Você sabe o que é open finance? O termo será adotado pelo Banco Central em substituição ao conceito de open banking, pois o BACEN pretende focar não apenas nos bancos, mas na ampliação da inovação para um sistema financeiro aberto como um todo.
Mas, ainda que o conceito tenha começado a ser usado pelo mercado, há muitas dúvidas sobre ele. Você saberia dizer quais são as diferenças práticas entre open banking e open finance?
A Fliper e XP Inc. formularam uma pesquisa com seus investidores e observaram que cerca de 60% dos brasileiros não sabem o que é o open banking e como o modelo, de compartilhamento de dados, pelas instituições financeiras, transformará o sistema financeiro.
Além disso, 57% dos entrevistados afirmaram que não compartilhariam seus dados financeiros com terceiros e 61% do público não conta com o apoio da tecnologia, para administrar seus investimentos.
Para sanar dúvidas, conversamos com quatro especialistas, confira:
1. O que é open finance?
O conceito de open finance permite que, além dos bancos, várias organizações possam oferecer produtos financeiros, obedecendo a regulações pré-estabelecidas, explica Guilherme Verdasca, CEO da fintech open banking Transfeera:
“Isso quer dizer que corretoras de seguros, companhias de câmbio e fundos de previdência, por exemplo, poderão ampliar o escopo no uso de dados dos clientes, possibilitando que tenham independência na escolha de determinado serviço”.
Dessa forma, outras áreas do mercado financeiro também podem se beneficiar do sistema aberto, levando inovação social e uma experiência transformadora ao consumidor final.
Todas as pessoas que forem titulares de contas, sejam empresas ou pessoas físicas, devem ter o poder de direcionar os dados que estão sendo compartilhados pelas instituições financeiras.
Para que o serviço seja oferecido, o cliente deve consentir e os dados precisam estar disponíveis. Nesse sentido, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) vem como uma regulação complementar.
2. Qual é a diferença entre open finance e open banking?
Enquanto o open banking busca mudar a maneira como o sistema bancário funciona, impactando diretamente bancos e fintechs, o open finance amplia essa mudança para todo o sistema financeiro. É uma evolução do sistema original.
Isso é o que explica Gustavo Raposo, CEO e fundador da Leve, fintech que funciona como um benefício e tem como objetivo levar bem-estar financeiro para colaboradores:
“O cliente, que até então não tinha o poder de decisão sobre seus dados, se torna seu próprio chefe, tendo a possibilidade de movimentar suas contas a partir de diferentes plataformas, não só pelo aplicativo ou pelo site do banco, como anteriormente”.
A nova regulação permitirá que todo o sistema seja mais transparente e competitivo. Em resumo, instituições financeiras poderão se concentrar em suas operações principais e empresas de tecnologia terão acesso às suas interfaces, tendo a possibilidade de desenvolver novas aplicações e serviços para funcionarem em conjunto a esses dados.
“Esperamos que seja algo positivo para os bancos, que não conseguem proporcionar uma experiência integrada, e para as empresas de tecnologia, que não possuem escala e recursos como os bancos”, completa.
3. Qual é a situação do open finance hoje e o que esperar para o futuro?
O projeto que deu origem ao open finance já vem sendo estudado há vários anos, sobretudo a partir de 2011, com a criação de novos dispositivos e regulações que impulsionaram o desenvolvimento das fintechs.
Segundo Piero Contezini, CEO da fintech Asaas, “o Banco Central do Brasil tem feito um excelente trabalho nestes últimos anos, no sentido de abrir o sistema financeiro para proporcionar o acesso da população a esses serviços, sempre com foco na redução de custos através da competição”.
Para ele, um dos principais pontos que ainda faltava no mercado era o de livre trânsito de informações entre clientes e instituições reguladas, que será possível com o Open Finance.
Em 2021, a primeira fase já deve ser colocada em prática, com a obrigatoriedade de acesso aos dados mais simples.
“A partir da fase dois, o acesso aos dados individuais dos clientes, como extratos e transferências, deverá permitir que muitas soluções inovadoras sejam desenvolvidas”, explica.
Nas últimas fases, haverá uma abertura completa do sistema financeiro, com todas as operações de todos os bancos podendo ser feitas através de integrações.
“Isso deve revolucionar a forma como as empresas administram seus negócios, como as pessoas vão acessar seus bancos, entre muitas outras coisas que são impossíveis de prever”, reforça o CEO do Asaas. “O futuro quem vai ditar é a criatividade das fintechs para inovar em cima de todo o sistema financeiro, de forma aberta, uniforme e segura”, conclui o empresário.
4. O custo dos serviços bancários e do crédito tendem a diminuir com a entrada do open banking no sistema bancário?
Eládio Isoppo, CEO e cofundador da fintech de reconhecimento facial para pagamentos, Payface, responde que sim: “Existem duas questões principais. Quando aumentamos a competição, aumentamos a transparência dos bancos com o cliente, já que agora ele terá acesso para comparar os serviços e checar todas as informações que precisa. Além disso, com uma maior competição, é natural que o preço dos produtos caia na medida que as pessoas experimentem o open finance. Porém, vale ressaltar que, no mercado, nada acontece da noite pro dia”.
Uma vez que o sistema como um todo estará conectado, proporcionando uma maior eficiência, as fintechs terão certa vantagem competitiva para atrair novos clientes, o que ajudará os preços a baixarem.
“Hoje, conseguir atrair um cliente bom é caro para as startups do setor. É preciso convencer as pessoas a fecharem a conta que elas já têm e levar seus recursos de uma outra instituição para a sua. Então, como será mais barato operar com o open finance, também será possível trabalhar com tarifas menores”, destaca.