Estudos indicam que colaboradores mais felizes são mais produtivos. Uma forma de motivar o bem-estar é por meio de ações e atividades físicas e, principalmente, pela cultura da empresa. Para ir mais a fundo nesse tema, o Economia SC Drops de hoje traz uma conversa com Bruno Rodrigues, fundador da GoGood, startup de bem-estar corporativo que ajuda os colaboradores a terem mais qualidade de vida através de benefícios de saúde física e mental. Confira abaixo:
Como a atividade física pode motivar os colaboradores de uma empresa?
Bruno: Um recente relatório da Microsoft demonstrou que, durante a pandemia, o volume de trabalho aumentou consistentemente. Se por um lado o trabalho híbrido aumentou a flexibilidade dos empregadores, os funcionários vêm trabalhando mais e por mais tempo. Mais reuniões, menos respeito aos horários de fim de jornada de trabalho, e menos pessoas para fazerem o mesmo (ou ainda mais) trabalho fizeram com que 54% das pessoas se sentissem sobrecarregadas, e 39% se sentissem exaustas. E com mais trabalho e restrições a atividades externas, o sedentarismo brasileiro, que já era enorme, aumentou ainda mais. Hoje, segundo dados da Fiocruz, 8 em cada 10 brasileiros são sedentários. São diversos os estudos que demonstram o impacto financeiro do sedentarismo nas empresas, estimado pela revista científica The Lancet em R$ 220 bilhões a nível global. Este valor é referente à perda de produtividade destes funcionários inativos. Empresas passaram a investir, então, no fomento e facilitação da prática esportiva de seus colaboradores. O exercício físico favorece o aumento da produção de dopamina, que é responsável, entre outras coisas, pela motivação, atenção e satisfação. Sabe quando você se sente cansado ou com preguiça e não está com vontade de fazer nada? Possivelmente você está passando por um déficit de dopamina. A atividade física também é capaz de produzir efeitos imediatos de melhora do humor e sensação de bem-estar pois aumenta a produção serotonina, noradrenalina, endorfina e outros neurotransmissores que são responsáveis por esse efeito. Ter benefícios relevantes de prática esportiva favorece que os funcionários não apenas pratiquem atividades eventualmente, mas principalmente busquem uma melhoria duradoura de seu bem-estar, que é quando a empresa perceberá um aumento ainda maior de seus resultados, através de um melhor clima organizacional e um time mais engajado e produtivo.
Quais benefícios a empresa pode ter ao oferecer e incentivar essas atividades às equipes?
Bruno: A lista dos benefícios que o exercício físico regular proporciona é bastante extensa, mas para listar alguns deles: Passamos a ter times mais felizes, com mais energia e mais motivados, pelo aumento da produção de neurotransmissores e maior capacidade de produção de energia pelas células; Nossos times também passam a ser capazes de lidar melhor com estresse, ansiedade e depressão, devido a aumento de enzimas que ajudam a degradar as moléculas que causam essas condições, uma questão cada vez mais necessária pelo aumento de pressão no trabalho; Aumenta-se também os reflexos e a atenção, o que pode levar a uma menor incidência de acidentes e erros no trabalho. As equipes que praticam exercícios possuem melhor planejamento, tomada de decisão, controle emocional e atenção. Todas essas são características essenciais em qualquer equipe de alto desempenho.
De que forma a empresa pode trazer isso para seus funcionários?
Bruno: Antigamente as empresas criavam iniciativas de saúde e “obrigavam” o colaborador a participar delas, tentando criar um comportamento em seus times. Puderam perceber que os colaboradores aderiam pouco às iniciativas e elas tinham pouca eficiência. Empresas que conseguem motivar verdadeiramente seus colaboradores a se exercitarem mais atuam como facilitadoras (e não donas) do processo de melhoria de cada um deles. Ter benefícios que ajudem a superar barreiras reais de seus times é obrigatório para quem quer ter um bom desempenho na frente de bem-estar. Colaboradores possuem gostos e necessidades diferentes. Alguns gostariam de fazer yoga, artes marciais, natação, sessões com psicólogos ou nutricionistas ou treinar com personal trainers. Ter um parceiro que abrace os diferentes perfis e todas as necessidades de bem-estar, facilitando o acesso financeiro a todas as soluções tende a aumentar a chance de sucesso do programa de bem-estar da empresa.
Com a pandemia e o trabalho remoto, a motivação e a execução de ações nesse sentido precisaram se adaptar. Quais são os principais desafios em manter as equipes fisicamente ativas à distância?
Bruno: Vejo que os desafios de engajamento dos colaboradores segue sendo o mesmo, mas agora os colaboradores possuem menos pressão para participar de algo que eles não veem sentido. Em síntese, a pandemia escancarou quais programas de bem-estar criavam valor de verdade e quais eram impostos pelo empregador. Empresas precisam garantir que seus programas de bem-estar sejam centrados no colaborador, e que o benefício vise resolver uma barreira real já percebida por pessoas que já buscam se autocuidar. Quantos colaboradores já querem fazer mais atividades físicas? Quais modalidades? Em quais academias? Por que não o fazem? Gostariam de fazer remotamente? Como eu crio o máximo de valor para as pessoas que já querem se exercitar mais? Estas perguntas deveriam ser o ponto de partida do programa que aumenta a frequência de atividade física de seus times. Com este diagnóstico, o desafio passa a ser encontrar o parceiro que atenda às necessidades do maior número de funcionários possível, no canal mais adequado para a realidade deles. Um erro comum é a empresa buscar um único prestador, de uma única modalidade, que entregue sua aula/sessão em um horário pré-estabelecido. Seus colaboradores possuem necessidades diferentes, em horários distintos, querem experimentar várias modalidades, em locais distintos. O parceiro ideal deve compreender este cenário e entregar uma solução para o maior número de pessoas possível.
Quais os principais problemas de saúde física apresentados pelos colaboradores nessa época de pandemia e como as empresas podem ajudar na prevenção?
Bruno: O trabalho remoto durante a pandemia diminuiu muito a atividade física leve, como o deslocamento que fazíamos para sair de casa, pegar ônibus e ir ao escritório, e as atividades moderadas e intensas. Com isto, o sedentarismo que era de aproximadamente 70% passou para 85% dos brasileiros segundo a Fiocruz. A primeira atitude das empresas deve ser cultural. De preparar líderes para falarem abertamente sobre a importância das atividades físicas e da necessidade de os colaboradores separarem uma parte de suas agendas para as práticas esportivas. Outro obstáculo é a cultura do esforço e não do resultado, aquela que favorece e promove os que trabalham mais horas, e não aqueles que entregam mais resultados. Buscar fortalecer programas e benefícios que facilitem e democratizem a prática esportiva, e garantir via processos que a liderança esteja capacitada e incentivada para fomentar a adesão dos colaboradores tende a trazer ótimos resultados para aumentar a produtividade dos colaboradores.