Por conta da pandemia, o turismo brasileiro despencou 36,7% no ano passado. Com o avanço das campanhas de imunização em todo o país, o setor começa a ver o tão esperado retorno. Para saber as expectativas dessa retomada, o Economia SC Drops conversou com o catarinense Vinícius Lummertz, ex-ministro do Turismo, ex-presidente da Embratur e atual secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo. Confira abaixo:
Com o avanço da vacinação, quais as expectativas para a retomada do turismo?
Vinicius: Fizemos três simulações possíveis, considerando a diminuição do ritmo da vacinação ou uma nova onda, no cenário negativo; a manutenção dos índices atuais e previstos para os próximos meses, que avaliamos como o cenário provável; e uma aceleração da imunização, como o desenho otimista. No provável, o retorno das viagens e, não menos importante, a expectativa das viagens por meio das reservas para momentos futuros, indica que a retomada já está em marcha e que teremos evolução gradativa no segundo semestre, com uma forte aceleração no último trimestre. Em se confirmando, o faturamento do setor no estado de São Paulo deve ficar cerca de 16% abaixo dos resultados de 2019, pré-pandemia. Alinhados com a Organização Mundial do Turismo (OMT), os comparativos devem ser com 2019, já que 2020 não serve como parâmetro.
Como será o turismo pós-pandemia? Quais cuidados tomados durante o período de distanciamento serão permanentes no setor?
Vinícius: Haverá também uma evolução gradual. Em linhas gerais os viajantes, ou pelo menos uma boa parte deles, colocarão na bagagem as máscaras e o álcool em gel, além de evitar locais muito cheios ou confinados. Com o aumento da segurança e o maior controle da pandemia, aos poucos, essas preocupações perderão lugar. Porém, para muitas pessoas, como acontece nos países orientais há anos, o uso de máscaras, por exemplo, no transporte público, fará parte da rotina. O que não é necessariamente ruim, já que demonstra um certo compromisso social de autoproteção e, portanto, da proteção de todos. Este período de transição é fundamental para os destinos turísticos captarem esse novo viajante que, de início, estão procurando viagens de curta distância, depois as domésticas e optando por destinos menos tradicionais e com oferta de atividades ao ar livre. Ou seja, oportunidade para Santa Catarina.
Os hábitos do consumidor mudaram muito no último ano. O turismo se adaptou a essas alterações? Como
Vinícius: Sim, até porque não há alternativa: mudanças no consumidor refletem imediatamente no mercado. Uma das mais imediatas foi uma preocupação natural com higiene dos ambientes, com a segurança e sensação de segurança. Por isso que, ainda em junho do ano passado, junto com o mercado, nós ajudamos a desenhar os protocolos de segurança. Aquele era um sinal fundamental: os hotéis, os restaurantes, as companhias aéreas, as empresas de eventos estavam informando aos consumidores que, antes de qualquer alternativa de retomada, estavam primeiro preocupadas com a segurança e o conforto de seus clientes. Mais recentemente, o que identificamos foi um adiamento da decisão das viagens. Ou seja, aquele roteiro que era decidido com seis meses de antecedência, pela volatilidade dos índices de contaminação, passaram a ser decididos a poucos dias do embarque. Qual é o impacto disso? Uma maior necessidade de fluxo de caixa das empresas e mais agilidade para as confirmações. Novamente houve a necessidade do alinhamento de toda a cadeia de fornecedores.
Por conta do coronavírus, o turismo foi um dos setores que mais foi impactado economicamente. Quais as perspectivas de recuperação?
Vinícius: Nos cenários que desenhamos consideramos três grupos de informações: faturamento, emprego e PIB do setor. Viagens e turismo tiveram perdas em todos. Nossa participação no Produto Interno Bruto do estado de São Paulo, por exemplo, que chegou a 9,3%, caiu para pouco mais de 7% no ano passado. Esse é o indicador de retorno mais lento, pois considera tudo o que é produzido, independente se no emissivo ou no receptivo. Já quanto ao faturamento das empresas, a nossa expectativa é de que, se mantiverem os atuais índices de imunização e, esperamos, até acelerando, retornaremos aos resultados de 2019 no segundo trimestre de 2022. Naturalmente que esse retorno não será linear, até porque o setor de viagens e turismo, como fenômeno econômico e social, também não o é. As viagens de lazer voltarão antes, motivadas até pelo verão, período maior de férias, represamento de consumo e alguns eventos culturais. Já o mercado corporativo, de encontros de negócios, como grandes feiras e congressos, por terem uma característica natural de confinamento, demorarão um pouco mais e voltarão com alguma limitação de público. Observando que em mercados internacionais mais avançados na vacinação, como Estados Unidos, mesmo no setor corporativo já há um cenário animador, com retorno gradual e expectativa de chegar a 70%, 75% do realizado antes da pandemia ainda este ano.
Qual a expectativa para as férias de dezembro?
Vinícius: A melhor possível, considerando esse dramático período que vivemos. Todos os indicadores, mantidas as “condições atuais de pressão e temperatura”, ou seja, avançando a imunização, são favoráveis. Acredito que teremos uma temporada como há muito não se via. Com riscos até mesmo de inflacionamento dos valores, já que a pandemia mudou muito, mas não mudou tudo: a lei da oferta e procura não foi revogada. O consumo de viagens e turismo em Santa Catarina tem um padrão relativamente rígido, com o mercado local, de moradores do próprio estado, depois os gaúchos e os paranaenses e, em 4º lugar, os paulistas. Ou seja, a se reproduzir esse histórico, é natural que haja um forte aquecimento, já que o consumo em todos esses mercados e, particularmente, o de São Paulo, ficou represado. Há uma grande “poupança para viagens” feita durante a pandemia que deve ser usada na temporada de Verão.