Ainda que a captação de investimentos não seja uma necessidade absoluta para o crescimento das startups, empreendedores que decidem se aventurar pelo mundo dos negócios podem, em algum momento, precisar de algum tipo de aporte para fazer com que o negócio alcance novos patamares.
Dados do estudo Panorama Tech da América Latina 2023, desenvolvido pela Distrito, destacam que, desde 2019, startups da região receberam mais de US$ 36 bilhões em investimentos. Ainda que o cenário tenha mudado e o chamado “inverno das startups” tenha afetado negócios em toda a região com a desaceleração do número de rodadas e a diminuição nos valores, o momento é de retomada para as startups nacionais. E o Brasil segue liderando a região em volumes de aporte.
Neste contexto, uma das perguntas que, invariavelmente, surge na cabeça dos empreendedores é como identificar o momento ideal para receber investimento?. De acordo com João Selarim, sócio da Questum, assessoria especializada em M&A e investimento para startups, o ponto central é pensar como um investidor:
“Sempre que qualquer investidor está analisando oportunidades de investimento, olha para a relação entre potencial retorno, risco e liquidez. Dado que uma startup tem alto risco e liquidez baixa, o retorno precisa ser muito bom. Isso quer dizer que, no fundo, boa parte do trabalho do investidor é tentar responder se aquela startup tem capacidade de entregar um retorno tão acima da média“.
Estes fatores variam de acordo com o estágio de maturidade da startup. Em negócios early stage, que estão apenas começando, muitas vezes com poucos clientes e um MVP (Produto Mínimo Viável), o risco é ainda maior, pois a startup pode ou não crescer. A taxa de startups que não obtêm sucesso é alta. Portanto, para que um investimento faça sentido, ele deve ter um potencial de retorno substancialmente superior à média.
“Os investidores buscam aportar capital em uma empresa com um valuation relativamente baixo e sair com um múltiplo considerável desse valor, que pode ser de 10, 20 ou até 30 vezes“, complementa.
O executivo destaca quatro aspectos fundamentais na tomada de decisão de um investidor:
- Avaliação do empreendedor: investir em startups requer um olhar muito atento para os fundadores, especialmente em estágios iniciais, onde a empresa depende quase que 100% deles. É essencial avaliar sua experiência de mercado, habilidades de gestão e a complementaridade dos sócios, abrangendo aspectos tecnológicos, financeiros e comerciais. Além disso, a disposição do empreendedor para aprender e se adaptar é crucial. Experiências anteriores bem-sucedidas também podem ser um diferencial.
- Avaliação do negócio: como a empresa tem performado recentemente? Entender crescimento, LTV (lifetime value ou valor vitalício do cliente) em relação ao CAC (custo de aquisição de cliente), a taxa de perda de clientes (churn) e outras métricas da startup são partes fundamentais do processo de investimento. Ainda, é importante entender a real capacidade de geração de caixa da empresa, mesmo que esteja no negativo momentaneamente.
- Avaliação do mercado: olhar para fora é tão importante quanto olhar para dentro. Nesse sentido, entender como o mercado que a startup está inserido tem se comportado é um item obrigatório. Se o mercado está encolhendo, sofrendo muitas mudanças ou quase não há histórico de empresas bem-sucedidas nele, as chances da startup prosperar no longo prazo tendem a ser menores. Além disso, é muito importante avaliar o timing (tempo de entrada no mercado), para entender se a janela de oportunidade ainda está aberta ou já passou.
- Futuro e necessidade de capital: por fim, é preciso entender a visão de longo prazo da empresa. Querem ser adquiridos ou tentar IPO? Se imaginam captando múltiplas rodadas ou apenas pegando essa? Pensam em queimar mais caixa ou planejam distribuir lucro em algum momento? Todos esses pontos são relevantes para que o investidor possa pensar em sua estratégia de saída. E isso se cruza com a real necessidade de capital – alguns empreendedores pensam que precisam de investimento, mas na verdade, não possuem premissas sólidas para sustentar essa necessidade.
“Investir em startups é uma jornada emocionante, mas desafiadora. Os investidores precisam equilibrar o potencial de retorno com o risco associado, avaliando tanto o empreendedor quanto o negócio em profundidade. Métricas de negócios sólidas e uma equipe capacitada são ingredientes essenciais para o sucesso a longo prazo“, acrescenta.