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Mães executivas: como mulheres lidam com a maternidade e o mercado de trabalho

Foto: Pexels/Pixabay

A demissão não é uma exceção na volta da licença maternidade, o mercado de trabalho, de maneira geral, não está preparado para abraçar as mães.

Prova disso, é a pesquisa Licença maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil, da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EPGE), que indica que quase metade das mulheres, cerca de 48%, ficam desempregadas em até um ano após o parto.

Os motivos para a saída são inúmeros: demissão, falta de vagas em creches, ou até mesmo renda insuficiente para contratar alguém para cuidar da criança.

Além disso, no Estados Unidos, de acordo com análise do Federal Reserve de San Francisco, cerca de 1,4 milhão de mães  deixaram o mercado de trabalho em decorrência da pandemia.

E, mesmo com a economia melhorando, a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinha ainda está impedindo o retorno das mulheres ao mercado.

Os desafios de maternar e trabalhar são muitos, para além de permanecer no mercado, ainda vemos poucas mães líderes nas empresas. 

PANDEMIA E A INSTABILIDADE TRABALHISTA

No Brasil, os impactos da pandemia não apenas afetaram a saúde da população, como também a economia do país. Neste cenário, o Governo Federal sancionou a Lei 14.020/2020, instituindo o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

Vigente apenas enquanto durar o estado de calamidade pública, ele permite uma redução proporcional de jornada de trabalho e de salário, além da possibilidade de suspensão temporária do contrato trabalhista.

Para garantir a proteção e estabilidade às gestantes, a Lei assegura seus empregos. Caso a demissão seja inevitável, a mulher tem direito ao pagamento do benefício.

Apesar da crise sanitária ter agravado a instabilidade trabalhista, ela não é a única origem de insegurança de recém-mães, como aponta pesquisa da FGV

Após o nascimento de sua filha, Olívia Biagi Raymond teve receio de não ter mais espaço no mercado de trabalho:

“Busquei um novo desafio pouco tempo após o nascimento da Betina, mesmo estando segura no emprego anterior. Vi muitas colegas voltarem de uma licença maternidade e perderem seus cargos, então eu estava curiosa para saber como seria, quais questionamentos poderiam ser levantados”.

Um dos processos seletivos que ela participou foi para liderar a equipe de marketing da Prevision, construtech para planejamento e gestão eficiente de obras.

“Eu sei que o ramo tecnológico e da construção civil é majoritariamente masculino, então estava apreensiva. Mas fui surpreendida de forma extremamente positiva, ser mãe jamais foi um ponto negativo para eles”, complementa. 

Isso não é fato ao acaso, a construtech que a contratou também foi co-fundada e é dirigida por uma mulher, que valoriza a competência em primeiro lugar.

Olívia considera que a necessidade, assim como a capacidade de ser extremamente multitasking, está presente tanto enquanto mãe, quanto como líder de uma equipe, e isso foi apreciado pela CEO e co-fundadores da Prevision.

“Nós, mães, aprendemos a fazer nosso tempo render muito mais e temos maior assertividade em nossas atividades diárias. Além de empatia para lidar com os desafios do time e apoiá-los em seus desenvolvimentos. Ser mãe não diminui nenhum pouco meu desejo e determinação em bater as metas da empresa, pelo contrário”, finaliza. 

PLANEJAMENTO FAMILIAR E GRAVIDEZ DEPOIS DOS 30

O número de mulheres no Brasil que deram à luz com menos de 30 anos diminuiu significativamente nas últimas duas décadas, segundo as Estatísticas do Registro Civil divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 1999, os registros de nascimentos com mães deste grupo etário eram 76,3% do total, e em 2019, a taxa caiu para 62,5%.

Enquanto isso, a média nacional de nascidos vivos de mães maiores de 30 anos chegou à porcentagem atual de 37,4%, quase o dobro se comparada ao resultado de 1999.

Existem alguns motivos que explicam essa mudança estrutural na idade para ter um filho, e um dos principais é o planejamento familiar e de carreira.

A tendência, em uma realidade com mulheres empreendedoras, é de que muitas delas optem por estabilizar a parte profissional antes de se prepararem para a maternidade.

É o caso da empresária Mariana Corrêa, de 39 anos, co-fundadora da Winker e atualmente grávida de quase dois meses, que decidiu esperar pelo momento certo para ter sua primeira gestação, mesmo com a vontade constante do marido em ter filhos.

“Nunca me preocupei com a pressão por ser ou não mãe, só a idade me pressionava. Quando eu fiz 35 anos, decidimos começar a tentar naturalmente. Só quando fiz 39, engravidei de uma segunda FIV (Fertilização in Vitro) e comecei a estruturar a ideia gravidez x trabalho”, lembra.

Como hoje muitas funções podem ser executadas de maneira remota e online, a empresária diz que a rotina de trabalho poderá ser mantida por um bom tempo, e que planejou menos missões envolvendo viagens, por exemplo.

Mariana também confessa que tem receio em se sentir indisposta durante momentos chaves do trabalho, como negociações. O medo é de que reações e emoções naturais da gestação afetem sua capacidade ou raciocínio lógico na empresa, mas desabafa: “grávidas ficam com os sentidos mais aguçados, além daquela energia calma e maternal. Esta parte estou ansiosa para vivenciar. Acho que pode ser um novo superpoder. Ser executiva é quem eu sou. Agora quero me conhecer como mãe, esse é meu desafio. Darei meu melhor nisso também”.

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