Nos nossos dias muito tem se falado sobre regras e políticas de Compliance, segurança das informações, dados e afins.
Mesmo com o tema em alta, vale ressaltar que, embora ocupe boa parte das pautas dos executivos amparados, inclusive, pelos requisitos da letra G (Governance) da também comentada sigla ESG, que aborda pilares de sustentabilidade ambiental, social e governança, ainda é desconhecido ou mal compreendido por muitos.
ESG já escrevi sobre isso em outro artigo, vale a leitura, para entender melhor da sigla, seus requisitos, princípios e importância no mundo corporativo atual e pensando na perenidade dos negócios.
Compliance vem do inglês e pode ser traduzido como conformidade ou estar conforme. E como o próprio nome já diz é necessário estabelecer um conjunto de regras, normas e políticas que estejam conformes com aquilo que a organização entenda e deseje – principalmente em relação ao código de ética, seja pelo artigo do código civil ou em outras questões legais ou não, como o regimento interno da organização, instituição ou órgão governamental.
O Compliance, assim como as políticas de ESG como um todo, rege e até mesmo define negociações de alta complexidade, M&As, relações internacionais, investimentos e, em especial, influenciam no mercado de capitais.
O princípio básico é manter um alto grau de confiança e sigilo nas informações produzidas, levando em conta a privacidade dos negócios.
O que ocorre é que muitas vezes o sigilo é algo muito difícil e muitos consideram que por manter informações restritas a determinados níveis pode ser falta de transparência nas ações estratégicas. No entanto, é um erro pensar assim.
Existe uma grande diferença entre informações sigilosas e os princípios da transparência dentro do contexto corporativo.
O sigilo é tão importante que existem leis que punem o indivíduo que faltar com tal prática – é passível de ser autuado e receber sanções legais dentro, inclusive, da esfera criminal, podendo ser considerado um crime de espionagem industrial ou até mesmo sabotagem.
Por isso o sigilo profissional faz parte de uma estratégia para manter a segurança das informações, afim de evitar danos à atividade comercial de uma empresa, fazendo com que as informações se concentrem no menor núcleo possível para que sua privacidade não emerja nos mares da concorrência, por exemplo.
Outras questões de ética também fazem parte dos planos de ações descritos nas políticas de Compliance quando roubos, furtos, questões de relacionamentos, relações familiares, acordo de sócios, conflitos de interesse, assédios de toda ordem, entre outros, acontecem. Políticas bem estruturadas dão total imparcialidade a quaisquer discussões – e com a tratativa desenhada e aplicada conforme dano, há igualdade nas sanções independentemente do cargo, nível ou posição.
Já os princípios de transparência, questionados muitas vezes como antagônicos, as políticas de sigilo trazem outra definição que precisa ser bem compreendida.
Transparência é um conceito que enfatiza a divulgação e a disponibilização de informações RELEVANTES para serem levadas a público. Consiste em promover clareza e abertura na tomada de decisão e nas ações de uma organização, instituição ou órgão governamental. No entanto, impõe o dever da lealdade recíproca. Ou seja, o discurso aqui é outro: a ausência da ambiguidade.
Tendo em mente esses conceitos, fica mais evidente que ambos, sigilo e transparência são complementares, ainda mais nos ambientes corporativos. Eles não apresentam qualquer necessidade de extinguir um pelo outro. A transparência é, sem dúvidas, um formato de gestão moderno – ainda mais em tempos de transformação digital, as informações precisam estar disponíveis o mais rápido possível ao maior número possível dos envolvidos, antes que vias não oficiais façam o serviço e de forma equivocada. Porém, o princípio da lealdade e o compromisso ético do sigilo estarão sempre em xeque.
Um profissional sem ética, pode prejudicar não só sua carreira pessoal, mas também a instituição para a qual trabalha.
Portanto, valorizar os ambientes e estilos de gestão pautados na transparência vai exigir dos profissionais um alto nível de confiança e comprometimento.
Construir relações respeitosas e baseadas no compromisso e no dever enquanto profissional criará além de um ambiente saudável, um ambiente seguro e muito mais justo. Depende de cada um. Transparência e confiança são caminhos de mão dupla.
E para fechar cito um verso bem conhecido, embora bíblico, me perdoem os céticos: “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convém” (1.Cor 6:12) ou, ainda, um belo dito popular – e diria, inclusive, bem humorado: “Em boca fechada não entra mosca”.