Para uma startup, o processo de captação de investimentos é fundamental. Seja para escalar ou para produzir o Produto Mínimo Viável, receber um aporte pode significar o desenvolvimento e até a sobrevivência do negócio. Mas como está o cenário de investimentos? O que o mercado oferece de novo e o que podemos esperar de tendências desse setor?
Para saber um pouco mais sobre essa temática, o Economia SC Drops conversou com Fernando Trota, CEO e co-fundador da Triven, empresa que atua com serviços de backoffice. Além disso, ele acredita que o setor vive uma virada de ciclo e um processo de amadurecimento que pode ser muito positivo.
Ainda segundo o empresário, o Brasil está retomando a essência do venture, que é o foco em negócios disruptivos, inovadores e com propósito. Ele destaca, ainda, que o venture capital vai continuar existindo, mas com investidores mais exigentes e com um olhar mais atento ao planejamento dos negócios.
Confira a entrevista exclusiva abaixo:
O que é o CFO as a Service e como surgiu a ideia para esse modelo de negócio?
Fernando: A Triven foi a pioneira do modelo CFO as a Service no Brasil. Surgiu em 2015, de uma forma orgânica, quando um cliente nos pediu apoio para contratação de um CFO, e identificamos que não havia necessidade de a empresa, naquele estágio de desenvolvimento, contratar um CFO full-time, que invariavelmente seria um profissional caro e ocioso até que a empresa ganhasse “musculatura” ao longo do tempo e atingisse um tamanho que justificasse a existência dessa pessoa. Esse cliente estava inserido em um ecossistema relevante (Cubo em São Paulo) e foi o nosso principal promotor junto a outros empreendedores com as mesmas dores. Essa startup é nossa cliente até hoje e passamos a crescer muito a partir deste MVP. O CFO as a Service é uma solução que envolve a padronização de processos, metodologia, ferramentas, tecnologia e melhores práticas juntamente com disciplina operacional e apoio tático e estratégico com o propósito de apoiar os empreendedores na sua gestão financeira, trazendo para eles melhor alocação do seu tempo, riqueza de informações e maior sustentabilidade no processo de tomada de decisão e crescimento.
Como está o cenário atual de venture capital para o setor de tecnologia e inovação?
Fernando: A situação atual está relacionada a fatores macroeconômicos, como retração da economia, aumento das taxas de juros no mundo, incluindo países desenvolvidos, para conter suas inflações, e a preferência dos investidores neste momento por ativos que ofereçam menor risco. Os investimentos em startups totalizaram US$108,5 bilhões no segundo trimestre de 2022, uma desaceleração de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para nós, isso é apenas a evolução natural do ecossistema. É como se fosse a volta às origens do venture capital, onde realmente somente os bons ativos; aqueles que efetivamente representam uma inovação relevante, vão receber aporte. Os investidores estão mais seletivos, assim como eram há alguns anos. A essência do mercado de inovação sempre esteve vinculada a um propósito de mudar o mundo e a forma como as pessoas se relacionam com o consumo de determinados produtos. E a premissa sempre foi de investir nessas grandes iniciativas de inovação. Para bons projetos, sempre vai haver dinheiro. O que não muda é que, quando um investidor quer realizar um investimento em uma startup – não importa o mercado e o tamanho, ele vai investir. Ou seja, para startups focadas em criar valor e resolver as dores do mercado, sempre haverá investimento.
Como as startups precisam se organizar para esse momento de investimentos?
Fernando: Diante desse novo cenário, a ideia agora é olhar cada projeto e dar cada passo sendo muito mais diligente e mais criterioso no uso dos recursos de terceiros. O empreendedor deve pensar: “se fosse o meu dinheiro, eu faria isso ou acharia uma maneira criativa para esta iniciativa?”. Em momentos de menor disponibilidade e liquidez, é necessária uma gestão financeira muito mais eficiente, baseada em indicadores consistentes e que gerem informações relevantes para tomada de decisão. Empreender com recursos limitados não é uma tarefa fácil. A maioria dos empreendedores cai na armadilha de achar que sabe operar uma área financeira e que basta contratar um bom ERP, e alguém organizado para fazer contas a pagar e receber. É absolutamente necessário que se tenha uma área financeira estruturada e boas cabeças apoiando os founders em tomadas de decisão.
Quais estratégias devem ser estruturadas para a captação e uso de recursos?
Fernando: Para a captação de recursos, eu entendo que as premissas não mudam: um produto inovador, time e capacidade de execução comprovada, uma modelagem financeira consistente com premissas bem fundamentadas e uma narrativa coerente. O investidor busca sempre negócios que estejam cada vez encaixados em um quadrante de produto maduro versus growth relevante (acima de 2 a 3 vezes ao ano). Para qualquer relação diferente dessa – principalmente no que diz respeito a growth – a atratividade para investimentos é muito baixa e a startup deve considerar outras formas de funding; dívida, serviços para financiar o produto, novas linhas de receita, etc. Um caso clássico foi o Airbnb, que vendeu cereais para financiar seus primeiros movimentos, o que mostrou total “skin in the game” dos fundadores. Quanto ao uso dos recursos, existe um conceito que passa cada vez mais a ser usado, que é o de “custo produtivo”, ou seja, investir recursos somente naquilo que gera receita a curto e médio prazo; priorizar iniciativas de acordo com esse critério. A Triven criou um conceito de Finance Hacking, ou seja, um mindset usado para maximizar o potencial financeiro de uma startup com o menor gasto possível, podendo ser aplicado em todas as decisões que envolvam a utilização de recursos.
Qual o futuro do venture capital no Brasil?
Fernando: O sonho de todo empreendedor brasileiro era transformar seu negócio em um unicórnio. O novo mantra agora é ser “centauro”, como são conhecidas as startups com faturamento anual na casa das centenas de milhões de dólares. Um “centauro” tem muito mais liquidez que um unicórnio. Além disso, eu acredito que será cada vez mais comum começarmos a ver operações secundárias desses ativos, ou seja, compra e venda de participações em startups, um mercado de balcão cada vez mais regulado e maduro.
Quais os próximos passos e metas da Triven?
Fernando: Do lado de serviços estamos neste momento implantando novas verticais para consolidar nossa posição como um player “one-stop-shop” de backoffice as a service, apoiando as startups em outras frentes estratégicas, além da financeira.
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