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Compartilhar conhecimento é um ponto forte do cooperativismo

Foto: divulgaão.

Informação tem um valor inestimável no mercado, e não à toa as organizações se cercam de sigilo sobre suas estratégias. Refletir sobre isso me faz admirar ainda mais o princípio cooperativista da intercooperação. Na contramão desta lógica, o cooperativismo derruba muros e deixa as organizações mais permeáveis para entregar e receber recursos e competências.

Conhecimento técnico é uma dessas moedas. Destaquei no meu último livro, o Coopbook Soluções, um exemplo de cooperativa central que fez do compartilhamento de informações uma ação estratégica para o desempenho dos cooperados.

Falo da Rede Técnica Cooperativa (RTC), um projeto criado em 2018 pela Cooperativa Central Gaúcha (CCGL) para pesquisar e compartilhar boas práticas agrícolas. A CCGL abrange mais de 171 mil produtores do agro no Rio Grande do Sul, congregando cooperativas singulares. Metade da soja produzida no estado passa pela central. Com a proposta, a experiência de um passou a ser a experiência de todos.

A potência dessa ideia foi testada logo nas primeiras safras depois da criação da rede. Em 2020, o Rio Grande do Sul enfrentou a cigarrinha-do-milho, inseto que tem grande poder de devastação nas lavouras. 

O procedimento nesses casos é testar produtos de controle e as sementes mais resistentes – o que seria um trabalho longo e imenso se cada cooperativa singular precisasse fazer sua pesquisa por conta própria.

Unindo forças com os experimentos organizados em rede, de forma cooperativa foi possível avaliar em pouco tempo mais de 65 produtos e testar mais de 80 híbridos de milho. Em um ano-safra, todos os produtores de milho já tinham acesso à informação sobre as melhores práticas contra a praga. Ao compartilhar pesquisa, todo mundo sai ganhando: a lavoura, os agricultores cooperados, a economia local, o meio ambiente e os consumidores.

A cooperativa central existe desde os anos 1970, mas ao organizar uma rede técnica ela conseguiu levar a cooperação para um outro nível, que vai além dos suportes de logística, venda de insumos e distribuição. 

De acordo com o coordenador da RTC, Geomar Corassa, antes da iniciativa havia muita disparidade técnica entre as mais de 30 cooperativas. Hoje essa diferença diminuiu com o acesso ao mesmo conhecimento.

Os estudos partem de uma Unidade de Pesquisa e Tecnologia, que fica em Cruz Alta (RS), com pesquisadores dedicados a temas como fertilidade do solo e manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. Depois de executados os experimentos, alguns nas próprias cooperativas, os resultados são compartilhados com os técnicos das singulares, que têm a missão de repassá-los aos produtores.

A RTC é considerada a primeira rede técnica desse porte e capilaridade no Brasil. A lógica de cooperação ultrapassa os associados. A rede também alimenta um relacionamento de cooperação científica, em parceria com universidades e institutos nacionais e internacionais de pesquisa.

Toda cooperativa é, em sua essência, uma estrutura tecida em forma de rede. Explorar ao máximo a força dessas conexões faz delas entidades cada vez mais firmes – neste ambiente, conceitos como concorrência, individualismo e conhecimento sigiloso destoam.

Essa é uma das soluções que trago no meu terceiro livro da trilogia Coopbook – Cooperativismo de A a Z. Em cada capítulo, exemplos de como as cooperativas são fábricas de boas ideias, com a capacidade de beneficiar toda a cadeia envolvida.

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CEO de cooperativa de crédito, autor de livros sobre cooperativismo e Influenciador Coop do Sistema OCB.

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