A disseminação do coronavírus afetou a economia mundial e as previsões dos maiores bancos indicam que a recessão já é global.
No entanto, um mapeamento dos impactos sobre a atividade dos países mais afetados pela pandemia identificou que a crise não traz somente prejuízos aos mercados.
As medidas de combate e prevenção à doença também fomentam o crescimento e a inovação de setores relacionados direta ou indiretamente a estas ações.
Tecnologias ligadas a plataformas de educação, entretenimento online, home office, e-commerce, saúde, telecomunicações, logística e delivery registraram aumento de demanda.
O levantamento é do departamento de inteligência da empresa de educação digital DOT digital group, de Florianópolis.
De acordo com o documento, a China, país onde o vírus surgiu, e a Europa, até semana passada epicentro da pandemia, foram os primeiros a terem de lidar com essa nova crise e, por esse motivo, podem servir ao Brasil como um guia de erros e acertos para além do combate à doença.
Com cerca de um terço da população mundial sem poder sair de casa, o e-commerce e delivery de alimentos, o entretenimento digital via serviços de streaming, a educação online, os serviços de telecomunicações e webconferência e de equipamentos de saúde têm visto a demanda crescer exponencialmente.
“No mundo inteiro, universidades e empresas trocaram aulas e eventos presenciais pelo ensino a distância, webinars, calls e outras práticas digitais. Quando olhamos para o setor produtivo, a educação digital se mostra a melhor aliada para manter a equipe engajada e se capacitando para a retomada da economia, que deve ocorrer no segundo semestre, quando a pandemia já deve estar controlada”, avalia Luiz Alberto Ferla, CEO da empresa.
De acordo com a consultoria global Deloitte, o setor de tecnologia tem sentido menos a crise principalmente por fornecer essas plataformas de educação e entretenimento online e que permitem o home office.
Tecnologias de ponta como Inteligência Artificial, Big Data e Armazenamento de Dados em nuvem estão ajudando a combater o coronavírus e melhorando a eficiência operacional.
Na visão de Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia, “o atual cenário é de reavaliação, ver como as soluções dos diversos segmentos da tecnologia podem contribuir para o combate e prevenção ao vírus, além das ferramentas para a digitalização das empresas, por exemplo. Novas ideias estão surgindo muito rapidamente, mas o propósito maior deve ser ajudar as pessoas, a tecnologia deve ajudar a defender a saúde dos cidadãos”.
E-commerce, delivery e tecnologia aplicada à saúde
Na China, onde os primeiros casos foram identificados, em dezembro, nos dois primeiros meses de 2020 as vendas online representaram 21,5% do total comercializado no varejo de bens de consumo, segundo a consultoria especializada em mercados asiáticos Fung Business Intelligence.
Na Europa, de acordo com o mapeamento do DOT, as vendas de alimentos congelados e de serviços e produtos para a prática de exercícios físicos em casa também dispararam.
Na Itália, em quarentena desde 9 de março, o número de clientes online da rede de supermercados Carrefour já dobrou para 110 mil pessoas.
Na França, a Nielsen Research estima que os pedidos de delivery aumentaram 32% já no começo de março.
No Brasil não é diferente, os aplicativos de delivery estão registrando alta em pedidos e recebendo mais estabelecimentos que estão migrando suas operações.
A Transfeera, startup open banking, registrou, em sua plataforma para validação de dados bancários, aumento de mais de 200% de validações de contas solicitadas por aplicativos de entrega, ou seja, a demanda está em alta, tanto de quem solicita delivery quanto de novos estabelecimentos querendo oferecer este tipo de serviço.
Com clientes do setor como Rappi, iFood e AiQfome, a validação de contas realizada pela fintech previne erros no cadastro de dados bancários e possíveis fraudes, ajudando a eliminar os erros no momento de executar os pagamentos a fornecedores.
O mapeamento também mostra que as ações de enfrentamento ao coronavírus impulsionaram a atualização dos sistemas de serviços médicos, que têm recebido mais atenção, recursos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Um reflexo é o que ocorreu com o preço das ações de empresas líderes em serviços e equipamentos de saúde na China.
Nas duas primeiras semanas em que a doença acelerou, papéis de todos os setores desvalorizaram.
Mas, em poucos dias, os desses dois segmentos já haviam se recuperado e, desde então, aumentaram em média 12%, de acordo com a revista especializada em negócios Harvard Business Review.
Serviços de entretenimento de streaming, como a Netflix, também estão crescendo.
De acordo com dados do Barclaycard, que monitora quase metade das transações com cartões de crédito e débito do Reino Unido, os gastos com conteúdo e assinaturas digitais tiveram um aumento de 12,4% em fevereiro, muito antes do país entrar em quarentena.