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Nostalgia dá MUITO dinheiro

Foto: divulgação.

Não dá saudade dos bons e velhos tempos? Você sabe do que eu tô falando. De quando tudo era mais simples, a rotina era mais gostosa, as paixões eram mais intensas. 

Tempo bom que não volta mais. Saudades de outros tempos iguais!

A dolorosa verdade é que as coisas não eram bem assim. Não existe tempo melhor do que o que está por vir, mas a gente sempre se convence do contrário. Essa nostalgia é muito poderosa.

E ela é diferente da saudade, que é o amor por algo que não está mais aqui.

Na nostalgia, nós tendemos a ver o passado como algo que brilhava mais do que realmente era o caso. Tem várias explicações para isso, das mais filosóficas às mais científicas. Deixo aqui que um motivo está nos novos desafios que a vida sempre nos apresenta. Depois que enfrentamos e o resolvemos, pensamos que eles nem eram tão grandes assim. Daí, a visão do passado ser mais fofa que a do futuro.

Conforme as pessoas começam a viver mais, é normal que sintam mais falta de outros momentos. Afinal, o tempo voa, cada nova geração vem e traz consigo um novo mundo.

Como uma criança dos anos 90, eu cresci indo em locadoras. Quando eu lembro daquilo, dá uma nostalgia tremenda. Só que as locadoras eram muito piores do que qualquer streaming. 

  • Você tinha que sair de casa
  • Eram bem caro
  • Nem sempre tinha o filme que você queria ver
  • Quando tinha, talvez não tivesse no formato (dublado x legendado) que você queria, afinal, o VHS apresentava só uma opção
  • Você tinha que sair de casa no dia seguinte novamente para devolver – se pulasse um dia, tomava multa
  • Se a fita não voltava rebobinada, era outra multa

Mas se você me mostrar uma fita VHS verde, eu vou sofrer de uma amnésia severa de toda essa trabalheira e focar justamente em como assistir um filme locado era um ritual muito mais poderoso do que assistir a algo na Netflix – e justamente por conta da mão de obra que dava. 

Vou esquecer de que com frequência todas as cópias do filme que queria ver já estavam locadas e só lembrar de como isso me obrigou a conhecer muitos outros longas que nem tinha ouvido falar – afinal, era tanto esforço pegar uma fita/dvd que, se eu já tinha saído de casa e programado a família inteira para ver filme, era melhor voltar com alguma coisa.

E por aí vai.

E vou achar uma perda tremenda como toda essa experiência virou ficar um tempo procurando algo no catálogo do aplicativo, não encontrar nada – mesmo tendo tudo disponível – e depois só mexer no TikTok.

Chegue para um millennial, fale de Friends ou Harry Potter, e você vai encontrar um ferrenho defensor desses dois produtos. Claro, nem todo mundo dessa geração tem o mesmo apreço por essas coisas, mas são experiências geracionais. Como os tazos num pacote de salgadinhos, que ficaram no meio do caminho, ao contrário dos brinquedos do Lanche Feliz que seguem firmes até hoje – mas já foram proibidos por um tempo em Floripa, sabia?

Nostalgia é um negócio muito poderoso. As marcas, as empresas, sabem muito bem disso. 

Elas sabem que te entregar um produto ou design de outros tempos vai te ativar certas memórias. E a sensação de revivê-las é algo pela qual as pessoas podem pagar muito caro. Escutar uma música da sua juventude no fone de ouvido não é nada perto de ouví-las numa festa.

A Carmed, por exemplo, não tem mais nem vergonha de fazer isso – e tá tudo bem. A linha com a Fini foi um negócio sem igual, uma febre. E por mais que a marca das balas gelatinosas seja atual e não de outrora, tem muita gente que vai remeter a ideia de comer doces a algo da infância. 

E estão agora lançando uma linha da Barbie que também vai apelar para isso. Claro, sei muito bem que o longa dela foi o maior filme do ano passado, ganhou vários prêmios e, como um todo, é excelente. Mas essencialmente são bonecas e o público alvo de brinquedo é criança.

Mas por que eu tenho a impressão de que vários adultos é que vão comprar esses novos produtos?

Só que nada supera, como triunfo da Nostalgia, sobretudo remetendo a infância, o sucesso da Papelaria Castorino. Vou resumir a história: Uma papelaria do ES tinha um estoque que armazenava as unidades que sobraram de produtos que eram comercializados entre os anos 90 e 00. A equipe deles postou conteúdo sobre o acervo nas redes e… Sucesso colossal. Para além dos likes.

Decidiram vender os itens daquele estoque e a Shoppee não aguentou a demanda. Tiveram que lançar um e-commerce próprio. O site caiu no dia do lançamento. Mas em menos de um dia no ar, chegaram a mais de R$ 1,2 milhão em vendas e seis mil pedidos realizados.

É porque não se trata de comprar um caderno. É adquirir um produto que você muito quis, mas na época não tinha dinheiro. A última chance de possuir uma lancheira do Taz Mania – mesmo que nem vá usar de fato. Oportunidade rara de usar itens do Digimon ou do Rebelde – cujo comeback também foi todo sedimentado na nostalgia. 

Esses produtos “velhos” são, em média, mais caros que os “atuais”, ao contrário do que poderia acontecer com qualquer outro mercado. E ainda assim estão bombando. Porque, nesse caso, os clientes não precisam de um caderno, precisam DAQUELE caderno

E é bom que a gente viva num mundo em que podemos vivenciar uma nostalgia e nos conectarmos com o que já se foi. Claro que se isso chegar num nível em que é impossível gozar do que se apresenta no mundo hoje, estamos num patamar problemático. Mas enquanto conseguirmos encontrar carinho na nossa própria história e transformar isso em força para enfrentar o dia a dia, só há vantagens.

Sorte dos millennials, gen-z, alpha e consequentes, que nasceram num mundo que permite e dá ferramentas para que a infância nunca se perca totalmente.

O mundo já é bem difícil do jeito que é. Toda ajuda é bem vinda. E, às vezes, pode ser o seu negócio ou marca a ajudar com isso.

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Jornalista e marketing manager na AE Studio e Instill.

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