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Entrevista: Thiago Bandeira, líder da Endeavor em SC, sobre o apoio aos empreendedores durante e pós-pandemia

Praticamente todos os setores da economia sentiram algum impacto da pandemia, seja ele positivo ou negativo.

Frequentemente surge a pergunta sobre como as empresas estão lidando nesse momento e o que vem depois.

Nesse contexto, entrevistamos Thiago Bandeira, líder da Endeavor em Santa Catarina, sobre o apoio aos empreendedores durante e pós-pandemia.

Considerando uma das maiores crises no âmbito econômico, político e social das últimas décadas, o que esperar de 2021?

Thiago: Essa é uma pergunta que escutamos com frequência em mentorias da Endeavor. Estamos vivendo um momento de muita incerteza em todas as dimensões. Convivemos diariamente com os principais empreendedores e mentes do Brasil, e eles não ousam arriscar um cenário futuro com plena convicção. Certamente, os negócios que conseguirem sobreviver nessa crise sairão mais fortes do que antes. Para que isso seja possível, nós, na Endeavor, em nossa atuação em prol do empreendedorismo de alto crescimento e impacto, temos nos dedicado a duas grandes frentes. Uma delas é acesso a capital, recurso fundamental para acelerar o crescimento das scale-ups. Escolher a melhor forma de financiamento, no momento certo e com as condições certas, é um dos maiores desafios dos empreendedores. Por isso, construímos o Mapa de Acesso a Capital (MAC), um guia inédito no Brasil que oferece conceitos, instruções e boas práticas para acessar nove alternativas de financiamento para empresas, divididas em equity e dívida. A outra é a simplificação tributária. Temos contribuído explicando de forma clara e simples essa questão tão complexa. Desde 2018 atuamos no tema da Reforma Tributária e, neste segundo semestre de 2020, essa pauta será nosso grande foco, dado que é uma das principais agendas para a retomada do crescimento do país. Só ela tem o potencial de aumentar o PIB em 20% (p.p) em 15 anos. Entendemos que, ao tornar o sistema tributário mais simples, transparente e justo, empreendedores poderão investir tempo e dinheiro para inovar, crescer e gerar empregos e desenvolvimento para o país.

Quais foram/são as melhores práticas para o empreendedor se adaptar nesse cenário? 

Thiago: Por não haver uma receita ou roteiro pronto, ficou ainda mais evidente o valor da rede da Endeavor ao promover a troca de boas práticas com quem está vivendo o mesmo desafio. Inclusive, logo após a eclosão da crise em meados de março, lançamos um material que compila as melhores práticas e exemplos da nossa rede para ajudar os empreendedores a navegar pela crise: Benchmarks Endeavor. Neste material, compilamos diversas medidas adotadas por empresas em relação à gestão de crise, trabalho remoto, planos de ação e outros aprendizados da nossa rede.

Quais são os principais aprendizados do material?

  • Funcionários, investidores e clientes estão esperando seu posicionamento: faça de forma precisa, realista e voltada para ação. O que muda na sua empresa diante desse cenário?
  • Aja rápido, não há tempo para subestimar o que está acontecendo. Garanta o distanciamento social do seu time por meio do trabalho remoto.
  • Comunique em excesso. Os dias viraram horas, por isso, demonstre empatia e transparência comunicando o time com mais frequência.
  • Sob stress, as pessoas têm um spam de 12 minutos de atenção, sendo capaz de reter até três assuntos principais. Seja claro, conciso e use apoio visual para todos ficarem na mesma página.
  • Revise seus planos de crescimento para versões mais conservadores e realistas.
  • O surto abre espaço para diversos testes de confiança entre o time e as lideranças da sua empresa. Mas essa confiança só é construída através do diálogo e ações , não proclamações e intenções.
  • Com a mudança de contexto, a empresa precisará pivotar diversas vezes seu modus-operandi. Em momentos assim, será preciso achatar a hierarquia, com especialistas se envolvendo diretamente com executivos seniores, talvez até liderando-os.
  • Há um grande potencial de medo, atrito e conflito. A forma de atenuar essa sensação é garantindo que todas as decisões são tomadas com base nos valores da empresa. 

