Por Daniela Pinho, sócia-fundadora da Cristalina Saneamento.
De 2020 para cá, o termo ESG teve uma ascensão meteórica. Os dados comprovam a relevância que a sigla adquiriu por aqui: o Brasil foi o país latino-americano que mais procurou pelo tema na internet nos últimos 12 meses. E, considerando nações de todo o mundo, estamos no top 25, de acordo com levantamento do Google Trends. Nesse período, tivemos uma avalanche de matérias na imprensa e eventos. O mercado financeiro, principalmente, sentiu a urgência de buscar oportunidades de investir em companhias preocupadas com as três dimensões: ambiental, social e de governança.
Ou seja, o foco em ESG passou a fazer parte do discurso das empresas. E, em muitos casos, ficou apenas nisso: discurso. Assim como, há pouco tempo, aconteceu com outra buzzword: transformação digital. Todo mundo fala, mas quem de fato pratica no dia a dia? Quando nos aprofundamos na realidade, percebemos que a sustentabilidade ainda não foi colocada no coração das estratégias corporativas.
Se foi exponencial a ampliação do debate sobre o assunto, infelizmente, também foi a do risco de green e social washing. Ou seja, a “casca” é sustentável, mas o interior não. Um observador mais atento consegue perceber a clara diferença entre o fazer ESG e o ser ESG. Para ser alguma coisa, aquilo tem que vir de dentro para fora; porém, para fazer, não é necessário. A mudança é, em primeiro lugar, cultural e envolve tomada de consciência. Só depois disso é que leis e regramentos terão eficiência.
A questão de fundo é que o ESG ganhou força porque agrega uma visão importante ao planejamento de risco. Portanto, a origem do esforço não está em fazer a diferença para as comunidades onde estamos inseridos ou modificar o jeito de fazer negócios. Se os executivos partissem de uma premissa mais humanizada, inclusive, seria até mais rentável para suas operações. Afinal, não há escolha entre lucro e sustentabilidade, mas uma relação de cada vez mais interdependência entre esses dois elementos.
Sim, já é um avanço expressivo o ESG entrar na pauta das organizações e ser debatido pela opinião pública. Definitivamente, virou mainstream. Sim, diversas iniciativas adotadas até aqui são inspiradoras e apontam para onde devemos ir. Mas é preciso, agora, alterar profundamente a mentalidade — e converter discurso em ação. Ou perderemos uma oportunidade única de transformar o mundo em que vivemos.