Siga nas redes sociais

Search

Saúde mental nas empresas: quando começar a se preocupar com o bem-estar dos colaboradores?

Foto: LAONG/AdobeStock

Guerras ao redor do mundo, cansaço mental, hiperconectividade e traumas da recente pandemia. São vários os elementos que, cotidianamente, impactam na vida e na saúde mental de pessoas e nas empresas, que cada vez mais estão se atentando para este movimento na intenção de oferecer qualidade de vida aos seus colaboradores. Mas não apenas isso. A produtividade, principalmente em empresas que dependem do trabalho mental diário para crescer, está diretamente ligada ao bem-estar das equipes. A questão que entra em pauta é: quando começar a pensar na saúde mental corporativa?

Há um consenso entre os especialistas de que os cuidados devem começar desde o primeiro colaborador, ou seja, o próprio fundador. Para que as empresas tenham sucesso, o bem-estar é determinante na produtividade e na tomada de decisões.

Este ano, a Oyster HR, companhia internacional de gestão de pessoas, lançou o relatório Who gives a shuck? An Oyster report on employee disillusionment. Com 2,5 mil respondentes, 49,7% deles disseram que a saúde mental é a prioridade número um, aparecendo antes de fatores como saúde física, relacionamentos com amigos, hobbies, carreira e crenças religiosas. A mesma pesquisa apontou que 74,6% dos colaboradores têm dificuldade de focar no trabalho por causa das crises que ocorrem ao redor do mundo. 

Após o primeiro colaborador, os cuidados devem continuar, mas tendem a acontecer de diferentes formas a depender do tamanho da empresa. Segundo Iara Sobrinho, psicóloga e CEO da Floway, startup que mede índices sobre saúde mental para organizações, quando a empresa tem até dez colaboradores, todos conversam entre si, o que torna mais fácil identificar problemas e organizar recursos para que todos estejam saudáveis:

Nesta fase inicial, é comum que a startup adote soluções como rodas de conversa, flexibilidade de horário, apoio mútuo entre os funcionários e benefícios que não pesam muito no orçamento“.

Rodrigo Roncaglio, fundador e CEO da Guia da Alma, plataforma de saúde mental para empresas e pessoas,reforça que a criação de uma cultura saudável na startup foi imprescindível desde o dia 1. E, conforme a empresa expande, isso se torna ainda mais latente, a partir de dez colaboradores:

Costuma ser uma fase conturbada, com altos e baixos na estruturação de empresas, o que demanda muita resiliência e maturidade emocional. O trabalho desempenhado nas startups é muito ligado ao mental. Trabalhamos muito mais com o cérebro do que com o corpo. Por este motivo, a qualidade do trabalho é diretamente proporcional à qualidade da mente”. 

Quando a startup passa dos 20 colaboradores, os processos de cuidado são ainda mais desafiadores. A gestão de pessoas precisa lidar com diferentes equipes, que não necessariamente conversam entre si, e algumas vezes de maneira remota ou híbrida, formato cada vez mais comum no Brasil e que, segundo dados de outubro da PNAD Contínua, emprega cerca de 9,5 milhões de pessoas no país.

Garantir que a cultura seja saudável neste ponto é mais desafiador se a conversa sobre saúde mental não começou desde os primeiros dias. Mesmo assim, nunca é tarde para começar”, complementa Rodrigo.

CENÁRIOS

A atenção à saúde mental deve ser de todos os segmentos de empresas. Iara Sobrinho, psicóloga e CEO da Floway, alerta:

Hoje no Brasil temos índices bem preocupantes de adoecimento mental. Uma grande parte da população tem sofrimento mental e somos o país mais ansioso do mundo [OMS]. O Brasil também é o 5° com maior índice de depressão, entre outros dados preocupantes. Se isso está na população, também estará dentro das empresas”. 

Mas há características específicas a depender do segmento e dos cargos, que, segundo a psicóloga, estão ligados a três fatores principais: complexidade, volume de demandas e tempo para tomada de decisão e ações:

Essas são características que impactam diretamente no aumento de estresse e ansiedade, e temos segmentos em que esses fatores estão mais presentes ou lidam com variáveis instáveis e precisam de tomadas de decisão em pouco tempo. Mas também podem ser resultado de uma cultura empresarial que sobrecarrega e causa estresse aos colaboradores, o que torna o adoecimento mais provável”.  

BENEFÍCIOS

Empresas que constroem a cultura em uma base sólida, com diálogo e preocupação com o bem-estar dos colaboradores, tendem a manter experiências saudáveis ao longo da trajetória. Para elas, segundo Rodrigo Roncaglio, as taxas de atestados e afastamento por saúde mental são menores, a retenção de talentos é otimizada e atraem colaboradores muito mais engajados, o que economiza tempo e dinheiro que seriam gastos em novos processos seletivos:

Será uma empresa mais produtiva porque desgaste físico e mental em troca de produtividade só produz resultado a curto prazo, e segue para uma queda na entrega e na motivação. Caso a empresa tenha plano de saúde, o valor da sinistralidade e reajustes pode dar um susto quando os colaboradores usam muito, como consequência de baixo cuidado emocional”. 

Iara Sobrinho completa que o cuidado com saúde mental precisa ser estratégico e estar no escopo inicial do negócio, enraizado na cultura e nas ações:

Os indicadores estratégicos da organização precisam ter, para além de indicadores financeiros como lucro, vendas e performance, o item pessoas incluído nas análises com índices sobre saúde, engajamento e entregas, porque isso impacta na vida e na sustentabilidade do negócio”. 

Compartilhe

Tudo sobre economia, negócios, inovação, carreiras e sustentabilidade em Santa Catarina.

Leia também

Receba notícias no seu e-mail