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O limite do “feito é melhor que perfeito”

Foto: divulgação.

Uma velha máxima batida e rebatida no mundo dos negócios é “feito é melhor que perfeito”, geralmente usada quando a busca pelo ideal pode atrapalhar prazos essenciais para o funcionamento do negócio. Longe de mim dizer que está errada – eu mesmo acredito demais nisso -, só que entregar o perfeito pode ser muito necessário às vezes. E entregar apenas o “feito” pode resultar num Madame Teia para o seu negócio.

No caso de você não ter entendido o que eu quis dizer na última frase, vou te contar, você tem sorte e não está sozinho. Madame Teia, filme lançado pela Sony em 14 de fevereiro, é péssimo e um fracasso comercial. Pense no pior filme que você já viu em sua vida e saiba que tem grandes chances de ser ainda melhor do que o longa que te falei.

Mãs, tão interessante quanto um filme, é a história de seus bastidores. No específico caso de Madame Teia, cuja película em questão é facilmente superada por qualquer coisa, ainda há uma importante lição para o seu negócio.

Vou te contar uma história sobre o filme e seus bastidores como exemplo do que dá título a este texto. Peço perdão se você esperava apenas pontos ou papo de negócio, mas me vejo refém do lúdico algumas vezes e acho que esse grande e surreal causo de Hollywood pode englobar as várias situações que são mais corriqueiras.

“Feito é melhor que perfeito” tem um limite

Partindo do princípio de que “feito é melhor que perfeito”, qualquer crítica a qualquer filme seria vazia pois, em algum nível, todo filme está feito, mas há um limite para o quanto toleramos isso, não é?

Caso você ainda não tenha visto Madame Teia, deixo aqui o trailer para o filme e um tweet revelador.

ALERTA DE POSSÍVEL SPOILER: 

E, direto do Twitter: “Todos estes eventos acontecem em Madame Teia, a não ser um. Consegue adivinhar qual é?”

  • A Madame Teia nasce numa caverna no Peru com ajuda de pessoas-aranha mágicas
  • As 3 mulheres-aranha nunca ganham poderes e só são vistas de fantasia em sonhos
  • O Homem Aranha do mal é morto por um letreiro gigante da Pepsi
  • Madame Teia é procurada por sequestro pela polícia de Nova Iorque
  • O Homem Aranha do mal é atropelado duas vezes pelo carro da Madame Teia
  • O Homem Aranha do bem nasce, mas nunca é chamado pelo nome
  • Madame Teia se divide em três fantasmas dela mesma no fim do filme

FIM DO POSSÍVEL SPOILER

Só dessas opções terem possibilidade de serem reais, já é sinal de que o filme enfrenta sérios problemas. Afinal, o roteiro é a base de todo e qualquer filme. 

Até pode existir filme ruim com roteiro bom, mas não existe filme bom que não tenha um roteiro de alta qualidade como base.

E quem escreveu esse longa foram os responsáveis por Morbius (2022) e Power Rangers (2017), dois filmes que deixaram MUITO a desejar em termos de crítica e bilheteria – foram fracassos. Por que esses dois foram “premiados” com a chance de escrever mais um filme que custaria centenas de milhões de dólares?

Provavelmente por conta do fato deles sempre terem conseguido entregar roteiros que cumpriram as demandas dos executivos, os quais estavam olhando para objetivos de negócio e não para qualidade no que estava sendo feito.

O importante é cumprir o objetivo

Matt Sazama e Burk Sharpless acumulam decepções de bilheteria ou crítica – muitas vezes, os dois juntos – desde 2014, quando chegou às telonas o seu primeiro filme, Drácula: A História Nunca Contada.

O que todos os projetos já citados têm em comum é que partem mais do desejo de um estúdio, da área executiva, como um objetivo a ser cumprido, do que da mente criativa de um contador de histórias.

  • Drácula: A História Nunca Contada – Tentativa da Universal de construir um universo cinematográfico tal qual o da Marvel. Foi bem na bilheteria, mas nunca teve o mínimo de interesse por parte dos fãs para uma sequência e o universo de monstros nunca foi construído.
  • Power Rangers – Versão “adulta” do grupo de adolescentes em fantasias coloridas, algo que o estúdio se sentiu quase obrigado a fazer por pressão e expectativa do mercado. Resultou em qualidade e bilheteria bastante mornas. Todos os envolvidos “seguiram” em frente e a marca parece ignorar que esse filme ocorreu.
  • Morbius – Quase que uma obrigação contratual da Sony para manter os direitos pela marca Homem Aranha – mas sem usar o Miranha no longa – ao mesmo tempo que tenta se apropriar do “dinheiro fácil” dos filmes de herói. Foi um fracasso retumbante de crítica e bilheteria, rendendo uma série de gozações na internet que fizeram com o que o próprio gênero de filme fosse colocado em questão.

Ou seja, nunca importou se esses filmes fossem bons, apaixonados ou qualquer filmes. São todos filmes que surgiram numa sala de reunião e tiveram que ser executados a qualquer custo – o que arte tem a ver com cinema, não é? 

