Segundo pesquisa da Strategy Analytics, empresa de pesquisa e consultoria de mercado, a estimativa é de que 3,85 bilhões de pessoas possuam um celular em 2021 (cerca de 49% da população mundial). Com a conectividade cada vez mais acessível, surgiu um novo idioma em comum: a linguagem dos dados. E, como qualquer nova língua, é preciso alfabetização.
A educação de dados é o tema desse Economia SC Drops. Convidamos Silvia Luz, diretora-executiva do Social Good Brasil, organização sem fins lucrativos, parceira da Fundação das Nações Unidas, que atua para democratizar a educação em dados, levando o idioma para pessoas e organizações de todo país. Ela reúne experiência como community management, sendo uma das desenvolvedoras dos Programas Cidadãos de Dados e Fellows SGB, onde já foram capacitadas mais de 100 lideranças espalhadas por todo o Brasil que atuam em áreas diversas, desde periferia à tecnologia blockchain, ciência de dados, sustentabilidade e muito mais. Também é co-líder da Rede Mulheres B do Sistema B Brasil, organização latino-americana que promove uma nova economia, onde sucesso nos negócios se mede pelo bem estar das pessoas e da natureza. Confira abaixo:
O que é educação em dados?
Silvia: Educação em dados, ou Data Literacy, é a habilidade de ler, trabalhar, analisar e argumentar com dados. É considerada uma das competências fundamentais para o mundo digital e para o futuro do trabalho. A metodologia de educação em dados do Social Good Brasil compreende o desenvolvimento de habilidades de fluência em dados (data literacy) e de competências para ajudar na tomada de decisão orientada por dados, garantir ética, proteção e privacidade, bem como gerar impacto social positivo (data for good).
Qual a importância do tema?
Silvia: Os dados apontam as respostas para essa pergunta. Mais do que nunca, vivemos conectados. A previsão da Cisco é que até 2023 teremos quase 30 bilhões de dispositivos conectados, se comparado à população global. Já os vazamentos de dados aumentaram 493% no Brasil, segundo o MIT. São golpes virtuais que chegam de todos os lados: de mensagens no Whatsapp a ligações. A Kaspersky também aponta que 62% dos brasileiros não sabem reconhecer uma notícia falsa. Tudo isso nos convida a prestar ainda mais atenção no tema. A fluência em dados, porque nós consideramos que os dados são como um novo idioma que todos podem aprender, está muito mais próxima e é muito mais útil à vida das pessoas do que elas imaginam. A educação em dados nada mais é que trazer esse conhecimento que já é utilizado em corporações para o dia a dia do cidadão comum, que pode então aprender mais sobre dados, como usá-los a seu favor no mercado de trabalho, tomar decisões na vida pessoal ou profissional e até mesmo usá-los para fazer o bem.
O data literacy pode ser mais um agente de transformação social? Como?
Silvia: Quando falamos em Data Literacy, é sobre uma gama de competências que qualquer pessoa pode aprender e se tornar protagonista da sua vida, usando o conhecimento de ler, trabalhar, analisar ou comunicar para transformar a sua vida completamente ou apoiar causas sociais. O movimento Data for Good, que o SGB trouxe ao Brasil em 2018, trata do uso desse poder dos dados para um mundo melhor, seja pessoas ou organizações. E como isso acontece na prática? Quando pensamos em todo o fluxo de dados, desde como coletar dados de forma justa sem viés discriminatório, toda ética e os cuidados no tratamento de dados pessoais e de terceiros, assim como tomar decisões baseado em dados de problemas sociais e ambientais. No Brasil, temos vários exemplos de projetos que usam dados para o bem, como a campanha-pesquisa “Por que eu?”, do Data Labe, laboratório de informações e narrativas do Complexo da Maré, e Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD). Em uma iniciativa inédita, eles captaram quantitativamente aquilo que todos sabem que acontece, mas para o qual ainda não havia números: a relação entre abordagens policiais truculentas e raça. Esse tipo de iniciativa gera impacto positivo e pode ajudar na criação de políticas públicas importantes, por exemplo.
