Pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveram um gel antimicrobiano à base de ingredientes naturais para o tratamento da mastite bovina, uma das principais doenças que atinge vacas leiteiras.
O produto, que teve seu pedido de patente depositado no início de maio junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), pode atender a uma demanda antiga de produtores de sistemas orgânicos e agroecológicos, bem como colaborar para a diminuição do uso de antibióticos nos sistemas de criação convencionais.
O trabalho foi executado no Laboratório de Bioquímica e Produtos Naturais (Labinat) e fez parte da pesquisa de doutorado de Gabriela Tasso Pinheiro Machado, no Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas sob orientação da professora Shirley Kuhnen e co-orientação de Luciana Aparecida Honorato e Maria Beatriz Veleirinho.
SOBRE A DOENÇA
A mastite bovina é caracterizada pela inflamação do tecido da glândula mamária e pode ser causada por diferentes espécies de bactérias. A enfermidade é dividida em duas categorias:
- Mastite Clínica: na qual há sintomas visíveis e mudanças físicas na aparência do leite e da mama
- Mastite Subclínica: de mais difícil diagnóstico, uma vez que não apresenta manifestações aparentes na vaca ou no leite. Em ambos os casos, contudo, há redução da quantidade e da qualidade do leite.
Segundo Gabriela, a doença está presente em praticamente todos os rebanhos leiteiros e pode gerar grandes prejuízos para os produtores.
Seu tratamento, em geral, envolve a utilização de antibióticos, mas, além do risco de as bactérias desenvolverem resistência aos medicamentos tradicionais, o uso de antibióticos é limitado na produção orgânica e agroecológica de leite, o que torna bastante complicado o tratamento e o controle da mastite nesse tipo de sistema.
O gel antimicrobiano criado na UFSC foi pensado justamente para atender às necessidades desse grupo de produtores.
Ele é totalmente elaborado com matérias primas naturais: k-carragenana, uma substância extraída de algas marinhas vermelhas, mucilagem de linhaça e extrato de macela.
Nenhum dos ingredientes foi escolhido por acaso. Os dois primeiros ajudam a dar a consistência adequada, a viscosidade do gel permite que o material permaneça por mais tempo no interior da glândula mamária e que as partículas sejam liberadas gradativamente ao longo do tempo.
O extrato de macela, por sua vez, havia sido alvo de estudos prévios do Labinat, que constataram que a planta possui atividade antimicrobiana e, mesmo em doses altas, não é tóxica para humanos ou animais.
Um processo de nanoemulsão da macela, que também está sendo patenteado, reduziu as partículas à escala nanométrica, dezenas de milhares de vezes menor que um fio de cabelo.
Isso aumenta o potencial antimicrobiano da planta, uma vez que elementos menores têm mais alcance e penetração no interior do corpo, e colabora para a estabilidade do gel.
“A maioria dos produtos naturais está exposta à degradação quando em contato com o oxigênio ou com temperaturas altas. Então, o desenvolvimento da nanoemulsão de macela foi proposto inicialmente para contornar essas limitações, já que a nanoemulsão forma partículas reduzidas e protege os ativos. Isso garante maior tempo de prateleira e maior estabilidade”, explica.
Uma série de experimentos em laboratório, com células de glândulas mamárias bovinas coletadas em abatedouros, confirmaram que o gel é capaz de penetrar no tecido mamário e matar bactérias causadoras da mastite sem fazer mal para as células da vaca.
O Labinat ainda não tem previsão de quando começarão os testes com animais, mas a proposta é que o produto possa ser utilizado durante a lactação e no chamado período seco, quando a vaca não está produzindo leite.
Texto: Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC