Desde 1961, o Brasil reserva o dia 2 de julho para celebrar o hospital como protagonista no universo da saúde. O Dia do Hospital é uma oportunidade para enaltecer a importância dessas instituições perante a sociedade, como também para homenagear os profissionais que nelas trabalham, além de refletir sobre como estão atendendo às necessidades da população.
“O hospital vai se reinventando a cada dia”, pontua José Tadeu Chechi, diretor-geral do Hospital Dona Helena, de Joinville.
Nesta entrevista, ele aborda o desafio de implementar novas soluções em saúde, com base na inovação, sem perder de vista os princípios que norteavam as instituições mais antigas, com um atendimento humanizado, olho no olho.
“Como fazer isso? Fortalecendo os valores que praticamos, que não podem ser apenas um quadro na parede”, sublinha o diretor.
Como o Dona Helena vivencia o conceito da hospitalidade? É possível olhar para o futuro e, ao mesmo tempo, preservar a essência deste conceito, adotada nos primeiros hospitais de que se tem notícia?
Um dos desafios que vivemos é equilibrar os protocolos, as rotinas, o planejamento estratégico – balizado em referências nacionais e internacionais –, tudo para garantir a segurança do paciente. Todos os pacientes são (e devem ser) tratados do mesmo modo. Mas, do ponto de vista de quem recebe o atendimento, cada paciente é especial. O mesmo princípio vale para a relação com os funcionários – tratamento com equidade, ainda que sejam diferentes. Como fazer isso e encontrar o ponto de equilíbrio? Fortalecendo os valores que praticamos. Os valores não são um quadro que fica na parede. Aplicamos ética, comprometimento, responsabilidade, humanização no nosso dia a dia, em um cenário onde temos pessoas com perfis diferentes. As pessoas pensam de maneira distinta, têm formas diferentes de agir, e temos que respeitar essa individualidade. A hospitalidade é fundamental para o que o paciente se sinta alguém especial, um indivíduo único que merece atenção particularizada porque tem necessidades diferentes da pessoa que está ao seu redor.
Provavelmente, o paciente não gostaria de estar no hospital, mas ele precisa ser atendido da melhor forma possível, para atravessar essa situação difícil e restabelecer sua saúde…
Exatamente. Via de regra, afora momentos como dar à luz ou fazer um check-up, a gente vai ao hospital quando está com dor, por algum problema de saúde. Isso desgasta a pessoa, que chega até nós sem saber o que fazer, sem saber o que tem, querendo um diagnóstico breve e preciso. Isso gera insegurança. Mesmo quando o caso é de uma cirurgia ou para algum tratamento, o paciente fica vulnerável, e devemos cuidar dele da melhor maneira possível. Posso não oferecer a comida que ele gostaria, porque a saúde não permite, mas, durante sua permanência conosco, precisa que façamos o melhor, dentro das nossas possibilidades. Quando recebemos um elogio, uma manifestação espontânea, é a maior recompensa que se pode ter.
De que forma a experiência tão desafiadora da pandemia mudou o papel social do hospital, e o reconhecimento público da importância das instituições de saúde?
A área da saúde, assim como a da educação, nunca foi tida como prioridade. Médicos, enfermeiros, nutricionistas etc. eram vistos como profissionais comuns. A pandemia elevou o patamar da categoria, porque todo mundo, de alguma forma, percebeu a relevância da saúde na vida das pessoas. Tivemos uma valorização. Não do ponto de vista financeiro, mas pelo esforço empreendido na pandemia para darmos a melhor assistência, com profissionais muitas vezes se expondo. A pandemia deixou um legado, em termos de reconhecimento social da área da saúde. Quanto ao hospital, o aprendizado foi sobre o quanto é importante trabalharmos mais unidos, entender que um depende do outro, seja qual for sua função, turno ou setor – tudo é uma coisa só, e temos que tentar construir uma unidade, uma uniformidade na maneira de atender o paciente, com segurança e humanização.
Em que os fundamentos da qualidade, que já fazem parte da gestão há muitos anos, e os investimentos mais recentes em inovação, contribuem para construir o hospital do futuro, lembrando que o Dona Helena ruma para os 110 anos de história?
