é fundamental que hajam alguns alinhamentos importantes entre o evento e quem vai palestrar.
Mentalidade
A mentalidade do evento é a de entregar o máximo de valor. Queremos palestras ricas em conteúdo e úteis ao público.
Não permitimos tom comercial nos eventos. Não permitimos palestras que mostrem só os resultados e terminem vendendo um curso de como chegar lá, sem dar o caminho.
Nem palestras que mostram como usar um produto e digam que comprar esse produto é a solução de todos os problemas.
Nosso time de curadoria não tem relação nenhuma com o time comercial, que vende patrocínios e estandes.
Nós não vendemos palestras e não garantimos espaço a nenhum patrocinador.
Também não garantimos que um concorrente do patrocinador não vá estar no palco, caso o conteúdo e a palestra preencham tudo o que a gente procura.
Mas claro, se o patrocinador também tiver esse alinhamento, ele vai ser avaliado e pode ser escolhido, como qualquer pessoa que se candidate a palestrar.
Comercial
Sim, a gente procura os melhores palestrantes, não fazemos um evento com palestras-jabá e o foco total é em conteúdo.
Mas também não somos uma ONG ou uma divindade imaculada.
Temos interesses comerciais, queremos crescer rápido e ajudar cada vez mais empresas.
Queremos deixar competidores para trás e fortalecer nossa participação de mercado.
É natural que a gente não coloque em destaque quem promove campanha contra a nossa forma de trabalhar, nossa metodologia e nossa ferramenta.
Não vamos dar audiência e foco para quem é embaixador e tem relações muito próximas com nossos concorrentes.
Não precisa ficar falando da gente, nem fora e menos ainda no palco, mas também não dá pra entregarmos a bola de bandeja para o adversário.
Valores
O RD Summit tem um código de conduta bastante claro e os palestrantes também são avaliados e devem respeitar os mesmos critérios.
O conteúdo das palestras no palco e as posições dos palestrantes comunicadas fora dele devem estar de acordo com os princípios que acreditamos, de valorização e respeito à diversidade e de ética na atuação profissional e nas práticas.
Algumas “piadinhas” de gosto muito duvidoso já foram motivo para alguns, mesmo que com bom conteúdo, não voltarem a serem convidados.
Outros também não voltaram porque foram desrespeitosos com nossa equipe de apoio.
Não deve haver conteúdo que desrespeite ninguém, especialmente por gênero, orientação sexual ou grupos étnicos.
Não deve haver, na palestra, manifestação política. Não deve haver técnicas que enganem o público para vender. Não deve haver mentira ao contar experiências.
Tudo isso forma a reputação do palestrante, algo que temos que avaliar com muito cuidado, já que a reputação dos palestrantes forma a reputação do RD Summit.
O nosso processo de escolha
Indicados os critérios de avaliação, avançamos um pouco nos 5 passos dos processo de escolha.
Passo 0 – De onde tiramos os nomes
Os nomes se dividem da seguinte forma:
- Já participaram conosco em eventos anteriores
- São do relacionamento ou indicação do nosso time
- São indicações de participantes nos formulários de feedback
- Palestraram em outros grandes eventos e instituições
- São RDoers e participam de uma processo seletivo interno
- Se candidatam e pedem para palestrar (qualquer pessoa pode fazer isso nesse formulário).
Um aspecto aqui é muito importante: acreditamos no poder da diversidade e investimos ativamente nisso.
Como exemplo, embora apenas 15% das pessoas que se candidataram no formulário para palestrar no último ano tenham sido mulheres, o gênero foi cerca de 35% do total de palestrantes (e a meta é continuar se aproximando dos 50% esse ano).
Mais que bem vinda, a diversidade (de gêneros, etnia, orientação sexual e de capacidades física) é uma prioridade pra gente!
O processo pelos quais todos passam é o mesmo, mas nesse passo 0 somos mais proativos ao procurar pessoas de grupos que historicamente são menos representados.
Caso seja seu caso, vamos olhar com ainda mais carinho para a sua candidatura.
Passo 1 – Análise de histórico
Para quem já palestrou em um evento com a gente, a nota fala muito alto.
Somos obcecados pelo feedback do público e alguém que tirou notas abaixo do que esperamos diminui sensivelmente suas chances de voltar.
Também fazemos toda a avaliação de relacionamento conosco extra eventos, envolvimentos em polêmicas e todo o resto que indicamos no item “alinhamento”.
Passo 2 – Avaliação do tema
Há dois tipos de encaixe de temas no RD Summit: os que procuramos e os que aceitamos.
Pelo menos metade dos temas a gente preenche com uma grade com conteúdos que procuramos e achamos obrigatório estarem no evento.