Isso é o lançamento de um produto defeituoso apenas para cumprir um prazo, a performance ao custo de branding e por aí vai.  

Em defesa dos roteiristas

Além da ingrata missão de ter que escrever uma história que talvez você não queira, os roteiristas ainda tiveram que mudar drasticamente a história no decorrer da realização do filme – seja por interferência do estúdio ou qualquer coisa. E, por mais que o roteiro seja primordial para o sucesso de um filme, todo o resto também deixou muito a desejar.

A fotografia é fraca, a trilha sonora parece piada, o vilão foi praticamente dublado o filme todo e vários movimentos de câmera parecem mais erros que passaram do que escolhas estéticas – talvez seja melhor até pensar dessa forma.

As atuações oscilam entre o mediano e o fraco, mas também, com o material recebido, talvez não houvesse muito o que fazer. Sidney Sweeney, um dos grande nomes de Hollywood no momento, foi escalada quando ainda não tinha chegado a essa posição e seu papel parece uma paródia das bem mequetrefes de uma troop de personagens clássica dos anos 90: a nerd do colégio que, após tirar o óculos e soltar o cabelo, se torna a rainha do baile. Até aí, “tudo bem”, mas nem essa jornada ou qualquer desenvolvimento chega a ela – ou qualquer uma além da protagonista.

Dakota Johnson, que interpreta a Madame Teia, parece mais cansada do que o normal – o blasé é o método de interpretação dela, tal qual com a Kristen Stewart – e é mais divertido ver ela fazendo divulgação do filme sem conseguir de fato elogiar a produção do que, bem, assistir ao longa. 

Já pensou se houvesse uma campanha de um produto em que a pessoa influenciadora contratada fizesse mais fama pelo quão ruim o que está sendo anunciado é do que a marca contratante conseguisse retorno?

Dakota inclusive demitiu o agente depois do primeiro trailer de Madame Teia ser lançado. 

Um triste fim para uma personagem criada por dois dos maiores nomes da história dos quadrinhos, Denny O’Neil e John Romita Jr, gênios da nona arte.

Se ao menos houvesse mais dedicação, envolvimento e tempo, quem sabe um filme de uma clarividente que precisa se encontrar num mundo em que pessoas precisam ser salvas seria ótimo – e não um fracasso cumprido no prazo. 

O grande risco de negócio

Nem sempre, conseguimos ser perfeitos. Prazos curtos, grandes expectativas e promessas quebradas nos obrigam a fazer o que é possível. Faz parte.

Mas entregar sempre o “feito” e nunca o “perfeito” representa um grande risco de negócio. Afinal, basta o seu competidor descobrir como fazer o perfeito cobrando o mesmo valor ou menos do que você para que o seu produto ou serviço pareça precário e obsoleto. 

Isso, claro, sem nem entrar na seara de que o consumidor se torna cada vez mais exigente com o passar do tempo e que paladar não retrocede – sobretudo no Marketing. 

Muito “feito” e pouco “perfeito” pode resultar em perda de marca – um problema gigante para o branding -, desperdício de recursos e ameaçar todo o crescimento da empresa.

Até a área de Pessoas pode ser impactada. Profissionais excepcionais querem entregar resultados excepcionais. Aquele papinho de “meu maior defeito é ser perfeccionista” muitas vezes não é papinho não. Eles podem se cansar de entregar medianas e procurar um local onde possam fazer mais.

Só que a busca pelo ideal sempre também pode não te levar a lugar nenhum. Aí, não tem nem empresa, nem produto, nem prazo e nem nada.

Dito isto, a cereja do bolo do post: Aqui, 3 dicas rápidas para evitar chegar nesse limite do “Feito é melhor que perfeito”:

  1. Entenda quando usar o “feito” – O “feito” é a solução que vamos encontrar em épocas de prazos muito curtos e inegociáveis, quando os recursos são escassos, quando é necessário testar alguma premissa ou quando está se querendo criar algum “hábito” na equipe. Para outras situações, talvez valha pensar se entregar o melhor possível não é o ideal.
  2. Escute o seu time – Converse com as pessoas que estão com você. São elas que vão te ajudar a entender a complexidade de prazos, os melhores processos e se o cumprimento de expectativas é factível mesmo ou não. Nesse contato também será possível perceber como está a saúde da sua equipe – e isso deve sempre ser a sua prioridade.
  3. Conhecimento contínuo – Documentando aprendizados, testes e melhores práticas, é possível fazer com que cada segundo investido num projeto seja o mais inteligente. Isso faz com que o “feito” se aproxime o máximo do “perfeito” sem necessariamente requerer maiores investimentos. Mas, importante relembrar uma regrinha de Growth: Toda fórmula mágica tem prazo de validade, então incentivar a experimentação com espaço para o erro diminui momentos de resultados ruins.

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Jornalista e marketing manager na AE Studio e Instill.

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