Se antes do coronavírus surgir nas nossas vidas e nos obrigar a readaptar toda a rotina já era desafiador manter as tarefas em dia, agora parece que temos o triplo de funções diariamente.
O fato de não pegar trânsito para se deslocar ao trabalho foi compensado negativamente por uma série de novas funções: os pais precisam agora arrumar tempo para apoiar os filhos nas aulas remotas e, até mesmo, assumir a tarefa de lecionar para os mais pequenos, a casa exige cuidados redobrados com todo mundo em casa, ir ao mercado é ainda mais desgastante com a necessidade de higienização dos produtos.
Basicamente, deixamos de lado a rotina de 8 horas de trabalho, tempo em casa, almoço no restaurante perto da empresa e horário de levar e trazer os filhos na escola para vivermos em um mesmo ambiente no estilo 24X7. O tempo todo, dia após dia conciliamos home office e convivência familiar. Muitos de nós precisam dividir espaço improvisado de trabalho com o cônjuge e os filhos.
Entre os profissionais que têm filhos é comum a aparição dos pequenos entre uma reunião e outra, e a troca bem-humorada dos adultos, ansiosos pelo retorno das aulas assim que tudo estiver seguro o suficiente para isso.
Aliás, se para quem é solteiro ou sem filhos o home office pode ser mais produtivo, para quem vive em família, o caos é geralmente a versão mais identificada nessa rotina.
Não enlouquecer no meio disso tudo não é fácil! E é só com muita organização, planejamento e divisão de tarefas que conseguiremos ser produtivos e eficientes neste novo normal. Mas mesmo com boas práticas, horários bem definidos e até mesmo um local específico para trabalho e aulas, o desafio é diário.
No dia a dia da Ellevo, por exemplo, definimos algumas ferramentas para facilitar o home office. Trabalhar em casa já era uma prática comum para parte da equipe, então a adaptação foi mais tranquila. Além da nossa plataforma para organização do fluxo de demandas, também definimos qual ferramenta usar para reuniões online.
Mas é comum que a maioria das empresas não tenha conseguido se adequar 100%. Nem todas ofereceram aos colaboradores equipamentos adequados e boa parte não consegue acompanhar a rotina de entregas por ainda não estarem alinhadas à transformação digital.
Como reduzir os impactos do ambiente “casa” 24 horas por dia?
Acredito que no âmbito corporativo, ter horários bem definidos de trabalho, uma conversa franca com a família para evitar interrupções em momentos importantes e, claro, tecnologias que auxiliem na organização da rotina são questões essenciais.
Delegar também é fundamental para mantermos a sanidade e evitar a sobrecarga mental e até mesmo física. A divisão de tarefas domésticas precisa estar na pauta da família.
Hoje, mesmo atuando em trabalhos remunerados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres ainda ficam com a maior parte do trabalho da casa, realizando semanalmente oito horas a mais de tarefas do que os homens.
A divisão foi fundamental na minha casa, não só na pandemia, mas uma prática comum desde sempre. Nos últimos meses apenas se intensificou: entre uma reunião e outra coloco roupas para lavar, minha filha ajuda nos afazeres enquanto concilia as atividades escolares e meu marido se especializou nas feijoadas de sábado. Não é tudo 100% tranquilo e fácil, mas o apoio mútuo tem sido crucial para todos cumprirem com suas tarefas.
E além de tudo isso, é neste ambiente 24X7, em que passamos praticamente todo o dia, que também precisamos reservar um tempo de lazer. Tenho visto que muita gente passa o dia todo junto, mas absorto em suas próprias tarefas, que esquecem de reservar um momento para um troca de fato. Estar no mesmo ambiente não significa necessariamente conviver. Ter um momento para conversar com os filhos e o cônjuge, assistir a um filme ou série juntos, ter tempo para descansar dessa rotina maluca. Isso também precisa estar na sua agenda semanal.
Em breve muito da nossa rotina antiga vai voltar. Mas espero que possamos levar boas lições da pandemia, como a importância de se trabalhar como um time mesmo em casa e o quão fundamental são os professores dos nossos filhos.
