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Sirimiri, palavra que irriga o cooperativismo

Foto: arquivo pessoal.

Estive há algumas semanas em Mondragón, cidade espanhola considerada a capital mundial do cooperativismo.

É lá que nasceu em 1956 a Corporação Mondragón (MCC), maior grupo cooperativo do mundo e referência para quem quer entender o modelo de funcionamento das cooperativas. Pelo seu gigantismo, é hoje o maior grupo empresarial do país Basco e o sétimo da Espanha.

O complexo de Mondragón reúne mais de 120 cooperativas que atuam nas mais diversas áreas. Mais de 90 mil trabalhadores cooperados habitam e orbitam essa galáxia, algo sem comparação em qualquer outro país.

Entre inúmeras visitas e contatos inspiradores, tive a oportunidade de trocar ideias com Ander Etxeberria Otadui, responsável pela área de difusão cooperativa da MCC.

O ponto central que busquei saber dele: qual o segredo de Mondragón para a formação de uma mentalidade cooperativista capaz de cultivar e perpetuar um modelo tão bem-sucedido?

Aqui a vida é cooperativa. É possível nascer no hospital criado pelos fundadores do cooperativismo e, na velhice, receber cuidados em um lugar administrado cooperativamente. Entre uma fase e outra da vida, é possível usar instituições cooperativas para todas as etapas da educação, incluindo formação profissional e universidade, fazer as compras diárias, usufruir de serviços financeiros, ter um sistema de seguridade social, aprender idiomas, receber conselhos empresariais, contratar serviços de limpeza, ser informado sobre o que está acontecendo etc…”, respondeu ele.

Ou seja, o cooperativismo está em toda parte. Não à toa, é a região espanhola com a menor taxa de desemprego e menor desigualdade econômica.

Tudo isso que o dirigente me falou pode ser resumido em uma palavra apenas e que ouvi incessantemente nas conversas por lá: sirimiri.

No idioma basco significa algo como chuva miúda, chuvisco. Através de uma imagem bastante feliz, sirimiri sintetiza o que acontece em Mondragón: como uma chuva mansa e persistente, o cooperativismo e seus conceitos irrigam o tempo inteiro a vida de todo mundo. Vem de todos os lados, fertiliza os mais variados tipos de solo, evidenciando o poder transformador das cooperativas, a base do desenvolvimento e da própria existência de Mondragón.

Os ensinamentos embutidos na interação com os colegas espanhóis remontam a um ponto que já abordei em colunas anteriores: a importância de comunicar melhor o cooperativismo.

No Brasil, somos bons em trabalhar de modo cooperativo, ou pelo menos nas regiões onde o sistema se encontra mais desenvolvido, como o Sul, mas ainda temos muito a avançar na esfera da conscientização, formação cooperativa e preparo do terreno para as próximas gerações. Este, a meu ver, é o principal nó para pavimentar o futuro do cooperativismo no país.

E para chegar lá não é preciso reinventar a roda. O caminho já foi proposto e testado com ótimos resultados. A palavra para irrigar o futuro do cooperativismo é sirimiri.

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CEO de cooperativa de crédito, autor de livros sobre cooperativismo e Influenciador Coop do Sistema OCB.

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