O mês de novembro de 2023 parecia ser o mês da consagração da OpenAI e sua consolidação como líder global no desenvolvimento de Inteligência Artificial. No dia 6 aconteceu o DEVDAY da OpenAI, que foi um evento aprovado totalmente pelo mercado, simplesmente um marco muito positivo na história da companhia, apontando o seu futuro.
Mas, nos últimos dias nós vimos em tempo real o andamento de uma crise sem precedentes na OpenAI, com uma série de decisões que surpreenderam o mundo da tecnologia.
No dia 17, o conselho da empresa resolveu demitir abruptamente o CEO Sam Altman, sem maiores justificativas. A iniciativa, seguida por uma série de ações surpreendentes, acendeu a revolta de 90% dos funcionários, que, em abaixo-assinado, pediram o retorno do CEO e a destituição do conselho.
Altman, nesse meio tempo, foi para a Microsoft e, depois de muitas reviravoltas, acabou retornando para a OpenAI.
Isso fez com que o mundo da tecnologia ficasse muito apreensivo com o futuro da OpenAI e da própria plataforma de Inteligência Artificial que ela lançou no mercado.
Essa crise, que parece ter sido resolvida, pelo mesmo por enquanto, traz uma oportunidade de reflexão mais profunda sobre dois temas fundamentais: Governança e Liderança.
Do lado da Governança, vimos que a empresa tinha uma estrutura esquizofrênica, com disputas entre sua missão institucional, sem fins lucrativos, de criar uma Inteligência Artificial Generalista que proporcione o avanço da Humanidade e a sua operação como Startup, no sistema capitalista, que precisa captar recursos, que são gastos em altíssima velocidade para construir a própria plataforma.
Afinal, criar uma Inteligência Artificial em busca da AGI (a superinteligência) é um empreendimento com um nível de investimento altíssimo, que poucas instituições no mundo conseguem fazer.
A missão altruísta da OpenAI se chocou com as ações direcionadas ao mercado.
A Governança, representada por uma estrutura societária complexa, e pelos membros do Conselho, não deu conta dessa dicotomia. E, quando se chocou com Sam Altman, não foram levados em consideração os possíveis desdobramentos de sua demissão. Faltou praticar a teoria dos jogos na análise, para dizer o mínimo.
No aspecto da Liderança, o que ficou claro é que Sam Altman era, mesmo sem ter nenhuma participação acionária na divisão de produtos da OpenAI, o líder de fato da empresa. Foi ele que acompanhou a contratação de cada um dos mais de 700 colaboradores. Foi ele que conduziu a definição dos caminhos e a criação dos produtos pelos times, ele que fez a captação de dinheiro para financiar a missão da empresa e, também, foi ele que trouxe a Microsoft como parceiro fundamental, com sua infra-estrutura de processamento em nuvem para construir os Modelos de Linguagem de Grande Porte que tornaram possível o lançamento do ChatGPT ao público em Novembro de 2022.
Nesse choque de Governança X Liderança, vimos que a governança precisa compreender a liderança. A governança precisa ser suporte para o fortalecimento, construção e cumprimento da missão da empresa. E fazer isso sem ações intempestivas que podem destruir valor.
A OpenAI estava a caminho de ser avaliada em 90 bilhões de dólares. E caminhando em ritmo acelerado para ser uma empresa de 1 trilhão de dólares. Agora, ao que parece, pode voltar aos trilhos. Com um novo Conselho e Sam Altman como CEO.
Por um lado, fica um exemplo do que não fazer em uma gestão de conselho, e, por outro, o exemplo de gestão de crises, estratégia e resolução de conflitos demonstrado por Sam Altman e, principalmente, Satya Nadella, que acabou sendo, com a Microsoft, o grande vencedor nessa história toda.
Visão estratégica e capacidade de resolver problemas em tempo real é uma necessidade dos verdadeiros líderes de negócios. E absolutamente fundamentais quando se trata de uma Startup que está redefinindo o horizonte de inovação e criando uma tecnologia que pode transformar a humanidade.