Por Valmir Marques, Diretor de Operações na Softplan
O ano de 2021 deve transcender nas três esferas de governo, municipal, estadual e federal, as principais tendências geradas pela aceleração da transformação digital no poder público e os benefícios promovidos à população.
Desde março de 2020 ampliou-se o uso da tecnologia em várias frentes e as oportunidades são variadas, contemplando o desenvolvimento de ferramentas e softwares de ponta para transformar processos físicos em digitais e a personalização de serviços públicos destinados a melhorar a relação entre os governos e os cidadãos.
Neste ano, a expectativa é animadora quando a espera de um governo ainda mais tecnológico e capaz de tornar a gestão pública mais dinâmica, transparente, eficiente e inclusiva. Entre as tendências tecnológicas de destaque em 2021 quando fala-se de governo digital estão a ascensão dos processos digitais e digitalização de serviços, os conceitos de governo omnichannel e mobile first e a tecnologia Big Data. Explico:
- Digitalização dos Serviços
A primeira tendência é a própria digitalização dos serviços públicos, que se intensifica, e deve fazer com que cada vez mais os cidadãos busquem atendimento online para demandas que antes só seriam resolvidas em agências físicas governamentais. Isso inclui a carteira de habilitação digital, a carteira de trabalho, o seguro-desemprego e pedidos de auxílio emergencial e da aposentadoria por tempo de contribuição. Mais de 80 milhões de brasileiros acessaram os serviços do governo federal digitalmente em 2020, mostrando o potencial da adesão digital. Exemplos bem-sucedidos englobam o Cartão Nacional do Idoso e da Pessoa com Deficiência que teve o tempo de emissão reduzido de 40 dias para 10 minutos e um projeto de São Bernardo do Campo, que utiliza a plataforma de processos digitais da Softplan, Solar BPM, e disponibiliza mais de 250 serviços digitais do município ao cidadão.
- Governo Omnichannel
A integração de soluções multicanais, que conecta meios físicos e digitais, é uma estratégia que cabe aos governos, especialmente quando tratamos da convergência dos serviços online e a necessidade de pontos físicos e servidores para fazer mediação. Essa é uma tendência que já tem como exemplo o uso de totens em espaços públicos para prestação de serviços aos contribuintes, como o Poupatempo de São Paulo. Outro exemplo vem de Florianópolis, onde a Inteligência artificial, por meio de assistentes virtuais, promove uma experiência guiada e intuitiva capaz de ajudar nos atendimentos relacionados com o suporte da Nota Fiscal Eletrônica.
- Mobile First
Essa tendência tem relação com a popularização de ferramentas pensadas para resolver as demandas dos cidadãos, em poucos cliques, no alcance das mãos. Pesquisas indicam que os dispositivos móveis são os meios mais utilizados para acesso à internet no país e isto faz com que, naturalmente, o conceito de mobile first/government ganhe força. A utilização e a priorização desta tecnologia altera a abordagem da gestão pública, uma vez que os cidadãos e empresas querem cada vez mais ter acesso ao governo de forma rápida e facilitada. Um bom exemplo é oIPTU Floripa, da capital catarinense, um aplicativo web e mobile que permite o acesso rápido e fácil de um serviço imprescindível para os munícipes.
- Big Data e Análises Preditivas
A criação de plataformas analíticas para apoiar esforços em big data e obter análises e informações estratégicas para a tomada de decisão também são uma tendência na era do governo digital. Isso porque, o uso de soluções de computação em nuvem possibilita gerar um grande volume de dados, que, aliados a uma análise aprofundada das informações, contribui para tomada de decisão mais assertiva nas empresas. Um contraponto serão as medidas robustas de cibersegurança que precisam ser implementadas a fim de garantir a confiabilidade das futuras plataformas e também estar em conformidade a nova lei geral de proteção de dados (LGPD) que entrou em vigor em setembro de 2020 a fim de proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade do cidadão O Estado já possui um grande Data Lake com as informações de diversos órgãos da união, possibilitando, assim, o desenvolvimento de novas ferramentas de Big Data como os já existentes GovData e Sinesp Big Data.
