Por Felipe Ribeiro, sócio da Evermonte Executive Search.
Há quem pense que o mercado executivo se movimenta apenas em ciclos econômicos ascendentes – o que é parcialmente correto, pois o crescimento cria novas cadeiras e estruturas. Mas os ciclos de maior instabilidade, ao contrário do que pode parecer, também movimentam o mercado, seja para buscar alternativas de resolução de problemas, novas oportunidades de receitas e redução de custos, ou por questões de sobrevivência do negócio. Quem opta por seguir esse caminho, inclusive, costuma obter êxito no movimento de ascensão.
Nesse sentido, a criação de um ambiente propício para mudanças e novas oportunidades fomenta movimentações dos mais distintos níveis, incluindo a troca de companhia, a alteração do setor de atuação e até mesmo a modificação do cargo ocupado pelo profissional. Assim, considerando que a lógica acelerada do mercado exige lideranças ágeis e adaptáveis, podemos listar quatro principais motivos para a movimentação de executivos em 2024.
O primeiro refere-se aos ciclos de entrega mais ágeis, ou seja, ao fato de que as empresas estão cada vez mais exigentes em relação ao tempo e à qualidade das entregas de seus executivos. Na prática, isso significa que aqueles que querem se destacar devem ser capazes de entregar bons resultados no curto prazo, ajustando-se às mudanças de modo assertivo. Essa tarefa, no entanto, não é individual: os gestores precisam estruturar suas equipes de tal maneira que as entregas coletivas estejam em consonância aos moldes de uma cultura ágil.
Outro motivo que contribui para a movimentação de executivos é a tendência de mandatos mais claros e curtos, fruto de um redesenho organizacional que vem ocorrendo há tempos no mercado. Antes, havia um anseio de prolongamento de carreira dentro de uma única organização. Hoje, por outro lado, com a multiplicidade de companhias na cena global, o executivo de longo prazo está dando lugar a visões mais céleres, e as cadeiras de liderança, no geral, estão evidenciando uma maior rotatividade.
Uma terceira razão é a dificuldade das “empresas de dono” em reter suas lideranças. Caracterizadas por uma estrutura em que o fundador ou a família fundadora mantém um controle significativo, essas organizações, historicamente, operam sob um modelo em que a tomada de decisões é centralizada e as instruções são transmitidas de cima para baixo. Esse estilo de gestão pode ser eficaz em ambientes estáveis e previsíveis, mas tem se mostrado inadequado para os desafios dinâmicos do mundo moderno. Logo, a falta de uma estratégia sólida pode gerar desmotivação e insegurança, resultando na saída dos líderes em busca de empresas com objetivos bem delineados.
Por fim, no âmbito internacional, as decisões se encaminham para um movimento de desaceleração. Mas por que executivos brasileiros estão se movimentando ainda mais? A resposta está, principalmente, na resiliência do mercado brasileiro. O agronegócio, por exemplo, se destaca como um dos maiores e mais eficientes do mundo, e hoje se caracteriza como um dos pilares da economia nacional. Além disso, o mercado de energia sustentável também tem crescido significativamente. Atualmente, nosso país possui vastos recursos naturais para a geração de energia renovável – como energia solar, eólica e hidrelétrica –, posicionando-se como um importante player no cenário mundial. Logo, para acompanhar as transformações intrínsecas a estes (e outros) setores, a demanda por talentos qualificados já é uma realidade.
Em resumo, cada vez mais as pessoas estão procurando espaços que demonstrem abertura para o diálogo e para a mudança – e nos quais elas possam deixar o seu legado. Portanto, os processos de atração e retenção, daqui para frente, serão ainda mais complexos, uma vez que a estabilidade de carreira não está mais atrelada à permanência ad aeternum em uma mesma companhia. O mundo está mudando. O mercado está mudando. As pessoas estão mudando. Às empresas, cabe questionar: o que estamos fazendo para acompanhar essas transformações?