O cooperativismo é a mais justa e equilibrada forma de organização humana. Preserva a liberdade para entrar ou sair, dá ao cooperado voz nas decisões, distribui resultados de maneira proporcional à participação de cada um na cooperativa e desenvolve os lugares onde atua.
Hoje quero abordar outro superpoder do movimento, sobre o qual precisamos falar mais: o cooperativismo soluciona. É sobre isso, o cooperativismo que produz soluções, que falo no meu novo livro com lançamento agora em outubro: o Coopbook Soluções.
O livro encerra a trilogia Coopbook, que comecei a escrever em 2021 (os dois primeiros são o Coopbook – Cooperativismo de A a Z, no qual apresento os conceitos básicos das cooperativas, e o Coopbook Diálogos, em que convido especialistas para discutir os desafios do movimento).
Neste novo livro, o Coopbook Soluções, mostro como as cooperativas resolvem de verdade os desafios da vida real. A solução para produzir frutas no sertão, rentabilizar a pequena agricultura, gerar autossuficiência em energia limpa, solucionar a questão carcerária e muito mais. Tudo isso é possível quando a ideia da cooperação está presente.
Pesquisei e fui buscar exemplos reais para ilustrar isso. A Coopeavi, no Espírito Santo, inovou e criou o primeiro condomínio avícola do Brasil. Hoje abriga 300 mil aves e oferece alimentação, hidratação, acompanhamento de saúde para as aves e logística mais eficientes, o que permite um ganho de competitividade para o pequeno produtor. O cooperado pode até ter galinhas poedeiras sem ter uma granja.
No Rio Grande do Sul, a Rede Técnica Cooperativa (RTC) centraliza a pesquisa para 30 cooperativas agrícolas. Funciona como um hub de inteligência e inovação para todas as associadas, sejam pequenas ou grandes. Desenvolve seis linhas de estudos, da fertilidade do solo ao manejo de doenças e pragas. Graças à RTC, em 2020 as cooperativas filiadas debelaram em tempo recorde a cigarrinha-do-milho, inseto que devasta a lavoura.
Na Coostafe, no Pará, mulheres cooperadas se dedicam ao artesanato, com um detalhe: todas as cooperadas são detentas. É a primeira cooperativa do Brasil a ser fundada em uma penitenciária. Aprendem desde artesanato até a gestão da cooperativa. Existe desde 2014, mais de 300 detentas passaram pela cooperativa e nenhuma voltou ao crime.
No interior da Bahia, mulheres criaram uma cooperativa para processar frutas da Caatinga. É a Ser do Sertão, dedicada a beneficiar frutas que tinham pouco valor comercial como o umbu. Hoje processa 2,5 mil toneladas de polpa por dia e abastece a merenda escolar da região. São 300 cooperadas gerando renda e protegendo um bioma exclusivamente brasileiro.
Se você folhear o livro, verá outros exemplos. Mas por que o cooperativismo soluciona as coisas? Porque inova sem parar, mantendo a capacidade de se transformar, há 179 anos. O grande desafio no Brasil é disseminar essa ideia.
Como fazer o cooperativismo chegar a todo mundo? Para você ter noção do quanto precisamos avançar, no nosso país continental apenas 20,5 milhões de pessoas são cooperadas, menos de 10% da população. Como comparação, na Alemanha um terço da população é filiada a cooperativas de crédito, sendo que existem outros seis ramos no cooperativismo para unir os alemães.
Para desatar esse nó, existe uma palavra: sirimiri, que no idioma basco significa chuva miúda, chuvisco. Conheci-a quando visitei Mondragón, cidade espanhola considerada a capital mundial do cooperativismo.
Lá, é possível usar instituições cooperativas para todas as etapas da educação, incluindo formação profissional e universidade, fazer as compras diárias, usufruir de serviços financeiros, ter um sistema de seguridade social, aprender idiomas, receber conselhos empresariais, contratar serviços de limpeza, ser informado sobre o que está acontecendo etc. Praticamente toda a população é cooperada.
Como uma chuva mansa e persistente, o cooperativismo e seus conceitos precisam irrigar a vida de todo mundo.
