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Economia SC Drops: como programas alavancam startups e o que falta para SC ter unicórnios nesse ecossistema

Foto: divulgação

Por meio de uma parceria inédita entre Sebrae e Fapesc, o Programa de Capacitação Startup SC contará com mais de R$1 milhão para a aceleração de startups selecionadas pelo projeto. O Startup SC é um braço do Sebrae de Santa Catarina, voltado para o desenvolvimento e fortalecimento de startups no estado. Para saber da importância desse universo de inovação e os desafios que ainda precisam ser vencidos, o Economia SC Drops conversou com Alexandre Souza, gestor do programa. Confira abaixo:

Como SC têm se destacado no cenário nacional e internacional de startups? Quais variáveis competitivas possuem?

Alexandre: Desde os anos 80, o ecossistema de Santa Catarina cria empresas de tecnologia. Mas, a partir de 2010, o de startups começou a ganhar mais força no Brasil e, aqui no estado, com o surgimento de empresas com proposta de atuação mais escalável. A partir daí, nosso ecossistema, com 30 anos de bagagem, ganhou um novo fôlego com startups se destacando no contexto regional e, principalmente, no nacional. Então, Santa Catarina continuou a ser vista como um berço de empresas de tecnologia e também de startups do segmento. Já fomos reconhecidos pela Associação Brasileira de Startup e pelo Startup Awards como uma das melhores comunidades de startups do Brasil. Esse prêmio está diretamente relacionado com a nossa característica de desenvolvimento de ações integradas por meio das entidades, como o próprio Startup SC, Sebrae e ACATE. Elas têm um papel fundamental em desenvolver o ambiente como um todo e apoiar os negócios nascentes. Assim, podemos dizer que as variáveis competitivas que possuímos estão ligadas a SC ser um ambiente que há muito tempo atua de forma sólida para a criação de startups. Além disso, temos empresas daqui que são referência no Brasil, o que impulsiona o crescimento, inspira novos empreendedores e fomenta novas startups locais. Por fim, geograficamente falando, possuímos a vantagem competitiva de estarmos próximos a grandes centros nacionais, com uma qualidade de vida superior a outros estados, atraindo empreendedores e profissionais de tecnologia de outros lugares do Brasil.

Quais são as cidades que mais se destacam no estado no número de startups, capacidade de inovação e polos? Quais são as áreas que mais possuem soluções oriundas de startups? 

Alexandre: Primeiramente, posso destacar Blumenau, Joinville e Florianópolis, porque foram cidades que desenvolveram pólos tecnológicos lá na década de 80. Naturalmente, quando esse novo ecossistema começou a ganhar força no Brasil, esses municípios catarinenses foram pioneiros no desenvolvimento de startups. Atualmente, graças ao movimento de fomento do ecossistema, com programas como o Startup SC, novos pólos tecnológicos estão sendo criados em outras regiões do estado. Como por exemplo, Chapecó, Rio do Sul, Tubarão, Jaraguá do Sul, Criciúma, Brusque, Itajaí, Balneário Camboriú e Lages estão se destacando em um ambiente de inovação e criação de novas startups. Ou seja, temos vários exemplos de municípios que estão prosperando localmente, ajudando o desenvolvimento de startups e, como consequência, mudando a matriz econômica de suas regiões. As áreas que mais possuem soluções oriundas de startups estão diretamente ligadas à atuação econômica do estado, que é bastante diversificada. Vários segmentos econômicos movimentam Santa Catarina, como o agronegócio, a indústria metal mecânica, têxtil e de exportação. Então, as startups criam soluções para esses negócios/empresas, em um modelo B2B. Com isso, a área de gestão empresarial tem um destaque significativo, assim como marketing, vendas e outras áreas que atuam com soluções para todas essas verticais que possuímos no estado.

O que tem contribuído para o ecossistema de startups se desenvolver no estado?

Alexandre: Primeiro, a união das entidades tem sido um fator predominante para o sucesso do ecossistema de startups em Santa Catarina. Digo isso, porque todas as ações são muito articuladas entre as principais instituições que fomentam o setor. Do ponto de vista governamental, há a criação de políticas públicas. Tanto o Governo Estadual mas, principalmente, os Municipais desempenham um papel chave para esse fomento, ao olhar para o ambiente de inovação para startups como uma oportunidade de gerar empregos e novas riquezas. Também ressalto que a presença de fundos de investimentos, aceleradoras e incubadoras em Santa Catarina tem colaborado para um desenvolvimento contínuo das startups no estado. Além disso, o ecossistema possui diversas iniciativas para distribuir recursos em inovação e ajudar no desenvolvimento do setor. Como exemplo, o Sebrae e a FAPESC, em parceria inédita, vão acelerar 25 das 50 participantes da 11º Turma do Programa de Capacitação Startup SC. O montante disponibilizado é de R$ 1,250 milhão e cada uma das startups selecionadas receberão R$ 50 mil.  

