Por Caio Feijó, analista de investimentos da Invisto.
Já é sabido que durante a transição de 2020 para 2021 havia uma incerteza em relação ao comportamento do venture capital (VC), e do private equity (PE) no mercado brasileiro.
Muito se especulava se a indústria dessa classe de investimentos manteria o ritmo positivo de crescimento observado no ano anterior.
Conforme dito no artigo Um balanço do Venture Capital – O Venture Capital no 1T21: como foi e o que esperar para o ano?, o primeiro trimestre deste ano teve um desempenho pareado a todo o realizado no ano passado..
Os investimentos realizados no primeiro trimestre do ano corrente representaram 87% dos investimentos totais do ano anterior e apenas o fundraising teve desempenho inferior.
A partir dessa evolução da indústria de investimentos alternativos (VC e PE) traduzida pelos dados disponíveis, a especulação se virou para os demais trimestres e para a dúvida de como o mercado se comportaria no decorrer do resto do ano.
Em suma, haveria novas notícias positivas para a indústria? Quão bem se comportaria com os novos desafios impostos pelo ano? A performance se manteria?
Em relatório divulgado pela ABVCAP sobre o segundo trimestre, e em consonância com o ocorrido no primeiro trimestre do mesmo ano, apenas o fundraising teve desempenho inferior se comparado ao segundo trimestre de 2020, ou seja, R$ 0,6 bilhões totais (2T21) contra R$ 2,2 bilhões totais (2T20). Em relação ao primeiro trimestre deste ano também houve queda no resultado: R$ 0,6 bilhões totais (2T21) contra R$ 1,3 bilhões totais (1T21).
Por outro lado, essa mesma estatística pessimista para a indústria revela que o fundraising da modalidade de VC aumentou de R$ 0,04 bilhões (2T20) para R$ 0,6 bilhões (2T21), crescimento de 1.400%, e de R$ 0,3 bilhões (1T21) para R$ 0,6 bilhões (2T21), crescimento de 100%. Ou seja, há mais recursos sendo direcionados para o Venture Capital até o presente momento.
Outra variável relevante a se analisar são os investimentos e, nesse sentido, houve aumento no volume investido no segundo trimestre deste ano de R$ 14 bilhões se comparado ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram R$ 4,5 bilhões, e ao primeiro trimestre de ano, com R$ 10,7 bilhões.
Em outras palavras, crescimento de 211% em relação ao mesmo período do ano anterior e 31% em relação ao primeiro trimestre desse ano.
Ainda sob essa ótica, é importante frisar que cerca de 97% do volume de investimentos do segundo trimestre do ano realizados pela Indústria veio justamente do segmento de venture capital, algo que se traduziu em 78 empresas investidas.
Por fim, em linha oposta aos investimentos, os desinvestimentos do segundo trimestre deste ano, de R$ 4,9 bilhões, superaram os desinvestimentos do mesmo período do ano passado, de R$ 2 bilhões, em 145%, mas caíram em relação aos desinvestimentos realizados no primeiro trimestre deste ano, com R$ 7,8 bilhões, em 37%.
Além dos dados positivos apontados pelo mercado, na atuação como INVISTO, Gestora de Fundos de Venture Capital localizada no sul do país, foi possível verificar essa movimentação expansiva da indústria.
Em resumo, no 2T21, 74 startups foram cadastradas para análise de diversos segmentos – Fintech (18%), Logtech (9%), Retailtech (9%), Healthtech(7%), Agrotech (5%), etc. – com variados modelos de negócio – B2B (64%), B2C (16%), B2B2C (11%), etc. – e com maioria de (1) base SaaS (69%), (2) em estágios iniciais de desenvolvimento (43%), (3) localizadas no Sul (54%) ou Sudeste (39%), e (4) sem atuação em temas ESG, internamente, e ou externamente (49%).
De todas essas empresas cadastradas, apenas 5% avançaram para estágios de análise avançada, e somente uma se mostrou como potencial investimento. Além disso, é necessário salientar que das duas empresas em estágios avançados de análise descritas no 1T21, uma representou um investimento realizado, e a outra segue avançada no processo. Assim foi possível perceber que tivemos um espelho do mercado traduzido em números positivos no nosso pipeline.
Apontadas a evolução de todos esses dados, de mercado e de pipeline, para o segundo trimestre, está claro que 2021 superou o ano anterior e já se tornou o melhor para a Indústria de VC no país. Nessa onda de crescimento, fundos, anjos, aceleradoras, incubadoras, mentores, startups, e uma série de outros players inseridos no ecossistema de inovação se beneficiam desse movimento e devem aproveitar o momento de liquidez e destaque da indústria.
No final, independente de quaisquer críticas que eventualmente possam surgir desse período, bem como, quaisquer hipóteses em relação a esse bom ritmo praticado pela Indústria, o Venture Capital vive seu melhor momento da história, e as tendências apontam para uma crescente consolidação e maturidade desse mercado em território brasileiro.