Por Adriano da Silva, administrador e sócio da Biolchi Empresarial
Quando uma crise acontece, nem sempre o que se segue é uma recuperação uniforme dos diferentes setores e agentes econômicos. Há casos em que a instabilidade evolui para uma representação em forma de “K”. Criada pelo professor Peter Atwater, da Universidade de Delaware (EUA), essa tese retrata eventos adversos com dois tipos de resultados: os vencedores, caracterizados pelo traço ascendente da letra; e os perdedores, simbolizados pela parte inferior e descendente.
Trata-se de um cenário muito parecido com o que estamos vivendo durante a pandemia. Informações do IBGE sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 evidenciam os caminhos opostos em que andam diferentes setores. O agronegócio e os serviços foram os que mais cresceram na comparação com o ano anterior, puxados pelo comércio e as atividades imobiliárias. Na contramão, a indústria de transformação e a construção civil apresentaram queda. Vivemos hoje o desenho perfeito da teoria de Atwater.
Mas a crise não terminou. Relatório divulgado pela Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal, apresenta um cálculo sobre as paralisações econômicas por consequência da Covid-19 — e que vão influenciar diretamente o PIB deste ano. O documento aponta que uma redução de 50% na atividade pelo período de 30 dias pode ocasionar a perda de um ponto percentual no resultado previsto, terminando 2021 com crescimento de 2%.
Ao que tudo indica, as consequências da pandemia e a retomada econômica serão completamente diferentes nesses dois eixos — os traços da letra “K”. A grande dúvida é sobre o resultado da soma das realidades opostas: que volume de atividade econômica teremos depois que a ameaça do coronavírus for superada? É difícil prever qual dos dois polos prevalecerá. Os opostos se anularão, se complementarão ou algum deles se destacará? Esperamos pela resposta que, com a chegada da vacina, logo se insinua no horizonte do mercado.