Como os dados afetam a vida de uma pessoa na prática?
Silvia: Os dados fazem parte do nosso dia a dia. Quando acordamos, ao ver a previsão do tempo e decidir a roupa que vamos usar, quando vamos enviar mensagens pelo Whatsapp (também são dados), quando damos o nosso CPF a algum estabelecimento em troca de um desconto que muitas vezes nem é ofertado. Não temos a cultura de proteger nossos dados, mas 5 milhões de pessoas foram vítimas do golpe do Whatsapp em 2020. Quando aprendemos o que são dados e como proteger os nossos, tomamos melhores decisões e evitamos diversos tipos de golpes. Na vida profissional, a fluência em dados é um diferencial e uma das habilidades que são cada vez mais valorizadas. Se há alguns anos ser fluente em um segundo idioma era indispensável para qualquer profissional, hoje já podemos dizer que ter fluência em dados é essencial para pessoas, organizações e governos.
Como o Social Good Brasil trabalha para a educação de dados?
Silvia: Desde 2012, o SGB é pioneiro ao trazer para o país tendências mundiais, como o uso de tecnologia e dados para o bem. Em 2021, nosso propósito é levar uma metodologia inovadora e exclusiva de educação em dados para todo o Brasil, tornando acessível esse idioma essencial para o mundo digital e para o futuro do trabalho. Para isso, lançamos uma ferramenta de autoavaliação inédita no Brasil, criada para medir o nível de fluência em dados e útil tanto para quem está aprendendo a nadar até quem já navega bem neste oceano. Na nossa jornada de Educação em Dados, temos a série Habilidados, que aborda esse universo de forma acessível, com episódios disponíveis quinzenalmente no Youtube. No canal, também há vídeos de todas as edições do Festival SGB, o maior evento de tecnologia e dados para impacto social do Brasil, que esse ano celebra a 10ª edição, entre os dias 26 a 30 de outubro de 2021. Há ainda duas formações: o Cidadãos de Dados, curso online para pessoas que querem aprender sobre dados de um jeito simples. As inscrições estão abertas para estudantes do Ensino Médio público ou bolsistas da rede particular da Grande Florianópolis. Já o Laboratório de Dados SGB é voltado para organizações criarem soluções de dados personalizadas, com mentoria do time SGB e de cientistas de dados da rede.
Quais os planos e perspectivas da organização até o final do ano?
Silvia: 2021 está sendo um ano importante para o Social Good Brasil, com o lançamento de produtos inovadores e de alto impacto. Após o lançamento da autoavaliação em junho, queremos até o final do ano levá-la para milhares de pessoas em todos os setores. Também lançamos a série Habilidados, que já tem 4 episódios disponíveis no canal do YouTube do SGB e teremos mais 4 episódios inéditos, com temas importantes como vazamento de dados e fake news. Em setembro, inauguramos as primeiras turmas da formação Cidadãos de Dados – nível 1 e vamos finalizar uma turma do Laboratório de Dados para Organizações. Pela frente, ainda temos também a 10ª edição do Festival SGB, um momento de encontro e conexão com a grande comunidade que construímos ao longo dos últimos anos. O evento é sempre um marco, já que foi onde a organização nasceu, em 2012. E na ocasião lançaremos as próximas turmas do Cidadãos de Dados, para pessoas interessadas em ser fluentes nesse idioma. Já de olho em 2022, lançaremos o nível 2 da formação online Cidadãos de Dados voltados a pessoas nos níveis aprendizes e praticantes. Daremos início ao piloto da primeira formação técnica em ciência em Dados no Brasil, ao lado da Fundação Telefônica Vivo e CIEB e desenhando o próximo Festival SGB do ano que vem, com a esperança de criar um evento híbrido, reunindo novamente pessoas de vários lugares do Brasil em Florianópolis para celebrar os 10 anos do Social Good Brasil, pensando nos próximos dez anos e tudo que vem para nos apoiar na democratização da educação em dados no país.