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Dá sim para salvar a TV a cabo

Foto: tookapic/Pixabay

A televisão a cabo é uma das maiores invenções da humanidade. Ela proporciona uma ampla gama de conteúdos para públicos específicos. Mas a queda de uns 200 mil assinantes mês a mês aqui no país evidencia o que sabemos há muito tempo: É a era do streaming!

Ou será que não? Será que a TV a cabo pode dizer “eu sou você amanhã”?

Primeiramente: Eu sou um grande amante da televisão e continuo apaixonado por ela. Ainda acho estranho quem diz não ter um televisor em casa e que está bem com isso. Acho que posso ficar sem geladeira, mas não fico sem TV.

Só que eu não assino nenhum pacote de televisão.

Por que a TV a cabo está morrendo?

O meu canal preferido – quando eu costumava ter um – era a Warner Channel. Lá que acompanhei algumas das minhas séries preferidas até hoje, “aprendi” a ver filme legendado e cresci com personagens que me ajudaram a amadurecer.

Mas olhando a programação atual (vou pegar como exemplo o dia 8 de novembro), umas 10h da programação é dominada por Two And a Half Men (série que acabou há quase 10 anos) e The Big Bang Theory (acabou em 2019). Só 3h de programação são conteúdos “novos”.

A televisão, ao contrário do streaming, possuía algo verdadeiramente único: O ritual. Não importava o que acontecesse, toda quinta-feira à noite, em um horário específico, lá estava você, testemunhando o desenrolar da história daquele grupo de personagens que você amava. Era algo mágico envelhecer junto deles.

O fim de uma série, o término de uma temporada, era quase como uma despedida. Era um “até logo” para o próximo ano ou um “foi um prazer conhecê-los”.

Televisão e “maratonas” não combinam. Mas entendo os canais – não é só a Warner – estarem se rendendo a esse formato. Streamings dizem que as pessoas querem isso.

Porque se hoje o culpado de matar a TV é o streaming, durante um tempo, temia-se a pirataria.

Mas a pirataria era uma opção complicada, geralmente utilizada por pessoas que não tinham condições financeiras para bancar um serviço de televisão paga. Aqueles que podiam pagar optaram imediatamente pela assinatura, pois além de não cometerem um crime, era muito mais conveniente – e não era um crime.

Então mesmo se falando de pirataria, o número de assinantes só crescia. Os preços também. Só que a qualidade do conteúdo diminuía.

Falando de Hollywood: A greve dos roteiristas nos Estados Unidos no final da década passada levou as emissoras a perceber que era mais barato investir em reality shows do que em ficção tradicional.

Além disso, no início deste século, depois do sucesso de Senhor dos Anéis, Harry Potter e a volta de Star Wars, Hollywood percebeu que propriedades intelectuais já existentes eram uma aposta mais segura em termos de público do que tentar trazer algo novo. 

E a TV ficou menos diversa. Até mesmo o History Channel focou num grande reality, o Trato Feito.

Se você tinha um produto de baixa qualidade e alto custo, estava abrindo espaço para que fosse evidenciada a sua irrelevância e alguém oferecesse uma opção melhor para o consumidor. Foi assim que surgiram serviços como a Netflix e uma variedade de plataformas de streaming, que ofereciam uma ampla biblioteca por um preço acessível e disponibilizavam conteúdo sob demanda aos assinantes.

Só que o streaming não é perfeito. A TV tem muitas vantagens. 

O que a TV tem a mais que o streaming?

Por exemplo, alguns formatos funcionam muito bem na televisão, mas não encontram espaço nos serviços de streaming Programas de auditório e noticiário, por exemplo, que são muito consumidos e desejados pelo público. 

Esportes estão presentes em diversos streamings, mas a não ser pela possibilidade de assistir a um jogo depois que ele aconteceu, não há diferença em relação ao que era transmitido na televisão. E, convenhamos, a menos que seja um jogo pelo qual você tenha um forte apego emocional, é improvável que queira assisti-lo após o término.

No streaming também perde-se a curadoria. Aquela alegria de se selecionar um canal e não ligar para o que será mostrado, afinal, você provavelmente vai gostar – já gosta muito do restante da programação. Ser surpreendido por um conteúdo novo ao acaso.

O “on demand” pode ser bem cansativo.

Criseta do streaming

Com o passar do tempo, o modelo econômico do streaming está sendo testado para provar sua lucratividade. Players gigantescos como Netflix, Globo, Warner e Disney ainda estão entendendo como podem crescer de forma sustentável neste formato. E as respostas que estão sendo encontradas geralmente residem na boa e velha televisão.

  • Preço: Valores estão aumentando e a Netflix já não deixa mais compartilhar senha. Para acessar alguns pacotes, você precisa estar na mesma casa que os outros usuários – não parece bastante com a TV a cabo?
  • Programação: Ao lançar todos os episódios de uma série em um dia, a Netflix acabou com o ritual da televisão. Isso quer dizer que se trabalha um ano inteiro em uma série que vai durar na vida de alguém por um final de semana. Vai ser falado sobre a série no máximo por um mês. A não ser que você faça como Disney e HBO, que lançam um episódio novo de suas séries por semana – como fazia a televisão.
  • Anúncios: Como forma de aumentar receitas, os streamings estão estudando oferecer pacotes mais baratos – ou até mesmo gratuitos – que contém anúncios. Assim, a falta de dinheiro entrando de assinantes viria de empresas. Em outras palavras, seriam intervalos comerciais.

Ou seja, não é possível que a TV estivesse tão errada assim todos esses anos. 

“Ah, mas pelo menos os streamings têm mais opções disponíveis!”

Verdade. Mas não é cansativo? A liberdade de escolha acaba se tornando uma obrigação de escolha. Mesmo contando com algoritmos sofisticados, eles não vão mostrar uma opção. Vão entregar uma lista com dezenas para você.

Sabe por que muita gente ama Animal Planet? Porque amam documentários sobre animais. Mas também porque o canal escolhe qual será o bichinho da vez, ninguém precisa decidir entre abelhas ou coalas.

A TV a cabo morreu. Viva a TV a cabo!

Se a TV a cabo fosse lançada hoje, muitos veriam como inovação. Seria só focar nas vantagens em relação ao streaming. Um marketing quase pronto.

Só que não foi lançada hoje. Vender algo que é universalmente visto como ultrapassado não é fácil. Nunca vai voltar a ser como era.

Mas a queda em assinantes pode ser freada e talvez até contornada. E aqui, direto ao ponto, como fazer:

  • Quem opta pelo gatonet/skycat gosta de televisão e tem a disposição de pagar um valor X de mensalidade por isso. Esse é o seu público primário e essa é a mensalidade pela qual podem pagar.
  • Não abandone o “on demand”. Tente casar com o seu pacote. Eu quero poder ver o que eu quero quando eu quiser – mesmo que não queira fazer isso o tempo todo.
  • Os formatos tradicionais de televisão são ótimos. Sempre consumiremos Jornalismo. Um programa de auditório só está morto até o Casimiro reagir a ele.
  • Foque na qualidade do que está sendo feito/vendido. Já existe muito conteúdo sendo feito o tempo todo.

Não abandone o ritual. Muita gente tem lembranças afetivas de ver TV em família, mas não de ficar deitado na cama sozinha com o celular.

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Jornalista e marketing manager na AE Studio e Instill.

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