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Nossa capacidade de gestão e liderança vai muito além do gênero

Foto: Daniel Zimermann.

Se você parar para conversar por quinze minutos com a maioria das mulheres que te cerca, vai perceber que a rotina delas converge em alguns pontos.

Especialmente aquelas em cargos de liderança, ainda se dividem entre os cuidados com a casa e a família, enquanto vivem estudando para se manter nas posições que tanto almejaram.

E não é incomum que, mesmo com mais formação, experiência e tempo de carreira, elas ainda percam oportunidades para homens.

Este texto não é, exatamente, um protesto em relação a essa situação, embora seja necessário jogar luz a esta situação.

Mas é, sim, um convite a uma reflexão às próprias mulheres: você já parou, hoje, para pensar em tudo o que faz e quantas conquistas já acumulou na sua carreira?

Para quantas delas você deu o devido destaque, comemorou o quanto deveria, sem ser taxada de arrogante, ou algo do tipo?

E em quantas vezes, ao longo da sua carreira, alguém lhe disse, de forma explícita ou velada, que precisaria de um homem para dar o suporte necessário ao seu crescimento profissional?

Ao longo da minha carreira me deparei com diversas situações assim. A começar pela minha primeira profissão em Blumenau: sou policial militar formada na primeira turma feminina da cidade, há mais de 25 anos.

Você pode imaginar que, se ainda hoje isso soa incomum, há duas décadas, parecia quase um absurdo. 

Mas foi lá que aprendi que nossa resiliência, capacidade de gestão e liderança vão muito além do gênero ou do que insistem em rotular.

Depois, atuei no serviço social, onde entendi que questionar, manter os princípios e não se deixar abalar forjam profissionais que, para além da rotina, ainda sabem ser humanas.

E aí veio a tecnologia, espaço majoritariamente masculino, onde por muito, mas muito tempo, fui rotulada como “a esposa do dono”.

Organizar as áreas administrativa e financeira e depois encabeçar um projeto de inovação, para muitos, não foi suficiente para mudar esse rótulo. 

Ao longo destes anos, ouvi e entendi diversas indiretas e diretas, questionamentos que com certeza não enfrentaria se não fosse mulher. Minha resposta a todos foi ignorá-los, mostrando serenidade e confiança em minha capacidade.

Não é tarefa fácil, nem sempre existe ética ou acordos justos. Nem sempre é fácil passar por cima de situações com um sorriso no rosto.

O silêncio pode ser a melhor resposta, quando acompanhado de um belo trabalho, apesar de não ser suficiente muitas vezes.

Mas aos poucos estamos mudando essa realidade. E acredito que nosso maior legado, além de nossa trajetória profissional individual, será entregar para nossas filhas um ambiente menos hostil e mais receptivo a elas. 

Não somos multitarefas apenas porque fomos criadas para cuidar da casa, dos filhos e do emprego ao mesmo tempo. Somos multitarefas porque somos eficientes, estudamos e nos dedicamos às iniciativas que resolvemos abraçar. 

Neste mês da mulher, meu desejo é que todas nós tenhamos serenidade para mostrar nossa capacidade para além do gênero. E que nosso trabalho seja posto na vitrine com a mesma igualdade de nossos colegas homens. 

Ser mulher não é fácil, mas é também uma dádiva. Porque temos uma alta capacidade de ressignificar, reorganizar, se reerguer.

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