Siga nas redes sociais

Search

Formação de talentos em tecnologia

Por Moacir Marafon, vice-presidente de Talentos da ACATE e co-founder da Softplan.


A crise econômica causada pela pandemia do novo Coronavírus levou muita gente ao desemprego, porém o setor de tecnologia segue com uma grande demanda por profissionais. É uma situação paradoxal, ao mesmo tempo em que vemos tantos desempregados, neste setor, existem milhares de posições abertas que não conseguem ser preenchidas por falta de profissionais qualificados. São vagas em todo o país e no mundo para programadores, projetistas de software, especialistas em sucesso do cliente, vendas técnicas e outras áreas da tecnologia e gestão. Para que o setor continue crescendo de forma sustentável, precisamos focar na preparação de novos talentos, que eu chamo de “cabeça de obra” preparada para estas demandas.

O mundo está se transformando numa velocidade como nunca visto. O Covid-19 veio acelerar e criar tendências. Até hoje, ninguém contribuiu tanto para acelerar a transformação digital como o Coronavírus, pois a necessidade de isolamento social para impedir o avanço do contágio nos obrigou a usar ao máximo este meio, sejam as pessoas, para suprirem muitas de suas demandas de forma on-line, inclusive de saúde por meio da telemedicina, ou as empresas, para se manterem atuantes com o mínimo de contato físico. Por trás destas transformações está o uso intensivo da TI. São “programas de computador” que fazem uso de internet, internet das coisas (IoT), big data, computação móvel e inteligência artificial (AI) com algoritmos cada vez mais inteligentes e poderosos. Sabe-se que, quem elabora e dá sustentação a estes programas são os profissionais de tecnologia. Portanto, a demanda por estes talentos vai crescer de forma exponencial, e a tendência acelerada do Home Office, faz com que estes profissionais possam trabalhar para qualquer empresa do mundo sem sair de suas casas.

A Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), ciente deste contexto, busca contribuir com a formação do capital humano para o setor, na certeza de que o conhecimento é a base de tudo.

Em primeira análise, é difícil entender certos números. Enquanto a demanda por estes profissionais é maior do que a oferta, lembrando que são profissões de alto valor agregado, com bons salários e que abre oportunidades reais para empreendedores, os cursos universitários de tecnologia não conseguem formar nem 50% das vagas abertas. Precisamos entender este fenômeno para buscar ações efetivas de engajamento destes novos talentos para estas profissões.

Uma de nossas crenças é de que para muitos jovens, na hora de escolher seu futuro profissional por meio do vestibular, ainda não é claro o que efetivamente é ser um profissional de TI, especialmente, quais as competências técnicas que isto vai exigir.  Muitos jovens pensam que por terem nascido na era das redes sociais e com a facilidade no uso de dispositivos móveis, entendem de tecnologia. Confundem-se quanto ao que é ser um profissional de TI e apenas ser usuário. Diante disso, quando chegam a universidade e se deparam com disciplinas como lógica, cálculo e matemática, acabam desistindo do curso.

Para mudar esta realidade, a ACATE está reunindo os vários atores do mercado, entre eles instituições de ensino públicas, privadas, Senai, Senac, ONGs, empresas de tecnologia e lideranças do setor, discutindo o tema e criando sinergia para estruturar uma jornada completa de formação de novos talentos.

Na primeira fase desta trajetória, precisam ser implementadas estratégias para aumentar a sensibilidade, engajamento e preparo de jovens para que tenham interesse genuíno nesta carreira. Para tanto, é necessário criar condições para que eles tenham acesso à experiências práticas com a profissão em TI já no início do ensino médio. O foco é que possam chegar à Universidade mais preparados e cientes de sua escolha. Ou ainda, que possam fazer cursos de curta duração e já ingressar no mercado de trabalho.

Para isto, temos boas notícias! O SENAI/SC, SENAC e escolas privadas buscam projetos neste sentido, além também da Secretaria de Estado da Educação de SC. Segundo o Secretário Natalino Uggioni, o Órgão está estruturando currículos escolares e ações para que os mais de 205 mil alunos do ensino médio tenham formação e experiências práticas nesta direção. Percebe-se com isso, a grande oportunidade para encaminhar jovens para um futuro brilhante. Acreditamos tanto nisto, e falo com experiência própria, pois eu e muitos colegas de profissão estudamos a vida inteira em escolas públicas, desde o primário, e isso nos abriu oportunidades profissionais e nos transformou no que somos hoje.

Particularmente, comecei meus estudos na Escola Estadual Isolada de Linha Pinhal Preto, no interior de Xavantina, oeste de SC, em que só tinha uma sala e os alunos das quatro series primárias estudavam juntos. Já nesta fase, adquiri a paixão pelos números e pelo conhecimento, e não parei mais. Saí da casa de minha família aos 14 anos para poder continuar os estudos: Ginásio, 2º Grau (Colégio Agrícola), Faculdade (Engenharia Civil), Pós Graduação (Planejamento Econômico e Ciência da Computação), enfim, sempre em escolas e universidades públicas. Há 30 anos sou empreendedor no segmento de Software, com meus sócios Ilson Stabile e Carlos Augusto de Matos. Juntos criamos a Softplan que emprega mais de 1.900 colaboradores.

Voltando ao assunto de formação de jovens talentos, outras organizações e empresas também podem e querem ajudar a instigar esta curiosidade ainda na base, para que o adolescente possa entender as possibilidades e oportunidades que ele tem neste novo mundo. O objetivo da ACATE é ser o elo para que esta cadeia aconteça de forma mais eficiente. 

Segundo uma projeção do Fórum Econômico Mundial, mais de 65% das crianças que estão no Ensino Básico irão atuar em profissões que ainda não existem. Sabendo que a tecnologia muda a cada 18 meses, precisamos implementar o conceito de microlearning, ou seja, pequenas doses de aprendizado em um curto espaço de tempo, e aplicar isto na prática é fundamental.

A questão é: aprender para fazer ou fazer para aprender? São as duas coisas e de forma simultânea. As estatísticas mostram que a teoria do aprendizado respeita a fórmula 70:20:10, em que apenas 10% se aprende no método tradicional, 20% se aprende nas trocas com outras pessoas e 70% se aprende fazendo, ou seja, com as próprias experiências.

Para isto, o setor de tecnologia tem um papel fundamental para criar diversas oportunidades de aprendizado, oferecendo estágios e mentorias para estes alunos já no início da formação. É o nosso given back por tudo o que este novo mundo tem nos proporcionado.  

Não sabemos como o mundo será no futuro, porém, cremos que será diferente, cada vez mais digital e melhor! Acreditamos que, com a sinergia entre estes vários atores, onde cada um faz a sua parte, criaremos projetos estruturados e colaborativos, construindo efetivamente a ponte entre demandas e oportunidades de profissionais para o mundo maravilhoso da Tecnologia. Como consequência, por que não dizer que o primeiro propósito é promover inclusão social de milhares de jovens por meio de uma profissão promissora ou carreira empreendedora, mudando a suas vidas e das futuras gerações.

Fica um importante questionamento a vocês, jovens em definição de carreira: Vamos embarcar juntos nesta promissora jornada? A decisão é sua!

Compartilhe

Tudo sobre economia, negócios, inovação, carreiras e sustentabilidade em Santa Catarina.

Leia também

Receba notícias no seu e-mail