A participação das mulheres no setor de tecnologia em Santa Catarina diminuiu de 2015 a 2019, passando de 27,3% para 24,8%, respectivamente, segundo o estudo feito pela Acate Tech Report 2020. No cenário nacional a queda também é percebida: em 2015 a participação era de 29,5%, já em 2019 caiu para 26,1%.
Com 12.138 empresas atuantes no mercado catarinense, o contraste do percentual entre gêneros é um desafio. Nesse contexto, grupos e iniciativas buscam capacitar e incentivar mulheres em profissões ligadas direta ou indiretamente ao setor.
Na Associação Catarinense de Tecnologia, que promoveu a pesquisa citada anteriormente, o Grupo Mulheres Acate, fundado em 2018 e liderado por Gisele Machado, vem com a proposta de transformação regional, uma vez que a entidade possui polos em todo o estado.
Hoje, com cerca de 80 participantes, o grupo tem diversas conquistas, conforme explica a diretora:
“O grupo acabou de entrar em uma terceira fase. A primeira fase foi a fundação, a estruturação do primeiro canal de contato (WhatsApp) e a identificação das mulheres. A segunda fase tratou de ampliar a estruturação interna do grupo como um todo, bem como das 4 trilhas de trabalho: Conhecimento, Vamos Juntas, Visibilidade e Protagonista. Nessa etapa, além de criar a identidade do grupo, o onboarding das novas participantes, vários canais digitais, também buscamos firmar novas parcerias como stakeholders importantes como Sebrae, Senac, UFSC, Estácio de Sá e os cerca de 20 grupos também relacionados a mulheres que mapeamos em SC e PR. Além disso, na segunda fase dobramos o número de participantes, geramos mais conteúdos e eventos, criamos meios de engajar as participantes, estreitamos o relacionamento do grupo com os demais grupos temáticos e verticais da entidade em toda Santa Catarina e fora do estado, aumentamos a visibilidade nas mídias sociais e na imprensa. Já a terceira fase, que iniciamos agora em setembro, visa mais estratégias e fomentos para as participantes ativas. A partir de agora, com os canais mais assertivos, queremos disseminar a importância da cultura da diversidade, sobretudo as mulheres, nas empresas em Santa Catarina e gerar ainda mais valor e oportunidades para as mulheres”.
Outro ponto mencionado por ela é em relação a ocupação de cargos de liderança na entidade: atualmente, dos cerca de 30 cargos que dispõem, 8 são ocupados por mulheres.
“Quando o grupo foi fundado nenhuma mulher fazia parte deste quadro. A entidade tem sido um ótimo exemplo e vem apostando na diversidade, por entender a importância do tema”, complementa.
A pandemia não foi um impedimento para reunir virtualmente mulheres do ecossistema de startups da capital catarinense. Desde junho deste ano, o Startup Woman promoveu uma série de webinars e reuniões sobre diversos assuntos da área.
“Executamos, de forma voluntária, um grupo de empoderamento feminino com a participação de 15 mulheres conduzido por psicólogas que estão atuando fortemente com essa temática. Temos um grupo de WhatsApp com quase 100 mulheres, no qual trocamos experiências e indicações”, conta Lígia Alface, uma das participantes.
Como tudo é on-line, ela revela que no penúltimo webinar promovido pelo grupo, teve até uma participante do Quênia, país do leste da África.
Os planos para este ano são: chegar a 10 webinars e mais episódios de podcast falando sobre empoderamento e mulheres na tecnologia.
Dentro de uma assessoria de imprensa, também de Florianópolis, a ideia é ampliar a participação e liderança feminina na tecnologia através da comunicação.
Carol Passos, head de assessoria de imprensa da Dialetto e integrante do Tech Power, conta sobre a iniciativa:
“O projeto foi criado em março de 2019 por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia. Antes disso, as integrantes já apoiavam, individualmente, outros projetos com o objetivo de incentivar o protagonismo das mulheres na tecnologia. Ao perceber esta causa em comum entre todas, decidiram criar uma iniciativa mais estruturada”.
O propósito é contribuir para transformar o significado de ser mulher na tecnologia e ampliar a percepção dos agentes do ecossistema sobre a realidade feminina
“Em novembro do ano passado, apoiamos a realização do evento Bruxas da Tecnologia, um encontro promovido em conjunto pelas iniciativas da região. A Tech Power contribuiu com pontes para a viabilização do coffee break e também a divulgação do evento. Os grupos envolvidos foram R-Ladies, PyLadies, JS4GIRLS, Tech Power, GDG Floripa, Pride Meetup, WomakersCode, Technovation Girls, Women Techmakers e Mulheres de Produto”, conta Carol sobre os eventos já apoiados, além do Women TechMakers, Technovation, Inspiring Girls, PyLadies e Mulheres de Produto.
Por conta da pandemia, as ações dos grupos reduziram significativamente, no entanto, elas continuam abastecendo as redes sociais, divulgando vagas no setor, publicando artigos de mulheres que trabalham na área de tecnologia, além de enviar uma newsletter mensalmente e iniciar um podcast.
Mulheres, mães e tecnologia: essas são as características do Tech Moms, criado em março deste ano.
Roberta Lingnau de Oliveira, integrante do grupo, comenta que desde então o grupo já acumula 150 seguidoras no perfil do Instagram:
“Temos o objetivo de atingir o Brasil inteiro, trazendo o protagonismo e a importância de termos mães no mercado de tecnologia”.
Ela acredita que o que precisa ser feito é o investimento desde a formação acadêmica, para atrair mais mulheres para a área da tecnologia:
“Quando me formei, éramos apenas 3 meninas e 19 meninos. Já desde esse momento a gente consegue enxergar que existem poucas mulheres na área. A mudança do mindset é necessária, começando por cada uma de nós. As mulheres precisam reconhecer que, trazendo as suas histórias e trajetória para a área da tecnologia, possibilitam que a inovação seja catalisada”.