A importação de produtos médico-hospitalares cresceu consideravelmente nos últimos meses devido à pandemia.
A catarinense Tek Trade, referência em comércio exterior, importou um número cinco vezes maior em valor de produtos de saúde, incluindo os testes de coronavírus no último ano.
O volume total passou de R$ 3,14 milhões em produtos médico-hospitalares importados em 2019 para R$ 16,145 milhões em 2020.
Para 2021, a empresa pretende ampliar ainda mais a importação de materiais voltados à saúde, especialmente com o início da vacinação.
“A pandemia do coronavírus demonstra como o país precisa repensar as tarifas de importação elevadas para os mais diversos produtos. A recente redução do imposto sobre seringas e agulhas é válida, porém também é preciso ter um plano de longo prazo com estímulos que gerem transformações à indústria, já que atualmente a produção local não supri as necessidades do mercado nacional. Com mais de 10 anos de atuação em comércio exterior posso afirmar que não são as sobretaxas em produtos estrangeiros que farão a indústria brasileira crescer porque a produção nacional também depende de incentivos. Cerca de 80% do volume total de importação é destinado a indústria, ou seja, o fabricante precisa importar matéria-prima e maquinário para otimizar sua linha de produção”, explica o sócio-diretor da empresa, Sandro Marin.
Redução do imposto sobre seringas e agulhas
Em função da pandemia, o Comitê-Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar o imposto de importação até 30 de junho de seringas e agulhas que entrarem no Brasil já que os materiais poderão faltar tanto em hospitais e laboratórios, como em distribuidoras no Brasil, com o início da vacinação, que vai gerar uma demanda acentuada neste momento.
Até agora, esses produtos pagavam 16% de alíquota para entrar no país.
Entretanto, apesar da política do governo de zerar o imposto de importação sobre seringas e agulhas, o custo de chegada do produto ao Brasil poderá ser mais um entrave devido ao aumento recente de mais de 450% do frete marítimo.
Aumento do frete marítimo limita importação
O executivo destaca que a redução da alíquota pelo governo federal de seringas e agulhas é uma tentativa de equilibrar a conta uma vez que o frete marítimo chegou num patamar absurdo, nos últimos meses:
“No início da pandemia tivemos uma redução do valor dos fretes marítimos ofertados por conta da falta de produtos, além do aumento considerável do frete aéreo pela necessidade de velocidade em receber produtos ligados ao Covid-19. Com a retomada da produção, especialmente por indústrias da Ásia, houve um acúmulo de cargas para reabastecer o mercado. E como, infelizmente, a movimentação de containers no mundo é um oligopólio dominado poucas e grandes empresas, dificilmente o preço irá voltar ao que era praticado anteriormente”.
Para se ter uma ideia, em uma cotação realizada pela empresa, um kit de seringas e agulhas de 3 ml estéril em embalagem individual sai por aproximadamente R$0,18 centavos na China.
Entretanto, o custo final dos materiais no Brasil, mesmo com os impostos zerados, poderá ser o dobro maior pelo alto custo logístico.
Outro fator impactante, segundo o diretor, é a arrecadação do Adicional de Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), cuja arrecadação é administrada pela Receita Federal:
“A taxa de AFRMM também precisa ser revisada e levada em consideração porque o seu recolhimento está ligado ao valor do frete marítimo (representando exatos 25% do valor cobrado pelo frete marítimo de longo curso). Isso significa que se o transporte fica mais caro essa taxa acompanha, influenciando fortemente nas despesas do processo”.