Nesta semana, li um artigo que me chamou profundamente a atenção. A matéria revela que Luxemburgo, uma pequena nação europeia onde estou atualmente para uma curta temporada de trabalho, ostenta um PIB per capita de impressionantes US$131,3 mil, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Tal cifra coloca Luxemburgo no topo do ranking global em termos de riqueza e produção por habitante. Ao explorar um pouco mais este país, é evidente a elevada renda per capita.
Quando se fala de $130.000 per capita há uma distorção, já que uma parcela da força de trabalho mora em países vizinhos. Ainda sim, corrigindo o índice, teríamos um PIB per capita de mais de $100.000 dólares. Para efeitos de comparação, o PIB per capita dos Estados Unidos é de $70.000 e do Brasil $9.000.
A minha curiosidade me impôs a necessidade de tentar desvendar como essa nação, que já enfrentou tantas crises, alcançou esta prosperidade e bem-estar social. Inevitavelmente, a pergunta que me faço é: o que pode o Estado de Santa Catarina aprender com a experiência dessas economias tão bem-sucedidas?
Em um mundo unido por conexões econômicas globais e com muitas oportunidades, empreendo a tarefa de desvendar os potenciais possíveis de cooperação entre Luxemburgo e Santa Catarina. O Grão-Ducado de Luxemburgo é reconhecido por sua estabilidade econômica, resiliência e inovação, enquanto Santa Catarina, por sua dinâmica empresarial e economia diversificada que se destaca no cenário brasileiro por sua capacidade industrial, de serviços e de agropecuária. Procuro ver um horizonte de colaboração econômica e apoio mútuo, onde as qualidades de cada região possam se apoiar.
A pequena nação europeia, com 2.586 km² e 660 mil habitantes, possui uma robusta economia e uma grande capacidade de adaptação e inovação. A economia do país é diversificada, englobando indústrias de aço, polímeros, componentes automotivos, logística, serviços digitais e financeiros, além de uma agência espacial audaciosa e uma empresa de desenvolvimento de satélites, líder mundial no setor. Esta empresa de capital misto foi fundada pelo governo em 1985, que ainda detém a maioria das ações.
Países muito pequenos costumam inflar a economia se tornando paraísos fiscais. Não é o caso em Luxemburgo, já que o imposto sobre a renda é comparável ao dos países vizinhos, ainda que, em geral, levemente mais baixo. O valor mais alto da tabela é de 45%, contra 47% na Alemanha, 37% nos Estados Unidos e 27% no Brasil. O imposto sobre as sociedades, em 25%, é também comparável aos países vizinhos; Alemanha 30%. No Brasil, o valor chega a 34% (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (25%) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (9%), totalizando 34%)
A estabilidade política e econômica, juntamente com regulamentações muito claras, promove uma cultura de proteção dos investidores. Luxemburgo ocupa a terceira posição entre 132 países em termos de estabilidade política, conforme reportado pela Universidade Cornell, INSEAD e OMPI em 2022 e possui a classificação de crédito AAA (Agência Moody’s), o que reflete a força da economia, a solidez das finanças públicas e transparência e a eficiência dos orgãos públicos.
O setor bancário é extremamente qualificado e, dentro do mercado europeu, possui uma vantagem em relação à Suíça: Luxemburgo faz parte da União Europeia e está perfeitamente integrado com esta. É lá que fica o European Investment Bank, por exemplo. Os serviços bancários do país são reconhecidos como sendo de excelência e servem como ligação entre os diversos países da União. Apesar do luxemburguês ser a língua oficial, seus serviços são oferecidos em Alemão, Francês e Inglês e até mesmo em alguns casos em Português.
Ao longo do último século, Luxemburgo demonstrou uma notável capacidade de reinvenção. Com uma base econômica historicamente ancorada na agricultura, o país viu sua indústria siderúrgica florescer nos séculos XIX e XX. Quando a crise do aço eclodiu na década de 1970, o Grão-Ducado transformou-se em um dinâmico centro financeiro e em uma economia de serviços próspera. A criação da Sociedade Europeia de Satélites (SES) e o subsequente desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na década de 1990 comprovam essa capacidade de adaptação.
O Governo investiu pesadamente em inovação, recebendo e incentivando novas empresas. Startups inovadoras são incubadas e treinadas em instalações públicas e privadas, recebendo apoio e acesso a serviços essenciais para seu desenvolvimento inicial. O centro financeiro do Luxemburgo tem continuamente se adaptado a um ambiente em constante mudança, fortalecendo sua abordagem de inovação. Luxemburgo é líder europeu em inovação, reconhecido pelo Painel Europeu de Inovação da União Europeia em 2021.
A colaboração entre instituições educacionais e de pesquisa de Luxemburgo e Santa Catarina pode fortalecer laços econômicos e culturais. Intercâmbios acadêmicos, programas de pesquisa conjuntos e parcerias em inovação são caminhos promissores para essa cooperação e podem estabelecer um primeiro passo.
Luxemburgo, como um centro financeiro global com um forte setor de tecnologia, pode colaborar com Santa Catarina em projetos de tecnologia, startups e desenvolvimento de software. Cidades catarinenses como Blumenau, Florianópolis e Joinville já se destacam nesse setor, e há espaço para colaborações inovadoras. Os Centros de Inovação de SC podem iniciar esta relação. Luxemburgo possui a melhor infraestrutura de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) do mundo, conforme destacado pelo INSEAD em 2021. Além disso, foi reconhecido pela CISCO em 2019 como o melhor ambiente mundial para start-ups.
Um dos estados mais dinâmicos do Brasil, Santa Catarina possui uma economia diversificada com forte presença nos setores, tecnológico, metal mecânico, financeiro, energético, produção de proteína animal e de exportação e um dos maiores polos têxteis do país. A expertise de Luxemburgo em gestão de fundos financeiros pode impulsionar parcerias e investimentos nos setores econômicos catarinenses promovendo modernização, inovação e expansão.
Santa Catarina possui um forte setor de exportação, especialmente em produtos agrícolas, carnes e manufaturados, além de uma invejável estrutura portuária. Luxemburgo, como um hub logístico e financeiro, pode servir como uma porta de entrada para produtos catarinenses no mercado europeu, facilitando o comércio e ampliando oportunidades de negócios.
A cooperação econômica entre Luxemburgo e Santa Catarina apresenta um potencial considerável. Cada região possui características que podem complementar e enriquecer a outra. A expertise de Luxemburgo em finanças, inovação e sustentabilidade, aliada à diversificação econômica e ao dinamismo de Santa Catarina, cria um cenário fértil para estratégicas parcerias econômicas.
A análise da trajetória de Luxemburgo aponta que a estabilidade política e a segurança jurídica foram fundamentais para a criação de um ambiente propício aos negócios. O investimento contínuo em setores financeiros, tecnologia da informação e inovação, aliados ao multilinguismo fortaleceu ainda mais a economia, permitindo ao país não apenas enfrentar, mas também superar crises. A resiliência diplomática e a confiança mútua entre empresários e governo foram pilares essenciais que sustentaram essa evolução. Esses fatores combinados transformaram o Grão Ducado de Luxemburgo em um país próspero, seguro e com um elevado nível de bem-estar social, servindo de modelo inspirador para outras regiões, como Santa Catarina.