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Iniciativas buscam incluir PCDs no mercado de trabalho

Foto: Pixabay

Por Letícia Lichacovski, jornalista e repórter do Economia SC


Aos 4 anos, Marcelo Rocha de Souza perdeu a visão por causa de uma meningite. Apesar de uma recuperação parcial após alguns tratamentos, hoje, aos 55 anos, ele percebe vultos e claridade com seus 5% de visão no olho esquerdo. Após ser declarado como cego pela medicina, ele ficou 5 anos na perícia do INSS até ser aposentado por invalidez.

Porém, em 2014, foi procurado pela empresa de tecnologia Softplan, que precisava de um profissional capacitado em tecnologias web para orientar a equipe de desenvolvimento em tornar as aplicações acessíveis. Recentemente, a empresa criou um banco de talentos exclusivo para pessoas com deficiência.

Para se candidatar ao banco, é necessário ter ensino médio completo, ensino superior (em alguns casos, de acordo com o cargo desejado), laudo médico atualizado e perfil proativo, responsável, comprometido e focado em soluções. 

“Após passar pela entrevista liguei para o INSS para cancelar minha aposentadoria e começar um projeto que me trouxe muitas alegrias e realizações. Já palestrei algumas vezes em eventos de tecnologia de nível internacional e outros voltados a comunidade de pessoas com deficiência”, lembra o profissional.

Ele destaca que “o empresário, ao disponibilizar uma vaga para alguém com deficiência, irá se surpreender, pois nós, profissionais PCDs, buscamos sempre mostrar que temos capacidade e, com isso, superamos as expectativas”.

Marcelo integra um grupo de quase 22 mil de pessoas com deficiência colocadas no mercado de trabalho em Santa Catarina, seguindo o que prevê a Lei de Cotas. Das 37.922 vagas obrigatórias para pessoas com deficiência, 58,35% estão preenchidas. No entanto, 15.975 profissionais catarinenses ainda aguardam por uma oportunidade.

Na visão da psicóloga Jéssica Mendes de Carvalho, paraplégica há 12 anos em decorrência de um acidente de carro, é necessário entender que a deficiência é uma pauta humana antes de ser corporativa, permeada por barreiras estruturais, comunicacionais e atitudinais:

“Ficar fora do mercado de trabalho resulta em perda da inserção social e da independência financeira. Traz ao profissional a sensação de inutilidade e a frustração por ter seus direitos violados. Nos casos mais graves, pode desencadear depressão”.

Ela ressalta a importância do mercado de trabalho ter o conhecimento sobre a singularidade das deficiências e dar aos PCDs “acesso às oportunidades de crescimento e desenvolvimento no ambiente profissional como qualquer outro profissional”.

Desde 2015, algumas iniciativas do estado vêm buscando ampliar a discussão de inclusão social, além de aproximar empresas empregadoras. 

É o caso da Semana Inclusiva, realizada em setembro e organizada pelo Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT) e pela Superintendência Regional do Trabalho, vinculada ao Ministério da Economia, em parceria com a Assembleia Legislativa do estado e mais de 40 entidades governamentais e não governamentais.

Conforme o Procurador do Trabalho, Piero Menegazzi, “eventos como esse são bastante importantes porque trazem abordagens diversificadas. O objetivo principal é a aproximação entre empregadores que buscam a contratação dessas pessoas (com deficiência e beneficiários do INSS), que querem ingressar no mercado de trabalho. Mas também trabalhamos para tirar essa pauta da zona de invisibilidade, colocando-a em discussão com a participação das pessoas com deficiência”.

Até 2014, segundo o procurador, o estado tinha apenas 35% das vagas de trabalho destinadas às pessoas com deficiência:

“É muito importante que haja ocupação desses espaços com igualdade de condições entre pessoas com e sem deficiência. Deixar de oferecer só aquelas vagas que formam a base da cadeia hierárquica da empresa, quase que presumindo a falta de qualificação de pessoas com deficiência. Ou seja, também buscar esses profissionais em escalões mais avançados na cadeia administrativa das empresas, tornando um ambiente cada vez mais inclusivo e acessível”.

De 3 a 5 de dezembro, o MPT-SC vai colaborar com o Reconecta, evento online voltado ao debate do tema, com o objetivo de ampliar e fortalecer o processo de inclusão das pessoas com deficiência na criação, produção e exposição de conteúdos. 

Outras iniciativas, como o PCD em Foco, de Palhoça, tem atuação constante para a inclusão de profissionais com deficiência no mercado de trabalho. 

Segundo o CEO e fundador do site, Neandro Perini, a criação do portal veio por sua percepção profissional:

“Sempre atuei na área organizacional, dentro do RH de grandes empresas, e sempre foi desafiador atrair e contratar esse público. Percebi de perto a dificuldade e, infelizmente, a discromicação em alguns casos”. 

O PCD em Foco foi desenvolvido em 2016 para facilitar a conexão das pessoas com deficiência às empresas. Quatro anos depois de implantada, a iniciativa percebe a evolução. 

“Ajudamos a amadurecer esse mercado. Atualmente, temos grandes empresas nos apoiando, como Rede Angeloni, Qualirede, Resort Costão do Santinho entre outros clientes/parceiros. Efetuamos centenas de recolocações por ano, principalmente em SC, mas também atendemos clientes de outros estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, mas ainda existem muitos desafios”, destaca Neandro.

LEI DAS COTAS

Criada com o objetivo de reduzir a desigualdade de oportunidades que existe entre os profissionais com e sem deficiência, a Lei 8.213/91 prevê que toda empresa com 100 ou mais empregados deve destinar de 2% a 5% dos postos de trabalho a pessoas com deficiência e reabilitados do INSS.

Na prática, isso quer dizer que empresas que possuem de 100 a 200 empregados devem reservar 2% de suas vagas, entre 201 e 500 empregados, pelo menos 3%, entre 501 e 1000 empregados com 4%, e empresas com mais de 1.001 empregados, 5% das vagas.

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