O hospital vai se reinventando a cada dia. Em mais de um século, passamos por inúmeros momentos da história do país, atravessamos duas pandemias – a gripe espanhola e o coronavírus… Eventos dessa natureza são desafiadores para todo o mundo e impactam diretamente na saúde. São momentos extremamente difíceis que nos impulsionam com maior velocidade na direção das mudanças necessárias. O que acontece hoje é um momento de adaptação para esse cenário novo, em que a tecnologia tem papel diferenciado, e buscamos emponderar o paciente no seu tratamento. Hoje, ele tem o poder de participar ativamente do tratamento, obtendo informações, pesquisando… Já chega até nós com informação para discutir com o médico sobre o tratamento. A inovação é olhar para o futuro, novas soluções, telessaúde, ações voltadas à prevenção… É nessa linha que temos trabalhado fortemente no hospital desde que implementamos nosso ambulatório de especialidades, no Centro Clínico Dona Helena, como também por meio de uma aproximação cada vez maior com as empresas locais, de onde vêm inúmeros pacientes. As empresas estão abrindo as portas para que nossas equipes ministrem palestras e ações sobre temas de saúde, e seus gestores vêm para conhecer a nossa estrutura, nossa capacidade de atendimento, para que fiquem tranquilos com o que podem oferecer aos funcionários e dependentes. Passamos por um momento de aproximação, entre as instituições de saúde e os seus usuários, à medida que precisamos trabalhar mais a prevenção. Com a inovação, os diagnósticos se tornam cada vez mais assertivos e as doenças são detectadas mais precocemente, que gera um menor impacto para a pessoa doente, aumentando as chances de cura.
Como fazer que essa frente voltada à inovação não desumanize o hospital?
Talvez seja o nosso maior desafio. Precisamos fortalecer e ressignificar a comunicação entre as pessoas, o olho no olho. As novas gerações têm menos vínculo com as instituições, dificilmente você vê uma pessoa ficando cinco ou dez anos no mesmo emprego, as pessoas querem conhecer coisas novas. É importante que a gente busque fidelizar as pessoas que nos procuram, sejam pacientes, sejam funcionários, independente do foco na inovação. A essência do paciente é, e sempre vai ser, o cuidado, que envolve os valores centrados da humanização, da filosofia cristã, tudo isso em que acreditamos. Estamos aqui para cumprir uma missão, alinhada com os valores institucionais, e isso deve orientar o trabalho na formação de equipes afinadas, desde a seleção de novos profissionais, no recrutamento. Para que todos possam garantir o suporte e o atendimento adequado que esperamos.
O Dona Helena experimenta uma trajetória de crescimento contínuo em sua estrutura, nos últimos anos. Alguma novidade para este próximo semestre?
Algumas demandas estão em curso, com a atualização recente do planejamento estratégico, que estabelece metas para os próximos cinco anos. Um ponto a destacar, resultado do planejamento, foi o ajuste que fizemos em nossa estrutura de atendimento para enfrentar a epidemia da dengue. Tivemos que agir rapidamente, adaptar a capacidade do hospital a um volume de atendimentos que aumentou muito, desde o início de abril. De um dia para o outro, abrimos 22 novos leitos de internação, ampliamos a estrutura da Emergência, e a consolidação do planejamento foi fundamental, como também os próprios requisitos da qualidade. É importante essa resposta rápida, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, para que o paciente responda e reverta um cenário de doença que poderia se agravar. Antes da epidemia de dengue, vivemos o auge da pandemia, em que também precisamos ser ágeis. O hospital tem capacidade de reação muito rápida, a estrutura e as pessoas estão preparadas para agir rapidamente ante essas demandas que surgem. Outro ponto a ressaltar diz respeito às crianças. Pela ausência de exposição a vírus e bactérias, no dia a dia, elas deixaram de adquirir ou fortalecer sua imunidade, especialmente no caso de crianças pequenas. Também houve casos de crianças que não se vacinaram, o que gerou um aumento das intercorrências com esses pacientes, já que a vacina auxilia no desenvolvimento de imunidades. Quanto à estrutura, vale destacar que seguimos no processo de consolidação da Unidade de Saúde Mental (USM), e tivemos uma expansão importante da Oncologia. Também temos investido em ações de sustentabilidade. Um bom exemplo é o inventário de pegada de carbono, que será submetido em setembro aos órgãos regulamentadores.