A Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames) acaba de divulgar a segunda Pesquisa Nacional da Indústria de Games, um estudo desenvolvido com a ApexBrasil e realizado por meio do projeto setorial de exportação Brazil Games.
O material é relativo aos anos de 2022 e 2023 revela um crescimento de 3,2% do total de estúdios nacionais, consolidando 1.042 negócios do setor.
O bom resultado é corroborado pela quantidade de jogos próprios desenvolvidos entre os anos de 2020 e 2022, que chegou a 2.600.
Desses, 1.009 foram lançados apenas em 2022, 12% a mais do que em 2021, período contemplado na primeira edição da pesquisa.
Em relação aos profissionais do segmento, também houve um aumento, dessa vez de 6,3%, pchegando a 13.225.
“Os dados presentes na segunda edição da pesquisa também reforçam a posição do Brasil como uma das mais promissoras regiões para a prestação de serviços de External Development, como já vinha sendo apontado nos relatórios da XDS Summit, referência global no assunto. O trabalho feito pelos brasileiros tem atendido demandas internacionais com qualidade e se destacado, entre outros aspectos, pelas questões artística, de engenharia e co-dev. Com isso, temos metade das desenvolvedoras brasileiras que atuam em outros mercados com mais de 70% de seus faturamentos oriundos dos mais variados países“, destaca Rodrigo Terra, presidente da Abragames.
A crescente maturidade da indústria brasileira também fica evidente em outros recortes da pesquisa. Entre eles, destaca-se que, em 2022, ao menos 93% dos estúdios nacionais desenvolveram propriedade intelectual (PI) própria.
“Atualmente, os projetos dos nossos estúdios não devem nada aos de mesmo tamanho de qualquer outra parte do mundo. Ainda há uma clara diferença de investimento, mas não por uma questão de capacidade. De 2021 para 2022, por exemplo, observou-se que a participação dos estúdios nacionais em projetos transmídia (15%) e de licenciamento das próprias PIs (13%) superaram a atuação com licenciamento de produtos de terceiros (10%), que em 2021 representava 18%“, avalia.
O estudo revela que os estúdios nacionais de desenvolvimento de games estão distribuídos por praticamente todos os estados da federação, mas que a maior concentração continua nos estados do Sul e Sudeste.
Essa polarização histórica se deve, principalmente, ao surgimento dos primeiros cursos de design de games e desenvolvimento de jogos digitais nestas regiões, assim como todo ecossistema criativo presente em suas principais cidades.
Das 1.042 empresas mapeadas na pesquisa, 861 estão divididas regionalmente, sendo São Paulo (302), Rio de Janeiro (107) e Rio Grande do Sul (69) os estados com maior presença.
O levantamento mostra ainda que, apesar do grande número de demissões nas maiores empresas do setor durante o ano de 2022, estima-se que 784 pessoas passaram a trabalhar em desenvolvedoras de games brasileiras, elevando o total de 12.441 profissionais em 2021 para 13.225 no ano seguinte.
Em se tratando de gênero, os dados levantados apontam que os homens são os mais presentes dentro das desenvolvedoras, seja como sócios ou colaboradores, totalizando 74,2% dos respondentes.
Já o número de mulheres caiu de 29,8% em 2022 para 24,3%, e o de pessoas não-binárias manteve-se em 1,5%. Uma das explicações para a redução no número de mulheres entre os dois anos é o efeito amostral, já que as empresas respondentes nas duas pesquisas são diferentes.
Por outro lado, no recorte de distribuição de sócios por área e gênero nas desenvolvedoras, pela primeira vez, as mulheres apareceram à frente dos homens em um setor: o administrativo/financeiro, com 28% contra 24%.
Para as empresas nacionais exportadoras, os Estados Unidos e países da América Latina representam os principais mercados comerciais. No período da pesquisa, esses países fizeram negócios, respectivamente, com 58% e 57% dos estúdios brasileiros com esse perfil. O resultado reflete crescimentos de 3% e 4%, também respectivamente, em relação à pesquisa anterior. Já a Europa Ocidental, por sua vez, foi a região com maior crescimento percentual, saltando de 49% para 54%.
Metade das desenvolvedoras nacionais que atuam no mercado internacional obtiveram mais de 70% de seu faturamento diretamente do exterior. Quando considerados apenas os estúdios com faturamento principal proveniente de fora do país, o número de desenvolvedoras sobe para 65%.
Atualmente, entre os estúdios nacionais, 80% dos respondentes utilizam o motor gráfico Unity em seus projetos, na pesquisa anterior esse recorte era de 83%. Em seguida, aparece a utilização da Unreal Engine, desenvolvida pela Epic Games, que aumentou sua presença de 23% para 25%,- sendo a única a ter registrado crescimento dentre todas as engines pesquisadas.
FATURAMENTO
Com base nas premissas utilizadas no mapeamento das empresas e, principalmente, na possibilidade de comparação com os anos de 2015 e 2018, a segunda edição da pesquisa apresenta um novo método de cálculo do faturamento da indústria nacional de games.
Enquanto o modelo anterior considerava apenas o faturamento das desenvolvedoras que atendem ao mercado consumidor e de entretenimento, o atual leva em consideração os jogos e serviços desenvolvidos para terceiros, jogos educacionais, advergames etc. Dessa forma, estima-se que, em 2022, o faturamento da indústria de desenvolvimento de games do Brasil foi de US$ 251,6 milhões.
Quando comparados os resultados das duas pesquisas mais recentes, observa-se que na atual, 60,4% das empresas têm faturamento de até R$ 360 mil, frente a 65% na pesquisa de 2022. A maior diferença se dá na faixa de até R$ 81 mil, que caiu de 39% para 33,3%. Por outro lado, a linha de faturamento entre R$ 360 mil e R$ 1,8 milhão subiu de 23% para 27,7%, reforçando o movimento detectado em 2022, de que as desenvolvedoras estão em processo de amadurecimento e com maior exposição ao mercado internacional.
Em relação às fontes de receita e tipo de monetização, destaca-se que o faturamento proveniente da venda de jogos, via plataformas digitais, cresceu de 54% em 2021 para 62% em 2022. Já a venda direta caiu de 30% para 23% no mesmo período. Na sequência aparecem as microtransações (20%), encomendas privadas (17%) e publicidade (16%).
EXPECTATIVAS DO FUTURO
Nos últimos meses, grandes empresas internacionais de desenvolvimento de games, incluindo algumas das maiores brasileiras do setor, passaram por períodos de lay-offs e demissões. Sobre o impacto desse momento, posterior ao período da atual pesquisa, Rodrigo Terra pondera:
“Estamos passando por um momento novo, já que há uma readequação pós-pandemia das empresas e as expectativas de mercado ainda são relativas. Entretanto, existem perspectivas de melhora na economia brasileira, suportada por um ambiente político mais estável, o que contrasta com a instabilidade do mercado global. Acreditamos em um futuro com potenciais oportunidades e muitos desafios, onde o Brasil pode se destacar com um ecossistema que tem crescido e se diversificado cada vez mais“.