Minha filha Marcella trouxe um questionamento dias atrás. Jovem, ela é cliente de um banco digital pela praticidade, pois faz todas as operações pelo aplicativo e, principalmente, pela tarifa zero para manter a conta e o cartão de crédito.
E me perguntou qual a diferença entre um banco digital e uma cooperativa de crédito que oferece serviços digitais. Afinal, a tecnologia está hoje ao alcance de todas as instituições financeiras e todo mundo oferece facilidades virtuais, como o banco na palma da mão via aplicativo, o cartão provisório para mais segurança nas compras online, a assinatura digital e outras.
Ser 100% digital, portanto, não é mais exclusividade de um banco como Nubank ou Original. Então, perguntou Marcella, onde está a diferença?
Respondi a ela que, na minha visão, os bancos digitais e as cooperativas de crédito são bem diferentes, mas por outras razões.
Na atual etapa de entrada no mercado brasileiro, os bancos digitais não priorizam o retorno financeiro. O objetivo número um é conquistar clientes e ganhar valor pela participação no bolo do mercado. A rentabilidade virá lá na frente, na fase de consolidação do negócio, mas é certo que virá.
É impossível evitar a cobrança de tarifas e juros à medida que as operações financeiras forem se tornando mais complexas. Afinal de contas, todo banco digital é um banco, só que com uma estrutura mais enxuta.
Numa cooperativa de crédito, o cooperado entra pela afinidade e pelas vantagens de participar. Enumero algumas: tarifas mais baixas, participação nas sobras ao final de cada exercício, possibilidade de interagir nas assembleias e fazer parte das decisões, manter o dinheiro circulando no lugar para girar a economia local, retorno à comunidade através dos projetos dos responsabilidade social e outras coisas que só o cooperativismo tem.
A tendência é o cooperado permanecer porque vê sentido em fazer parte de tudo isso, ou seja, o propósito.
Outro ponto importante: para o público jovem, ainda com baixa demanda de transações financeiras, um banco digital atende muito bem. Porém, quando o cliente começa a ter outras necessidades, como financiar a casa ou o carro, pagar uma pós-graduação, ter um bom plano de previdência privada, escolher o seguro de vida ou do imóvel, investir em saúde e segurança para a família, vai precisar de serviços mais complexos. E isso terá custos, até mesmo no banco digital.
É claro que o banco digital cumpre um papel importante para desconcentrar o setor bancário do país. Não podemos esquecer que os cinco maiores bancos (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander) detêm 81% dos ativos totais do segmento, de acordo com o mais recente relatório do Banco Central (BC), publicado no ano passado.
Para dar mais liberdade de escolha e promover a inclusão das pessoas no sistema financeiro, é preciso reduzir essa concentração, uma meta que o próprio BC assumiu como prioridade.
Ainda assim, é preciso entender que existem diferenças entre um banco digital e uma cooperativa de crédito com serviços digitais. Dentro do planejamento financeiro da minha filha Marcella, até o momento, as duas opções fazem sentido.
Ela optou por ter conta em um banco digital para as operações do dia a dia, mas não abre mão do relacionamento com uma cooperativa de crédito, onde cuida do futuro com a previdência complementar. Ou seja, ela é parte integrante desse movimento transformador da sociedade chamado cooperativismo.