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Novo normal para quem? Para quê?

Por Michele Martins, Chief People Officer na Neoway


A pandemia do novo coronavírus chegou derrubando certezas e expondo de uma maneira feroz a fragilidade do ser humano. Não importa que a nossa sociedade tenha avançado tanto, o quanto a tecnologia tenha evoluído e como o mundo digital tenha transformado as nossas vidas, ainda somos organismos complexos suscetíveis a ataques de organismos tão simples como um vírus.

Há aproximadamente sete meses a vida como estávamos acostumados se transformou de um dia para o outro. Os impactos foram sentidos de diferentes formas, pois se a tempestade atingiu a todos, é certo que as embarcações para lidar com o mar revolto se diferenciam imensamente. Indiferente às diferenças, no entanto, após um breve período de perplexidade, seguido de uma inexplicável esperança de que tudo fosse passar rapidamente, muitos se apressaram em nomear o que passamos a viver como o “novo normal”. Mas porque a pressa em normalizar experiências absolutamente particulares e atípicas? Porque buscar a padronização ao invés de simplesmente experimentar o novo, sem precisar lhe aplicar um rótulo de normal?

Se todas as áreas da nossa vida foram bagunçadas, não foi diferente com o mundo do trabalho. Desde muito cedo a (falsa) dicotomia entre salvar vidas e salvar a economia deixou as fraturas existentes ainda mais expostas. Enquanto setores diretamente afetados pela necessidade de isolamento social iniciaram imediatamente uma onda de destruição de postos de trabalho, que está longe de terminar, alguns podem se considerar privilegiados por terem sido impactados positivamente pelo aumento de demanda para suas ofertas. Outros ainda, conseguiram se transformar e até se beneficiar com a mudança brusca de cenário. Se muitos negócios fecharam as portas, tantos outros precisaram se reinventar. Novos modelos de negócio, novas formas de atendimento, novos produtos e serviços e novas formas de trabalho precisaram ser inventados na mesma urgência da necessidade de sobrevivência.

Para os profissionais, os desafios são (des)proporcionais – um número muito maior do que gostaríamos de encarar perdeu a sua fonte de renda; milhares foram lançados em “desafios de superação” para manter seus empregos; e um grupo de sorte se dedica a discussões sobre teletrabalho, o já famoso home office, novas formas de liderar e trabalhar em equipe, manter cultura e engajamento à distância, entre outros. Na mesma tempestade, mas em embarcações diferentes, todos foram expostos às mesmas necessidades: rever sua atuação no mundo, repensar suas crenças, desapegar de qualquer fórmula que tenha tido sucesso até então, e, finalmente, ser mais criativos e inovadores.

Transformação. Reinvenção. Criatividade. Inovação.

Sejamos francos. Não são palavras nascidas na ou da pandemia. Há quanto tempo estamos falando sobre elas? A diferença agora talvez seja o senso de urgência despertado pela iminência de tantos fins – fim de um negócio, de um emprego, ou pior, da vida. A pandemia aumentou a velocidade exigida para o nosso tempo de reação, sob pena do desaparecimento. No entanto, se tem algo que essas palavras tem em comum é que definitivamente elas não se alimentam do que é normal. É possível dizer que são contraditórias, até. Não é possível existir inovação onde impera a normalização.

Então deixo aqui o convite para repensarmos imediatamente essa necessidade de normalizar a realidade na qual estamos imersos. Chamar de “novo normal” o que estamos vivendo não é apenas cruel ao negar os impactos atrozes que a COVID-19 trouxe para a nossa sociedade, mas é também abrir mão da oportunidade de finalmente aceitarmos o convite que o mundo há tempos nos faz, o de que possamos nos transformar e encontrar novas formas de experenciarmos a nossa vida neste planeta.

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