Desde que a pandemia do coronavírus começou, foi desencadeada uma verdadeira revolução de costumes. Em função da necessidade de isolamento social, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e, com isso, mudar os hábitos, desde o lazer até a alimentação.
O reflexo já pode ser sentido no bolso. Eletrônicos, livros e produtos alimentícios vêm apresentando altas constantes e chegou ao arroz.
Item indispensável à mesa do brasileiro, o cereal apresentou alta histórica em agosto, chegando a custar cerca de R$ 40 o pacote de 5 quilos. E a tendência é continuar subindo.
Isso porque o preço nas prateleiras do supermercado é apenas a ponta do processo de precificação, que está – em boa medida, atrelado à moeda norte-americana.
Com a cotação do dólar superando a marca dos R$ 5,50 o mercado externo torna-se mais atrativo para os produtores do que o interno.
Assim, entra em cena a lei da oferta e da procura: com mais pessoas procurando pelo arroz e menos cereal disponível, o preço sobe.
Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, aliado a isso, ainda é preciso considerar que a safra anual de arroz sofreu uma queda importante.
Entre março de 2019 a fevereiro de 2020 foram produzidas, aproximadamente, 10,48 milhões de toneladas do grão, número 13,1% inferior ao registrado no ano-safra anterior.
A expectativa para a próxima safra nacional é de um aumento de 6,6% até março de 2021.
Mas não é só arroz que sofre a influência do dólar. Muitos itens de consumo vem de fora e tem seu preço influenciado pela moeda norte-americana.
Ficar de olho no conversor de moedas não é uma necessidade só de quem pretende viajar ao exterior.
Todo brasileiro precisa estar por dentro da cotação do dólar, porque ele está muito mais presente no cotidiano do que pode parecer. E isso vai muito além do pão e do arroz.
O dólar e o bolso brasileiro
“Alta do dólar” é uma expressão que já faz parte da vida do brasileiro que tem o hábito de acompanhar as notícias. Especialmente nos últimos, meses quando a pandemia tornou a submissão do real frente ao dólar uma constante.
O comportamento já era esperado, uma vez que crises sempre acirram os ânimos dos investidores, que se apegam à moeda norte-americana como forma de proteger seu patrimônio, inundando o mercado de reais.
E como ocorre em toda relação comercial: quanto mais pessoas procuram por um artigo, maior o seu valor.
Sem perspectiva de que a crise atual seja debelada e o país enfrentando a maior recessão da história, o dólar deve permanecer em alta.
E o impacto é repassado para o bolso do brasileiro, que tem boa parte de tudo o que consome atrelada ao dólar. Serviços como a conta de luz e as roupas também são impactados pela volatilidade da moeda norte-americana.
Tributos
Outro ponto importante a ser considerado quando se fala sobre o impacto da alta do dólar nas famílias brasileiras é a tarifação. No Brasil há muitos impostos obrigatórios que comprometem boa parte da renda. E a apuração de alguns desses tributos obrigatórios para as empresas considera a variação cambial.
Assim, a alta abrupta do dólar pode gerar fortes prejuízos para os empresários brasileiros cujos negócios estão sujeitos ao câmbio. Não é à toa que tem muita empresa pedindo falência.
O IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e a CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) são exemplos disso, podendo levar a um esvaziamento de caixa para pagamento de tributos de forma desnecessária, a depender do regime de tributação escolhido.
Se o Banco Central não intervier para baixar a taxa de câmbio e os tributos, especialmente dos alimentos que têm uma carga muito alta, a sonhada recuperação da economia em 2021 ficará ainda mais difícil.