A sensibilidade dos governos para promover uma gestão pública mais digital, eficiente, econômica e transparente, é essencial para que a transformação tecnológica e a melhoria dos serviços públicos prestados à população sejam, de fato, efetivos e essas tendências se consolidem.
Brasil e a Agenda Digital
Um grande passo em direção a um Brasil mais digital foi dado em abril de 2020 com o decreto federal nº 10.332, já no contexto da pandemia de Covid-19, e que instituiu a Estratégia de Governo Digital para os anos de 2020 a 2022 nos órgãos que compõem a administração pública federal.
O decreto detalha o Plano de Transformação Digital com ações voltadas para a transformação digital de serviços, a unificação de canais digitais e a interoperabilidade de sistemas, tornando o Governo Federal mais acessível aos brasileiros.
Além disso, o documento instaura as normas para formulação de um Plano Diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação e de um Plano de Dados abertos cujo objetivo é ofertar as tecnologias e os serviços compartilhados para a transformação digital.
Com essa mobilização conseguimos pensar na evolução de uma série de benefícios, dentre eles o fornecimento de serviços públicos digitais simples e intuitivos facilitando o exercício da cidadania, amplo acesso à informação e aos dados abertos governamentais; melhoria na identificação digital ao cidadão e também o incentivo e a promoção de políticas públicas por meio do uso de inovação e novas tecnologias.
As estratégias voltadas aos serviços públicos digitalizados já apresenta resultados, conforme apontam os números do Portal gov.br, do Governo Federal, que já contabiliza ao menos mil serviços públicos ofertados à população de forma digital entre 2018 e 2020. A expectativa é de que nos próximos dois anos todos os 3,8 mil serviços federais estejam digitalizados e, até 2025, os serviços digitais do governo rendam uma economia de cerca de R$ 38 bilhões aos cofres públicos.
Barreiras precisam ser vencidas
Apesar da tendência de crescimento e dos esforços em torno da transformação digital, ainda é preciso superar a desigualdade que afeta o acesso à internet no país. Em recente pesquisa publicada em novembro pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros, “TIC Domicílios 2019”, a pandemia Covid-19 tornou mais evidente a exclusão digital de parcela significativa da população brasileira.
Segundo o levantamento, em 2019, o Brasil possuía cerca de 134 milhões de usuários de Internet (74% dos brasileiros com dez anos ou mais). Ou seja, uma a cada quatro pessoas não usava a rede no país, o que representa aproximadamente 47 milhões de não usuários. Apesar disso, é notável o crescimento do uso da internet entre a população: entre 2018 e 2019 houve acréscimo de 5,2 milhões de domicílios com acesso à internet, chegando a 50,7 milhões de lares (71% do total de moradias no país).
Quando se refere ao governo digital também há avanços. Segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, do NIC.br, 68% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais utilizaram serviços de governo eletrônico em 2019, confirmando uma tendência de alta nos últimos anos. Os serviços públicos online mais demandados foram os relacionados a trabalho e previdência (36%), impostos e taxas (28%), documentos pessoais (28%) e Saúde (23%).
Outro relatório, intitulado “Digital by default: A guide to transforming government”, da McKinsey & Company, mostra que é crescente a busca da população por serviços mais digitais nos governos, em busca de comodidade e efetividade. O estudo aponta que a transformação digital no governo pode gerar economia de mais de US$1 trilhão anualmente em todo o mundo.
No entanto, para que essa transição dê certo e se traduza em economia e oportunidade à gestão pública é preciso investir em estratégias claras, que envolvam pulso firme das lideranças, planejamento e organização, investimento em talentos e cultura. Esses fatores em convergência com a agenda digital são a senha para atualizar e melhorar os serviços públicos e impactar de forma positiva na vida dos cidadãos.