Empreendedorismo feminino: as lições da diretora executiva de uma das maiores feiras do setor têxtil do mundo

O mês de novembro traz um tema que proporciona diversas discussões. Mulheres cada vez mais têm conquistado sua voz e seu espaço na sociedade, principalmente no empreendedorismo. Especificamente no dia 19 deste mês é comemorado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino e, como um único dia não seria suficiente, produzimos uma série com 30 entrevistas de mulheres fantásticas para falar sobre o tema. 

Hoje a entrevistada é Giordana Silva Pompeo Madeira, diretora executiva da Febratex e CEO da Way2Tex, e atualmente mora em Portugal. Confira abaixo: 

Qual foi o start do negócio?

Eu nasci em uma família empresária da indústria de eventos, então desde sempre me vi envolvida com negócios. Comecei a trabalhar aos 18 anos, no setor financeiro da montadora de stands, primeira empresa fundada pelo grupo, em 1981. Lembro bem da primeira nota fiscal que emiti e enviei, via fax, e também do passo a passo que criei para realizar cobranças e pagamentos de forma organizada. Em 2002, ingressei na faculdade de Direito da PUCRS e com o conhecimento aprendido, comecei a implementar uma gestão jurídica nos contratos com clientes, fornecedores e no departamento pessoal das 3 empresas do grupo: a montadora de Stands, a promotora de eventos e a agência de viagens que, à época, contavam com mais de 50 colaboradores. Como eu já entendia do processo operacional da gestão de eventos, tive coragem e segurança de promover mudanças, mesmo que a grande maioria dos funcionários me conhecesse desde criança, o que poderia ser um impeditivo. Foi um grande desafio inovar em uma empresa com mais de 20 anos de história e cultura bem consolidada, mas acho que tive êxito, pois sempre com o tom amistoso consegui construir relações com pessoas que me acompanham até hoje, independente da relação profissional. Até 2018, mantive-me responsável por toda a gestão de contratos civis e trabalhistas, sempre muito próxima do operacional dos eventos, quando idealizei, com o meu marido, um novo projeto internacional com o propósito de criar o pilar de conteúdo para os eventos de negócios, que foi o Febratex Summit, realizado em 2019. Desse projeto, surgiram novas ideias que se transformaram em inovação para a feira Febratex, como o Startup Corner e o Febratex Conecta, eventos paralelos que apresentam ao mercado têxtil iniciativas com novos modelos de negócios e sustentabilidade aplicada ao processo produtivo, respectivamente. Estando em Portugal, fundei a Way2tex que hoje cria conexões e novas oportunidades de negócios entre Brasil e Portugal.

Como é estar a frente de um negócio cuja base está no intercâmbio com o Brasil?

É uma grande responsabilidade que exige visão ampla e de longo prazo, uma postura transparente e linear, pois me proponho a conectar pessoas que compartilhem dos mesmos propósitos no sentido de colaborar mutuamente, valorizando as forças e criando oportunidades. 

Quais as principais diferenças entre empreender no Brasil e em Portugal?

Empreender, ao meu ver, depende muito mais da dinâmica e resiliência do empreendedor. No entanto, a principal diferença que percebo é o potencial do mercado comprador. Enquanto Portugal tem uma população de 12 milhões de pessoas, o Brasil tem 240 milhões. Mas se compararmos a população do continente Europeu ao Brasil, há um mercado potencial de consumo bem maior. Então, essa análise depende da estratégia e objetivos traçados com o projeto.

Portugal tem se tornado um novo destino para brasileiros que querem viver fora. Qual o potencial do país para empreendedores?

Ao meu ver, o maior potencial de Portugal para os brasileiros está mais nas oportunidades profissionais do que no empreendedorismo. Portugal tem imenso interesse e necessidade de contratar profissionais para continuar crescendo e a língua portuguesa é uma força entre os países que pode ser bem mais aproveitada. Há iniciativas portuguesas no sentido de facilitar a imigração de trabalhadores brasileiros, especialmente, para a indústria têxtil que, além de buscar continuar crescendo, também investe na formação de novos profissionais. 

Quais são os desafios de empreender como mulher? E o que você indica para quem quer começar?

Desde sempre e ainda por muito tempo, o maior desafio será o de conciliar a vida profissional com a pessoal. Soma-se ainda mais esforço quando a mulher é mãe. As mulheres conquistaram espaço, mas também acumularam atividades que nem sempre são valorizadas como deveriam. Costumo dizer que poucas pessoas reconhecem a alta performance exigida para organizar a rotina doméstica e proporcionar um ambiente de desenvolvimento saudável para um filho. Se pudesse dar uma dica, diria que primeiro vai muito além do ambiente de negócios.

Entre expectativa e realidade, o que você achava que era empreender e o que de fato é?

Dizem que a felicidade pode ser definida como a diferença entre expectativa e realização, ou seja, quanto mais realizarmos o que esperamos, mais felizes seríamos. E ao meu ver, o contrário também é verdadeiro, pois quanto mais idealizarmos e não realizarmos, maior será a ansiedade e não saber lidar com a espera de resultados concretos pode comprometer muito a qualidade de vida de quem empreende. Empreender exige habilidades fundamentais como ser paciente, ter capacidade de adaptar-se rapidamente e de saber lidar com expectativas frustradas. O lado bom disso é que esse exercício de resiliência traz experiência o que nos torna cada vez mais preparados para o novo e a sorte nos encontrar. Para mim, empreender tem muito mais a ver com a forma com a qual lidamos com os desafios impostos pela vida. Empreender é também superar-se, inovar, ter muitas iniciativas, mas também “terminativas” e, durante todo esse processo, sempre preservar os seus valores.

Quais lições de empreender no seu segmento?

A pandemia trouxe muitas lições para quem empreende em atividades que dependem de presença física. Mas a maior lição que tive e que levarei comigo para sempre é ser ético nas relações interpessoais, independentemente da questão comercial, pois a maior força de quem se dispõe a promover conexões é a credibilidade. O seu cartão de visita sempre será a sua história e a impressão deixada nas pessoas com as quais se relacionou. Ninguém esquece a forma como foi tratado. Podem esquecer o que você fez e o que você falou, mas nunca esquecerão o sentimento que a sua atitude promoveu. Empreender e ter sucesso com a realização de eventos só é possível se houver o reconhecimento do valor das pessoas envolvidas em todo o processo pois, ao final do dia, o mérito por transformar ambientes em oportunidades sempre será delas.

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