Abordar o tema empoderamento feminino tem ganhado cada vez mais espaço nas pautas. Mas muito além de sermos apenas mulheres buscando sua valorização, entendo que o maior desafio é fazer a sociedade compreender que somos multitarefas e carregamos uma enorme carga de exigência dividindo lugar e importância entre vida pessoal, profissional e muitas vezes maternal.
E por que essa subdivisão de vida maternal? Porque muitas mulheres se identificam com o que vou discorrer nesse artigo.
Ser mãe e profissional impõe desde muito tempo ter que viver provando que é possível. Escolher ser mãe e não abandonar sua carreira ainda é visto como não priorizar a maternidade e em contrapartida se opta “apenas” por ser mãe é porque não é capaz de fazer as duas coisas.
Como entender esses julgamentos? Eu preferi respeitar a mim mesma e aquilo que eu acreditava: ser tudo aquilo que queria!
Desde muito jovem, sabia bem que o que me encantava era ser uma profissional respeitada e qualificada. Almejava uma carreira promissora e bem sucedida. Não tinha o grande sonho da maternidade, minha motivação era buscar ser independente.
Para isso, sempre me dediquei aos estudos, sendo sempre uma aluna exemplar, com bom rendimento e sonhando alto. Na cabeça adolescente pensei em mil coisas: fazer intercâmbio, morar fora do país (sem falar outro idioma, pense?!), cursar a faculdade de direito e conquistar o sonho de ser advogada criminalista. No entanto, sempre tive uma veia romântica, também pensava em casar… Mas não necessariamente ter filhos.
Porém, aos 18 anos engravidei: será que o sonho deveria ficar para trás? Eu decidi que não. Os rumos mudaram, não pude ingressar no curso de Direito, mas cursei Administração, e não me arrependo. Durante a faculdade fui mãe duas vezes, não parei nenhum semestre, não parei de trabalhar e tampouco reprovei. Me formei no tempo regular, com um filho de 3 e outro de 1 ano. Em seguida fiz minha primeira pós-graduação e assim permaneço até hoje.
Os degraus não foram fáceis de subir, com duas gestações, uma forte exigência pessoal e com uma garra incrível de ser uma boa profissional. Mas sem esforço não há resultado. Pude conciliar a família com os estudos e com o trabalho, mas confesso houve dias que foram duros, muito duros. Mas não me arrependo. Apenas, talvez com a sabedoria dos meus 40 anos, hoje faria algumas coisas um pouco diferentes, as quais quero compartilhar.
A prioridade de nossa vida deve estar na satisfação pessoal sim, mas principalmente canalizada no que realmente importa quando tudo não vai bem: a família, as pessoas que mais amamos. As coisas, a fama, o status de uma carreira sólida e bem construída não substituem um Eu te Amo sincero. Aí está toda a energia que precisamos nos abastecer para sermos bem sucedidas em todas as áreas.
Outra lição que aprendi: precisamos encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, exaustivas horas extras só te colocarão em um novo platô, mais desgastante, e o resultado será muitas vezes o mesmo. Mais uma questão: não se fixe no que dizem ser certo ou errado, a sociedade tem disso, mas o que importa é se funciona bem para você e para sua família.
Quando formamos uma família, seja ela como for, ela é única e sua, não importa a configuração. É um jeito particular e privado e só diz respeito a quem está inserido nela. Você, profissional e mãe, é como discutir se parto é melhor natural ou cesariana, mãe é mãe e parto é vida e ponto. Ceder às pressões de ser mais ou menos mãe por isso ou por aquilo, não fazem o menor sentido.
Esse mês tive uma das maiores realizações da minha vida: publiquei um livro. A convite da Editora Gregory (SP), me juntei a mais 20 autoras, mães e profissionais, que contam suas biografias e testificam do tema maternidade e carreira. Foi mágico revisitar tantos momentos e ter a certeza que no fim da história tudo tem seu propósito. Eu acredito que Deus une propósitos, e essa obra seguramente fez isso. Fechou ciclos, testificou e atestou de que afinal, temos um autor perfeito da nossa história, Deus, e o nosso papel é de protagonista ao qual nos cabe uma grande responsabilidade: o legado que deixaremos.
E assim sigo: dominando a arte de ser empresária e mãe.
Hoje, profissionalmente ocupo uma posição de alta gestão em uma indústria, com filhos adultos, gratos e orgulhosos dos logros de sua mãe. Como mãe, hoje sigo no mesmo papel, ser mãe, com outros desafios, em uma outra fase. Poderia não ter obtido sucesso profissional, mas a maternidade seguramente não seria a responsável, porque sim, é possível.
Aprender a ser alguém resiliente, perseverante, autêntico, frágil, forte, gerir o tempo, priorizar mais o ser e menos o ter nos fará não só mães melhores, mas pessoas inspiradoras e admiradas, mãe e profissional equilibrada, e isso nos será brindado com filhos que certamente serão o mesmo: seguros e convictos em suas escolhas no decorrer da vida. E na vida profissional vale o mesmo, teremos uma equipe de valor, sensível, focada e que traz resultado, pelo simples fato de serem quem são e estarem em constante aprendizado e logo, aperfeiçoamento. Com erros e acertos, continuo me aperfeiçoando. (Texto extraído do livro Maternidade e Carreira).