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Economia SC Drops: como o setor cervejeiro driblou a pandemia e como SC se destaca nesse cenário

Foto: divulgação

Nesta entrevista com Carlo Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), o Economia SC Drops conversa sobre a mudança no consumo de cerveja do brasileiro durante a pandemia, como isso impactou as decisões do setor cervejeiro e como Santa Catarina se destaca nesse cenário, confira abaixo:

A pandemia afetou de que forma o setor cervejeiro no Brasil? O consumo aumentou ou diminuiu desde o isolamento social? A indústria estava preparada para atender o mercado?

Carlo: Afetou bastante, principalmente nos hábitos de consumo. Com o distanciamento social, as atividades em bares, restaurantes, pubs e eventos (onde o consumo era alto) acabaram sendo suspensas. Então o consumo acabou sendo resumido às casas e, com isso, houve um crescimento do autosserviço e dos e-commerces. O consumo em litros não teve uma variação muito grande, mas a forma de adquirir mudou radicalmente. A grande indústria estava mais preparada e habituada a vender nos mercados e supermercados do que as cervejarias artesanais. Isso acarretou em um forte decréscimo de resultado para as cervejarias independentes. Muitas delas tiveram que se adequar para manter as operações. 

Como as cervejarias artesanais estão driblando esse momento? Houve abertura ou fechamento de negócios do setor?

Carlo: Cada uma tomou medidas que cabem à sua operação. Mas, de forma geral, tiveram que buscar novos canais de venda e distribuição, apostaram em contato direto com os clientes, novas embalagens para atender outros canais de compra. Os dados do ano ainda não foram divulgados, mas acredito que tenhamos um número de abertura de cervejarias ainda acentuado em virtude do processo de implantação, que não é rápido. Muitas plantas que começaram a ser planejadas em 2019 iniciaram as atividades em 2020, então com certeza nasceram novos negócios. Entre os que já estavam ativos, foram poucos fechamentos,– muitas suspenderam a operação, pararam suas plantas, reduziram ao mínimo viável. Nesta cadeia, os pontos de vendas foram imediatamente mais afetados, já que a indústria tende a segurar um pouco mais pelo investimento alto feito na sua abertura. 

Naturalmente que a oferta de cervejas artesanais aumenta, a procura por produtos diferentes das marcas tradicionais também cresce. Qual o estilo favorito do brasileiro? A tendência é o consumidor beber de marcas artesanais?

Carlo: O estilo mais vendido no Brasil ainda é a Pilsen, ou de forma mais geral, as lagers. São cervejas leves e refrescantes, que estão alinhadas com o hábito de consumo e com o paladar do público. É um processo que está mudando, o que não acontece de um momento para o outro. Não acredito que chegaremos a ter 50% das vendas em outros estilos em um médio prazo, mas há uma movimentação gradativa para outros estilos. Nos últimos dez anos isso acelerou bastante. A tendência do consumidor mundial é migrar para produtos com mais intensidade de sabor, de aroma, de textura e que se relacionem com o local onde eles vivem naquele momento. Isso vem acontecendo paulatinamente. A pandemia atrasa a disseminação desse comportamento, embora eu acredite que a valorização local é um movimento consolidado e tende a seguir. 

Quais são os polos cervejeiros no país? O que faz SC se destacar nesse meio?

Carlo: O Sul e o Sudeste concentram o maior número de cervejarias. No Rio Grande do Sul, a concentração é no entorno de Porto Alegre e na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, no Vale do Itajaí. No Paraná, além da região de Curitiba, há um polo forte no Noroeste, em Maringá. Em São Paulo, as regiões que se destacam, além da central, são Ribeirão Preto e Sorocaba. Belo Horizonte e Juiz de Fora, em Minas Gerais, também são polos. Podemos citar, também, a Serra Fluminense, como um polo forte no Rio de Janeiro. O que diferencia Santa Catarina de todo esse contexto é a tradição, a história e o fato de o estado ter uma força na cadeia cervejeira: temos, além de cervejarias, plantadores de lúpulo, maltarias, empresas de leveduras, produtores de equipamentos, muitas casas especializadas, eventos dedicados ao setor e conhecimento. A ESCM faz parte disso, sendo a única instituição de ensino superior dedicada à cerveja na América Latina com sede em Blumenau (SC). São mais de 11.500 alunos formados em sete anos e cinco países, a partir do conhecimento que parte daqui. 

A inovação pode ser usada como fator primordial para uma marca se diferenciar no mercado. Acontece o mesmo no setor cervejeiro? Que tipo de inovação está presente nesse segmento?

Carlo: Sim. A inovação é um fator primordial e a indústria cervejeira é conhecida por levar isso para o produto. As cervejarias são o setor que mais registra novos produtos no MAPA. Dados de 2019 mostram que foram 9.950 pedidos só naquele ano, a segunda categoria era polpa de fruta com 2.535 registros. Desde a pandemia, acredito que ela esteja menos no produto e mais na estratégia: nos canais de distribuição, embalagens, comunicação com o cliente. 

A Catharina Sour, que nasceu em SC, ganhou o mercado? O estilo está entre os apreciadores?

Carlo: A Catharina Sour fez com que as cervejas ácidas ganhassem o mercado brasileiro. Ela tem muito a ver com a brasilidade, a tropicalidade, com as frutas e vai fazendo bastante gente experimentar. Muito pela curiosidade de um estilo novo e adição das frutas e também por provar algo que o consumidor não identificaria como “cerveja” até pouco tempo, quando ele estava muito habituado a encontrar apenas as lagers das grandes indústrias nas prateleiras. É uma marca muito forte, que tem a ver com o estado e que tende a se consolidar nos próximos anos.

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