Por Ana Carolina Peuker, psicóloga e CEO da BeeTouch.
Cada vez mais ouvimos falar sobre a chamada “quarta onda” da pandemia, referente ao adoecimento mental, que diferente do vírus não será contida com a vacinação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para o aumento da prevalência de transtornos mentais e como isso pode ter impacto a médio e longo prazo, mesmo após o fim da pandemia.
Isso se agrava ainda mais quando, mesmo antes da crise pandêmica, o Brasil já era o país com mais ansiosos no mundo e com o segundo maior índice de casos de depressão.
Por esse motivo, não é de hoje que as organizações vêm pensando em programas estruturados e ações específicas voltadas para a saúde mental dos trabalhadores.
Mas, porque mesmo investindo nesses programas ainda há índices altos de adoecimento mental no trabalho?
Pelo menos é o que dizem os dados. No Brasil, 9,3% das pessoas têm algum transtorno de ansiedade, segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde, e ainda, mesmo que as pessoas reconheçam os benefícios do home office, 43,7% que fazem o trabalho remoto relataram aumentos nos problemas psicológicos como depressão, ansiedade e de concentração, de acordo com uma pesquisa da Workana, startup que reúne freelancers.
Essa é uma questão mais complexa do que parece e está relacionada a múltiplos fatores, inclusive alguns de difícil controle, como o ambiente social, a genética e os acontecimentos globais como as pandemias.
Apesar disso, existem sim formas de sermos mais efetivos no combate a esse mal que causa impactos negativos tanto para a saúde dos trabalhadores, quanto para os resultados das empresas, como maior absenteísmo, perda de produtividade, taxas elevadas de afastamentos, turnover, sinistralidade.
Pensar em estratégias e políticas de médio e longo prazos, que utilizem a tecnologia para garantir abrangência, escalabilidade e práticas baseadas em evidências para aumentar a efetividade das ações constituem um passo importante rumo à sustentabilidade emocional.
Esse é o futuro do trabalho e, começar hoje, é estar um passo à frente, tornando o ambiente de trabalho mais saudável e o negócio mais competitivo.
A pandemia exacerbou a prevalência dos transtornos mentais e os custos com estas doenças podem chegar a 6 trilhões de dólares até 2030.
A crise ensinou a todos: sem saúde mental, não há saúde. Mas, acima de tudo, não há desenvolvimento: das pessoas, da economia e das nações como um todo.
Tudo isso requer que os gestores pensem em planos de ação, que possam ir além daqueles que incluem a gestão de riscos identificáveis a “olho nu” como físicos, químicos e biológicos.
A avaliação de risco psicológico, que é geralmente “invisível”, deve ser parte integrante de um bom plano de gestão de saúde e de segurança ocupacional.
Esses planos auxiliam a criar consciência dos fatores de riscos e as potenciais consequências, identificar quem pode estar em risco, determinar se as medidas de controle existentes são adequadas ou se algo mais deve ser feito, prevenir outras doenças e a hierarquizar, priorizar riscos e definir medidas de controle.
O objetivo do processo de avaliação de riscos é remover um perigo ou reduzir o seu nível de risco pela adição de precauções ou medidas de controle efetivas. Ao fazer isso, poderá ser, de fato, implementado um ambiente de trabalho psicossocial seguro.
Por isso, as empresas que desejam se manter competitivas e rentáveis, controlando seus custos em saúde e aumentando sua produtividade, devem empregar o poder da tecnologia e dos dados para agir de forma assertiva e inteligente no que tange à saúde mental corporativa.
Isso significa pensar em termos de “sustentabilidade emocional”, a qual está atrelada a uma abordagem preventiva, sistêmica e de continuidade de cuidados e ações, constituindo a base propulsora para o sucesso de qualquer negócio.