Por Ronaldo Oliveira, CEO da Giro.Tech.
A prática do crediário, onde os consumidores podem adquirir produtos e serviços parcelados, não é uma novidade no mundo do varejo. Há décadas, empresas varejistas têm oferecido opções de pagamento a prazo como parte de suas estratégias de vendas. No entanto, nos últimos anos, esse cenário tem passado por uma revolução silenciosa, com a bancarização do crediário emergindo como uma tendência dominante no setor.
A evolução do crediário
Por muitos anos, as empresas varejistas operaram o crediário “no balanço”, o que significa que elas estendiam o crédito aos clientes sem a estrutura de uma instituição financeira tradicional. Isso implicava em uma série de desafios, especialmente no que diz respeito às taxas de juros. Como essas empresas não podiam legalmente cobrar juros em vendas a prazo da mesma forma que as instituições financeiras, elas frequentemente incorporavam os juros ao valor de venda dos produtos.
Essa prática impacta diretamente a carga tributária das empresas varejistas, pois o custo do financiamento entra na nota fiscal como parte do valor do produto e é tributada como tal. Isso torna o crediário “da casa” menos eficiente em termos fiscais e esse custo acaba sendo repassado ao consumidor final.
Uma nova abordagem
Com a evolução das regulações e o surgimento de startups especializadas em infraestrutura de crédito, muitas empresas varejistas estão fazendo uma transição significativa para o que é conhecido como “crediário bancarizado”. Esse novo modelo oferece uma série de vantagens tanto para as empresas quanto para os consumidores.
No modelo bancarizado, a varejista opera como uma instituição financeira, embora não seja uma em termos tradicionais. Em vez de estender o crédito diretamente aos clientes, a empresa utiliza sua infraestrutura financeira, apoiada por uma fintech, para operar como uma verdadeira financeira, permitindo-lhe cobrar juros nas vendas a prazo. Isso é feito por meio da emissão de uma Cédula de Crédito Bancário (CCB).
Uma das principais vantagens desse modelo é que a empresa pode vender produtos e serviços pelo valor à vista, eliminando a necessidade de embutir juros nos preços. Isso não apenas torna os produtos mais acessíveis para os consumidores, mas também simplifica a contabilidade e reduz a carga tributária das empresas, uma vez que os impostos são calculados apenas sobre o valor real da venda e a receita de juros é reconhecida em um veículo de securitização.
O avanço da fintechzação no varejo
A transição para o crediário bancarizado é parte de um movimento mais amplo de “fintechzação” que tem ganhado força no mercado varejista. As fintechs, empresas de tecnologia financeira, estão desempenhando um papel fundamental na transformação do setor, oferecendo soluções inovadoras que permitem às empresas varejistas competirem de forma mais eficaz no mercado de crédito ao consumidor.
Essas empresas de infraestrutura financeira fornecem às varejistas as ferramentas necessárias para oferecerem crediários de forma eficiente, desde a avaliação de riscos de crédito até a gestão de pagamentos e cobranças. Além disso, elas também podem auxiliar na captação de investidores, permitindo que as varejistas utilizem o capital de terceiros para expandir suas operações de crédito.
À medida que a infraestrutura financeira continua a evoluir e as regulamentações se ajustam, é provável que a bancarização do crediário continue a crescer, beneficiando tanto as empresas quanto os consumidores. Portanto, é fundamental que as empresas varejistas estejam atentas a essas mudanças e aproveitem as oportunidades que essa transformação oferece para melhorar suas operações e impulsionar o crescimento.