A indústria brasileira de moda está vendo uma transformação no cenário competitivo nos últimos anos. Novas empresas, como Aliexpress, Shopee, Shein e agora a Temu entraram com um novo modelo de negócios, com plataformas digitais, e atuação extremamente agressiva.
Preços baixos, fretes grátis, promoções constantes e uma quantidade enorme de produtos. Para você ter uma ideia, enquanto uma grande marca nacional de moda lança até 8.000 modelos por ano, a Shein lança 1 milhão e meio de modelos. São mais de 3.000 modelos lançados por dia.
Os concorrentes chineses conseguiram recriar o modelo de logística da Zara, mas agora em escala digital, o que gera uma nova ordem de grandeza no volume de negócios. A Shein já é o segundo maior varejo de moda operando no Brasil, com vendas de 10 bilhões de reais em 2023, crescimento de 42% sobre 2022. A Renner, líder, vendeu quase 12 bilhões de reais. É provável que a Shein ultrapasse a Renner em 2024.
Essa situação pode desencadear uma crise no setor de moda nacional? Vale lembrar da crise do final dos anos 1980, quando o mercado brasileiro se abriu à importação e muitas empresas quebraram. O setor demorou muitos anos para se recuperar.
O varejo brasileiro já sente o impacto das mudanças. E a indústria também, com uma pressão grande para redução de custos. E o que é preciso para a indústria brasileira de moda ter competitividade frente a esses concorrentes?
É possível que, sozinhas, as empresas nacionais não consigam resistir a esse novo cenário competitivo. É preciso a união de propósitos, muito além do discurso de boa vontade. É preciso que haja ação efetiva a partir da convergência de interesses e de visão sistêmica.
Algo que é muito difícil de acontecer em uma indústria que não está acostumada a cooperar. Mas pode ser fundamental para a sobrevivência do setor como um todo.
É preciso que governo, indústria, criadores, fornecedores, entidades universidades, enfim, todos os participantes do setor se unam em uma grande iniciativa conjunta, com um propósito maior. É preciso um verdadeiro Projeto Manhattan para a moda brasileira.
Unir os melhores talentos, com apoio político, financeiro, tecnológico e legal, para construir as bases para uma nova indústria nacional da moda, com capacidade de competição em nível global. Considerando não só a capacidade produtiva, mas o foco no mercado, as estratégias de marketing, a criação e posicionamento de marcas globais, o desenvolvimento de tecnologias produtivas, de software, de logística e tudo mais que é absolutamente necessário para dar conta do desafio.
Uma ação integrada, não apenas para defender sua posição no mercado nacional, mas para preparar as bases para conquistar o mercado internacional, em grande escala. O Brasil é um país com potencial imenso para ter marcas de modas globais, mas ainda não conseguiu realizá-lo.
Eu acredito no potencial das marcas brasileiras, na força da indústria nacional e na capacidade humana dos profissionais brasileiros para criar um novo ciclo de desenvolvimento da nossa moda, com atuação global.
Temos tudo para que as marcas brasileiras de moda conquistem o mundo. Vamos acelerar esse processo?