É como se pegássemos um curso dos principais assuntos, com tudo que alguém tem que saber, e traçássemos uma ementa, preenchendo os palestrantes como se cada um fosse uma aula.
São palestras de base, que trabalham os conceitos e boas práticas.
Sempre vamos ter, por exemplo, uma palestra sobre gestão de conteúdo, uma de primeiros passos em SEO, outra para trazer boas práticas de email marketing, outra com uma introdução à visão geral do Inbound Marketing e por aí vai.
Muitas vezes são temas mais básicos mas que, curiosamente, costumam ter menos candidatos. As pessoas acabam indo muito mais pelo segundo tipo de tema.
Nesse outro lado estão as palestras de temas que não prevíamos. Por exemplo, uma palestra de “X lições práticas que aprendi ao implementar Inbound na empresa Y”, “O que andar de bicicleta me ensinou sobre vendas” ou “Tendências de Marketing para 2020”. São experiências muito válidas e palestras bacanas, que trazem conhecimentos que fogem só da base e conceitos iniciais.
A única observação relevante aqui é que é bem mais difícil avaliarmos e garantir que o conteúdo vai ser bom nesse tipo de tema quando ainda não conhecemos o palestrante, porque o título é uma verdadeira caixa preta.
O que pode vir dali é imprevisível, seguindo muitos caminhos e conteúdos diferentes (que podem ou não estar alinhados com o que queremos).
Quando um palestrante já esteve em nossos eventos e teve um ótimo histórico, fica mais fácil dar esse “voto de confiança”.
Para quem ainda não conhecemos tão bem e está se candidatando, se torna mais importante ainda dar as indicações de todas as credenciais para provar que o conteúdo vai ser bom.
Indicar links de conteúdos que o palestrante já produziu e resultados que já teve, trazer vídeos e histórico de palestras.
A avaliação tem que ser muito mais profunda. Nós não vamos dar a palestra “as 10 lições fundamentais de branding” para alguém de uma pequena agência que nunca foi reconhecida por isso e não teve nenhum caso de super destaque, por exemplo.
Passo 3 – Avaliação do palestrante
Se o tema parece legal, a etapa seguinte é avaliar o que apresentamos como item 2 nos critérios de avaliação: a capacidade de apresentação.
Há um caminho que é alguém do comitê já ter visto a pessoa se apresentando algumas vezes, mas isso é um pouco mais raro. O mais comum é recebermos (ou procurarmos) por vídeos das pessoas palestrando.
É incrível a quantidade de candidatos que têm alinhamento de tema mas que não encontramos um único vídeo palestrando, o que gera eliminação na hora (não podemos correr riscos de ter alguém que palestra mal em um evento como o RD Summit, em que as expectativas do público são altíssimas).
Se você não tem a gravação de um evento, não há custo financeiro em fazer em casa mesmo a gravação de uma palestra com o celular e os slides na TV. E isso muitas vezes já é o suficiente para mostrar seu valor.
Passo 4 – Discussão em comitê
Para tomar as decisão de escolher alguém ou não há um comitê, em que faço parte junto com outras pessoas, de diferentes cargos e áreas na RD.
Nós dividimos as avaliações iniciais dos candidatos entre essas pessoas. Quando um nome é aprovado ou indicado por alguém, essa pessoa leva para a aprovação do grupo todo.
Um nome não é rejeitado ou escolhido por mim ou por outro membro, é uma decisão de grupo.
Passo 5 – Status do palestrante
Com a avaliação do comitê, um palestrante pode entrar em 3 tipos de status: Aprovado, Reprovado ou Em Espera. Os aprovados e rejeitados são as unanimidades, para o sim e para o não.
Os “em espera” são os que nos dividimos e ficam em uma espécie de fila. A gente vai avaliando mais nomes e preenchendo a grade.
Ao final, costuma sobrar uma quantidade de vagas e temas, em que os palestrantes em espera voltam para uma repescagem.
Por isso que para muitas pessoas a resposta definitiva acaba se arrastando muito e demorando, porque ainda há uma chance.
Nós gostaríamos de dar um feedback detalhado a cada um, mas infelizmente é muito difícil.
São milhares de nomes avaliados num espaço muito curto de tempo.
Isso tudo no mesmo período em que fazemos todas as nossas outras atribuições “normais” do dia a dia (só uma das pessoas do comitê tem curadoria como cargo de fato, as outras trabalham em outras atribuição e fazem uma dedicação paralela).
Em resumo, é assim que escolhemos nossos palestrantes. Esse é o processo e esses são os critérios para cada um dos nomes que está lá!
Os palestrantes recebem passagem, hospedagem e ingresso para os 3 dias, além de ingresso para 1 acompanhante.