Por Pedro Bono, CEO e cofundador na Receiv.
A evolução dos departamentos financeiros nas empresas é uma característica marcante do novo ambiente de negócios do país e vem pautada tanto pelo avanço da inovação em rotinas e processos do setor, quanto no que diz respeito ao alinhamento do Brasil com práticas de gestão financeira das principais economias globais.
E um dos frutos deste novo cenário relativamente recente no país e que ganhou impulso, dentre outros fatores, no esteio do crescimento de fintechs e negócios digitais, envolve uma integração muito mais fluida e efetiva entre as diferentes áreas e dimensões financeiras de um negócio. Só em 2020, as fintechs movimentaram mais de US$ 1,9 bilhão em 115 rodadas de investimento, de acordo com o Inside Fintech Report.
Graças à tecnologia, ao avanço e massificação de ferramentas de comunicação (tanto em tempo real quanto assíncronas) e de soluções que, por sua vez, se conversam e são inclusive mais acessíveis para pequenas e médias empresas – fator que democratiza o movimento de transformação digital das áreas financeiras no país – já é possível observar uma realidade em que as dimensões fiscais, contábeis, de investimentos, contas a pagar e receber, entre outros, atuam de modo mais conjunto, otimizando a tomada de decisões das organizações e favorecendo uma visão holística de toda a estrutura financeira de uma companhia.
Tal movimento, vale salientar, deve ser intensificado diante das possibilidades que irão surgir a partir da consolidação do open banking e do open finance (que, além dos bancos, abarca o sistema financeiro e seus agentes como um todo) no Brasil.
O contexto tecnológico
Novamente, a tecnologia tem um papel decisivo dentro deste contexto dinâmico, a partir, por exemplo, de plataformas que integram diferentes processos e soluções da área financeira, e da própria decodificação e integração de APIs (Interface de Programação de Aplicações), que é uma das bases da tendência de abertura do sistema financeiro.
Sobre este ponto, vale citar que, ainda em 2019, o mercado de gestão de APIs movimentou US$ 1,6 bilhões mundialmente e deve passar por um crescimento expressivo nos próximos anos. Para elucidar, um estudo global da consultoria MarketWatch indicou crescimento médio de 33,2% nos investimentos em APIs até 2025 – fazendo com que esta tendência tecnológica chegue à casa de US$ 9 bilhões em valores mercadológicos.
Não por acaso, a tecnologia já é uma das cinco principais prioridades orçamentárias para 85% dos CFOs entrevistados em pesquisa realizada no Brasil e divulgada este ano pela Dimensional Research. Um dos highlights do levantamento indica, justamente, uma perspectiva omnichannel das empresas e não só para a área financeira, mas envolvendo departamentos comerciais, canais digitais de atendimento, lojas físicas e marketplaces.
Todo este novo ambiente de mais integração e inovação oferece vantagens diretas para o consumidor (tanto dos segmentos B2B quanto B2C) e atendem ao novo paradigma da centralidade no cliente que tem efeitos no ambiente de negócios como um todo – incluindo, sem dúvidas, o sistema financeiro. Certamente, ainda temos muito a avançar neste sentido, uma vez que estamos diante de uma jornada de digitalização que, conforme reforçado no início deste artigo, é recente na esfera financeira.
Em todo o caso, o panorama é positivo e, além dos clientes-finais, as próprias organizações já podem vivenciar os benefícios de uma integração ágil do departamento financeiro, os quais incluem desde uma maior eficiência geral em processos até a possibilidade da tomada de decisões com base em dados e em uma perspectiva mais global sobre as práticas e dimensões financeiras de uma companhia.
São os primeiros passos de uma caminhada cheia de potenciais e que deve mudar ainda mais o perfil do departamento financeiro em um futuro que já se anuncia.