A inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD) no mercado de trabalho ainda está aquém do esperado no Brasil. De acordo com um levantamento da RAIS de 2019, apenas 1,10% do estoque de empregos formais no país são preenchidos por esse grupo. Para mudar essa realidade, surgiu a Semearhis, startup de Joinville que conecta essas oportunidades de emprego a PcD. Para saber mais sobre essa iniciativa, o Economia SC Drops conversou com a CEO da HRTech, Letícia Francisco, e com Jéssica Mendes de Carvalho, psicóloga organizacional, PcD e executiva de contas RH da empresa. Confira abaixo:
Qual a importância de uma startup de impacto social voltada para a inclusão de PcD?
Letícia: Por ser uma startup significa que estarmos conectados através da tecnologia nos nossos serviços, tornando-os escaláveis e atingindo a população que necessita dos mesmos. Nossos serviços mudam vidas, promovem dignidade e atendemos uma grande lacuna social. Quando conseguimos transformar o mundo ao nosso redor de forma positiva e mensurável, como nós, que temos uma métrica 100% ESG, podemos afirmar que impactamos a sociedade. A Semearhis vem semeando diariamente e agregando a grandes marcas, uma colheita assertiva da verdadeira inclusão.
Como funciona a Semearhis?
Letícia: A Semearhis é uma startup de impacto social do setor 2.5, que conecta o mercado empregador e a comunidade das pessoas com deficiência. Temos uma plataforma de inclusão denominada Match 360 graus com metodologia própria que contempla todo ecossistema da empregabilidade assertiva da PcD. Somos uma HRTech completa para que a inclusão seja praticada de forma congruente. No site da Semearhis você já pode encontrar nossos serviços e inclusive tanto empresas quanto pessoas com deficiência podem se cadastrar e tentar fazer seu match organizacional. Convido a todos para acessar nossas redes sociais e nos ajude a semear inclusão.
De onde surgiu a ideia para criar uma startup com essa missão?
Letícia: A Semearhis é um projeto que foi escrito ao longo dos meus 14 anos de experiência e vivência com a inclusão. Foram percepções, análises, pesquisas de um mundo ideal para realmente existir a inclusão, porém, nunca transformada em empresa. Jamais imaginei que a minha busca sempre constante em descobrir o meu propósito de vida e realizar algo que trouxesse significado, em que eu ajudaria e agregaria na vida das pessoas estava guardado numa gaveta na minha escrivaninha. Através de treinamentos os quais tenho grande admiração e orgulho em dizer que contribuíram para que eu conseguisse perceber que meu trabalho diário teria significado na minha vida se estivesse inserida no mundo da inclusão. Um evento específico, intitulado: Weekend Woman no ano de 2019 em Caxias do Sul, juntamente com mais sete mulheres incríveis, fomos premiadas em primeiro lugar com nosso projeto, foco inclusão. Partindo desta vivência o projeto Semearhis foi desengavetado e transformado num pitch de apresentação do que seria uma inclusão assertiva e a comprovação e validação desta carência de conexão entre o mercado empregador e a comunidade de Pessoas com Deficiência (PcD). Esse projeto chegou às mãos de um grande empresário CEO do Grupo Alltech, Jean Cardoso. A incubadora AlltechLab tem uma avaliação muito detalhada, com passos para comprovações e validações de cada fase do projeto a medida que é validado existe a oportunidade de aceitar ou não o projeto para incubar. Todo este meu relato ocorreu de 12 de outubro de 2019 até 10 de janeiro de 2020. Data esta que fomos incubados na AlltechLab. Em fevereiro do mesmo ano, já nos conectamos ao nosso segundo investidor, o Grupo Meta, no qual, hoje, fica instalada a matriz da Semearhis, no Ágora Tech Park, em Joinville. E possuímos também, uma filial em Caxias do Sul (RS), para atender a serra gaúcha.
Como são os números atuais para PcD?
Letícia: A Organização Mundial de Saúde 2010, estima que mais de um bilhão de pessoas vivam com alguma forma de deficiência, algo próximo de 15% da população mundial. Já os dados apresentados pelo Censo do IBGE 2010, de uma população total de 190.755.799 de brasileiros, 45.623.910 deles, ou seja, aproximadamente 25% da população teriam alguma deficiência. Pensando no mercado de trabalho destinado ao público das PcD e com base na Lei 8.213.91, que completou recentemente seus 30 anos de existência, e que traz em seu Art. 93 que empresas com mais de 100 funcionários devem completar um percentual de vagas de 2 a 5% destinados às PcD. Realizamos uma pesquisa nos dados da RAIS de 2019, disponibilizados no Radar SIT, onde revelou que apenas 1,10% do estoque de empregos formais no Brasil são preenchidos por empregados com deficiência. Esse percentual em 2010 era ainda menor, de 0,69%. Isso mostra que há muito trabalho pela frente.
Quais os principais desafios que as PcD ainda enfrentam, tanto em sociedade quanto em colocação no mercado de trabalho?
Letícia: Esta é uma ótima pergunta que vou pedir para que a Jéssica responda, ela é a mais recente contratada da Semearhis, responsável pela nossa sede matriz, realizando as conexões em Santa Catarina e está diretamente me acompanhando.
Jéssica: São alguns, os desafios enfrentados. Alguns deles amparados por Leis, outros quase imperceptíveis, como as barreiras atitudinais. Aqui tratamos de um público, meu público, que muitas vezes encontram-se as margens da sociedade, sofrem com vieses inconscientes, bullying, não são valorizados por suas competências, habilidades e atitudes, se deparam com um mercado escasso, desvantagens salariais e não se sentem pertencentes ao espaço inserido, sendo vistos como uma obrigação legal, uma cota. Mas, acreditamos e podemos mudar esses dados.
Quais as metas e perspectivas da Semearhis?
Letícia: A meta é mudar vidas e promover constantemente a dignidade para as PcD, utilizando nosso processo inteligente e inclusivo. Um dos nossos produtos atualmente são os Pacote de Soluções Inclusivas para estabelecimentos na área da gastronomia, lazer, turismo e redes hospitalares. Queremos atingir, no mínimo, 10.000 estabelecimentos no Brasil. Como mencionei antes, temos uma métrica 100% ESG (Environmental, Social and Governance) nossos profissionais auxiliam os locais para receber de forma mais empática as pessoas com deficiência e seus familiares. Aqui já somos referência em inclusão e nossa perspectiva é ser reconhecida nacionalmente como a melhor rede de conexões deste ecossistema inclusivo. Ousado, mas possível, ainda mais quando temos um grande time como é o da Semearhis.