Que segmentos mais se destacaram nesse momento? Por quê?

Thiago: Não destacaria segmentos, mas sim modelos de negócios. Principalmente os negócios com forte viés de transformação digital, com propostas de valor de migração para uma experiência online ou entrega delivery, facilitando o consumo em casa. No segmento de healthcare, algumas empresas se destacaram com a oferta de novas tecnologias como a telemedicina ou por alguma solução específica para o COVID-19, como a Conexa e Hi Tecnologies, empresas apoiadas pela Endeavor. A educação foi outra área que precisou se adaptar – vimos diversas edtechs com uma solução digital se beneficiando do momento e acelerando o crescimento e exemplos como a Dot Digital, Passei Direto e Essia mostram esse ponto. No varejo empresas de e-commerce desempenharam bem, acompanhamos também de perto por meio das scale-ups que apoiamos, inclusive a VTEX foi considerada a plataforma de e-commerce com maior crescimento no mundo. A Liv Up e Orgânicos in Box, que são empresas de alimentação com um modelo de venda direto para o consumidor também se destacaram, junto com aplicativos de entrega last-mile. Esses exemplos reforçam que alguns modelos de negócios se beneficiam bastante nesse novo normal e houve uma aceleração da transformação digital.

A Endeavor auxiliou empreendedores durante a pandemia? Se sim, como?

Thiago: Logo no início agimos muito rápido ao adaptar o nosso modelo de apoio para um modelo 100% digital. Em seguida, montamos um plano de ação com mais de 40 mentorias coletivas e trocas entre empreendedores sobre as suas principais dúvidas, que naquele momento ainda pareciam sem respostas. Um exemplo foi uma mentoria com os escritórios da Endeavor Itália e Espanha compartilhando a experiência e vivência com o COVID-19 – ser uma organização global nos antecipou um melhor entendimento do impacto do que viria a ser essa crise. Essas mentorias geraram mais de 20 conteúdos que disponibilizamos gratuitamente no site da Endeavor, amplificando o acesso para milhares de empreendedores. Além disso compartilhamos as melhores práticas da nossa rede por meio do material Benchmarks Endeavor – e já foram mais de 16 mil pessoas impactadas pelo estudo. Além disso, também tivemos o trabalho desenvolvido por nossa frente de advocacy – área que trabalha para promover um melhor ambiente de negócios para os empreendedores, e, neste período, especialmente em relação ao acesso a crédito. Articulamos medidas importantes junto à esfera pública, criamos o guia Como Salvar a Inovação no Brasil e também atuamos em prol da aprovação da MP 944, que garantiu condições especiais de financiamento de folha de pagamento para empresas com receita de até R$ 50 milhões.

Há algum plano de recuperação que pensam em aplicar nas empresas que auxiliam? Se sim, como vai funcionar?

Thiago: A crise provocada pela COVID-19 terá um grande impacto, mas principalmente é uma ameaça ao desenvolvimento do país, pois coloca em risco as Empresas de Alto Crescimento (EACs). Segundo o Banco Mundial, EACs são essenciais para geração de empregos, inovação e produção. Hoje, no Brasil, elas representam 0,5% das empresas em atividade, mas são responsáveis por gerar 1,6 milhão de empregos em 3 anos (IBGE, 2018). Por isso, a capacidade de adaptação, inovação e velocidade dessas empresas, e de seus fundadores, será decisiva para a retomada econômica do país no momento pós-crise. Na Endeavor além do trabalho de articular políticas públicas em prol de um ecossistema mais amigável com a frente de advocacy, também temos os programas de apoio direto aos empreendedores dessas empresas, o Scale-Up e Empreendedor Endeavor. Nesses programas apoiamos aproximadamente 300 empresas com o intuito de conectar os fundadores com uma rede de mais de 600 mentores e empreendedores que já passaram por desafios similares e podem ajudar nas dores de crescimento, inclusive durante o período de crise. Acreditamos que é mais rápido aprender com quem já fez para evitar os percalços na jornada empreendedora.

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Fundadora do Economia SC/SP/PR, 4 vezes TOP 10 Imprensa do Startup Awards e TOP 50 dos + Admirados da Imprensa em Economia, Negócios e Finanças 2023.

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