Fazer a análise SWOT (ou FOFA: forças, oportunidades, fraqueza e ameaças) é um dos pré-requisitos de todo estrategista de marketing. No entanto, eu falhei em mapear ficar doente no SWOT da minha própria empresa, revisada periodicamente. Enfrentar um tratamento de câncer não estava no meu planejamento estratégico. Acredito que não está no planejamento de ninguém, seja ou não empresário.
Câncer é uma doença antiga e uma metáfora contemporânea: superprodução, crescimento acelerado, escalável e de alta performance. É como ter um empreendimento maligno super bem sucedido dentro de si. Frases de efeito como “ou você está crescendo ou está morrendo” valem tanto para negócios quanto para o câncer.
Preciso ser sincera: eu sempre soube da possibilidade de ter câncer de mama. Minha avó materna teve e precisou fazer uma mastectomia radical. Além de, até então, levar um estilo de vida saudável, eu venho fazendo exames anuais desde a faixa dos 20 anos.
Então, não fui pega totalmente desprevenida. No dia em que eu percebi um caroço, eu sabia que havia chance de ser câncer. No mesmo dia eu estava no consultório médico e dois dias depois, tinha o resultado do primeiro exame, com alta probabilidade de ser um tumor maligno.
Ainda assim, eu tinha um planejamento estratégico um tanto audacioso para implementar na empresa e toquei ao máximo que meus novos limites permitiram. É uma competição em que não pode haver empate: ou o tumor ou eu, somente um de nós dois sairá vencedor.
Ao contrário do que muitos pensam, o diagnóstico de câncer não tira o chão, ou ao menos não tirou o meu chão de uma vez. Conviver com o imperador de todos os males tem sido muito mais como estar em um elevador num filme de suspense, parado, que cai alguns andares, para, e tornar a cair novamente, e depois para.
Colocando questões pessoais de lado, a empresa e os compromissos que a pessoa jurídica assumiu precisam seguir adiante. Como empresária, os pratinhos precisam continuar girando.
Os contratos precisam ser cumpridos. Os clientes contam com materiais, campanhas, otimizações e resultados. Algumas coisas não podem ser colocadas em pausa. É uma questão de auto responsabilidade de aceitar que clientes e colaboradores não têm culpa se algum dos sócios fica doente e o impacto deve ser minimizado.
Após alguns meses nesta jornada de tratamento enquanto paciente oncológica e empresária, pude validar algumas teorias e aprender algumas lições.
Quem está ao seu lado nas trincheiras vale mais do que a própria guerra
Encontrei muita empatia, carinho, generosidade e compreensão neste tempo todo, de todas as partes. Desde meu sócio e marido, time, clientes e demais envolvidos. Validei ter feito uma excelente escolha com meu sócio e marido, provavelmente uma das mais importantes da minha vida. Vale a pena contratar as pessoas que são gente fina, não só o melhor currículo. São as pessoas que vão segurar as pontas, dar apoio moral, topar reagendar compromissos e até mesmo mimar em momentos inesperados. As pessoas são mais generosas e gentis do que aparentam.
As pessoas não estão preparadas para ficar doentes
Mesmo entre pessoas esclarecidas e de classe média alta, muitas pessoas não fazem um acompanhamento anual da saúde. Eu fiquei assustada com a quantidade de pessoas que vieram falar comigo que não tem seus exames em dia, seja por falta de conhecimento, procrastinação ou até mesmo medo de descobrir alguma coisa. O estilo de vida é um dos principais fatores de prevenção ao câncer. Eu já levava uma rotina de exercícios diários e dieta regrada. Mesmo assim, a loteria genética me sorteou.
Há muito estigma por trás do câncer
A prevenção e o diagnóstico precoce do câncer podem salvar vidas, chegando a 95% de chances de cura se descoberto em estágio inicial. Por ser uma doença silenciosa, a maior parte dos pacientes de câncer descobre a doença nos estágios 3 e 4, o que torna o tratamento mais longo, agressivo e pode diminuir a sobrevida.
Nem todos os dias são ruins
Passar pela fase de diagnóstico e tratamento é tenso e emocionalmente desgastante, tanto para o paciente quanto para a família. O tratamento traz consequências visualmente inegáveis e múltiplos efeitos colaterais empilhados que desgastam o organismo. Mas àqueles que não se permitem cair em estado de vitimização, permite uma nova perspectiva de vida e a apreciação de prazeres simples e essenciais e momentos de alegria e esperança.
Ostra feliz não faz pérola
Existe um conceito na psicologia chamado de de crescimento pós-traumático, ou seja, quando uma pessoa consegue evoluir e aprender depois de uma situação difícil. Acredito que ninguém escolhe passar pela situação em que me encontro no momento. No entanto, colocar a coragem e a resiliência à prova podem ser oportunidades de evoluir como ser humano, em todos os seus papéis.