Qual a importância das iniciativas daqui a nível local?

Alexandre: As iniciativas locais colaboram diretamente para o fomento do nosso ecossistema e economia. Por exemplo, o Programa de Capacitação Startup SC, uma iniciativa do Sebrae de Santa Catarina, apoiou 1070 empreendedores e 330 startups com 11 turmas do programa. Essas startups, muitas vezes, recebem aportes de empreendedores locais, que atuam como investidor anjo e potencializam a trajetória de sucesso deste negócio. Consequentemente, geram mais trabalhos e demandam mão de obra qualificada, que encontramos em nossas universidades. Ou seja, as iniciativas participam e influenciam um ciclo de inovação, angariando cada vez mais riquezas para o estado.

Temos unicórnios a caminho? O que faz com que uma startup possa chegar nesse nível?

Alexandre: Temos alguns desafios a superar. Primeiro que o Brasil tem apenas 11 unicórnios, ou seja, empresas com valuation (valor de mercado de mais de um bilhão de dólares. Destes, nove estão concentradas na região metropolitana de São Paulo. Elas estão nesse grande centro porque, no geral, são empresas que trabalham com o consumidor final, no modelo B2C (business to customer), então têm uma escala de solução muito grande e precisam estar em regiões mais populosas, com um alcance de público muito maior. Além disso, o perfil dessas empresas que são unicórnios do Brasil são ligadas ao segmento financeiro, como fintechs. Aqui em Santa Catarina, como a maioria das nossas empresas são B2B, que oferecem soluções para outras empresas, temos um tamanho de startups, perfis e volumes de clientes bem menor em relação ao perfil B2C.  Existem sim empresas com esse potencial de unicórnio em SC, mas no geral, alcançar um valuation de um bilhão de reais é um desafio e tanto para empresas B2B. Por exemplo, temos aqui a RD Station, Conta Azul e NeoWay, que foram consideradas grandes candidatas para um unicórnio. A RD Station foi vendida por quase dois bilhões de reais para a TOTVS, mas não alcançou esse índice. As demais podem chegar nesse patamar, mas como disse, é uma trajetória muito difícil. 

Como parques tecnológicos e centros de inovação contribuem para essa sinergia entre startups, empresas, universidades e comunidade?

Alexandre: Parques tecnológicos e centros de inovação são ambientes fundamentais para que empresas, universidades e comunidades possam interagir entre elas. A presença desses ambientes em Santa Catarina sempre foi um diferencial para a sinergia e inovação do ecossistema. Por exemplo, temos fomento por meio do governo do estado, entidades privadas e, principalmente, por meio de uma troca de experiência e informações que acontecem organicamente em ambientes físicos. Isto é, locais que estão preparados para receber pessoas, promover conexões e realizar eventos são importantes em um contexto de inovação. Em SC, temos centros de inovação em Florianópolis, Blumenau, Joinville, Jaraguá do Sul, assim como em Lages e Chapecó. É também por esse motivo que o Startup SC promove anualmente o Startup Summit. Neste ano, o evento será realizado em um formato híbrido, nos dias 14 e 15 de outubro.

No que SC ainda precisa melhorar em relação a startups?

Alexandre: São basicamente três pontos principais. O primeiro é uma maior aproximação com universidades. Hoje, as conexões que temos com esses centros de ensino superior ainda são muito tímidas. Isso impacta o ecossistema porque as universidades são espaços de formação de profissionais qualificados e, em algum nível, de novos empreendedores, que poderiam ser incorporados ao ecossistema local. O segundo ponto é o desafio em tornar nossas startups globais, não só na execução de suas soluções e alcance de mercado, mas também em ter um pensamento global já quando são criadas. Digo isso, porque o Brasil é um país em que empresas internacionais buscam quando precisam de um local com um volume expressivo de consumidores. Quando, na verdade, temos a capacidade de exportar soluções para fora. Por fim, a indústria de Venture Capital tem papel importante no desenvolvimento de startups, então é fundamental ampliar os fundos de investimentos, aceleradoras e incubadoras no estado. Já atraímos muita gente de fora que chega com um capital inteligente e bem aplicado, mas temos espaço para desenvolver ainda mais. Por exemplo, desenvolvemos neste ano o Invest.VC, o primeiro Programa de Capacitação de Investidores Anjos do Startup SC, com objetivo de fomentar ainda mais o ecossistema local. Isso acontece, porque este  modelo de investimento não se resume apenas ao capital, há também a mentoria e experiência que esse empreendedor possui, agora direcionada a uma nova startup, como investidor anjo.

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