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“Tem muita quebrada para poder desenvolver”: conheça a trajetória do Jeff Lima

Foto: Giovanni Kalabaide/Agência AL

Educador e fundador da ONG Prototipando a Quebrada (PAQ), Jeff Lima vem da periferia de São Paulo e hoje reside na capital catarinense. Um dos seus objetivos: impactar 1 milhão de educandos. Ele é mais um entrevistado da coluna que conta a história de empreendedores e profissionais que se destacam no mercado. A seleção é sempre feita pelo meu Instagram, através de um post periódico com o tema Você no Economia SC. Confira abaixo: 

Qual sua história profissional?

Comecei a trabalhar com 14 anos, como panfletista. Com 15 anos, fazia um curso técnico em informática e consegui um estágio de digitador em uma escola de informática, em São Paulo. Foi onde tive a minha primeira experiência com docência. Um dia, o professor titular ficou doente e me perguntaram se eu podia dar uma aula de Word. Quando entrei na sala, era uma galera um pouco mais velha, pessoas de 20 a 30 anos, que me olharam de cima a baixo perguntando: “é você que vai dar aula?” Até então, eu não pensava em ser professor, mas foi ali onde tudo começou. Logo depois, mudei para o Paraná e passei a lecionar em uma escola de informática, onde fiquei durante cerca de quatro anos. Saindo dali, fui trabalhar com motion para painéis eletrônicos numa empresa no interior do Paraná, mas logo voltei a lecionar e acabei fazendo graduação em História na UNESPAR — Universidade Estadual do Paraná. Lá trabalhei como professor de informática para a terceira idade, e foi uma experiência muito rica. Então, fiquei dois anos como bolsista em um projeto de extensão em docência. Nesse período, fiz o processo seletivo para o SESI e fui dar aula como professor de História, Geografia e Filosofia. Foi uma experiência legal porque eu trabalhei com EJA, então foi complementando, né? Fui tendo várias experiências de trabalho. Durante este período, continuava trabalhando com design gráfico, fazendo freelas. Também fui músico dos 19 até os 26, 27 anos, o que me ajudou a ter presença de palco, falar com as pessoas. Com 27 anos, passei no mestrado e vim para Florianópolis. Foi a primeira vez na vida que pude somente estudar. Eu fiquei como bolsista por dois anos, período em que fui voluntário no Laboratório de Imagem e Som – LIS, da UDESC. Trabalhei com produção musical, dava oficinas de animação, também produzi um programa de rádio chamado Nos Cantos da História. Além disso, fui professor voluntário na ONG Gente Amiga, no Morro do Horácio, durante seis meses. Aí eu sofri um acidente, em 2011, e tive que parar tudo. Fraturei as vértebras C6 e a C7, tive que ficar três meses de molho. Acabei prorrogando o mestrado, não tinha mais bolsa e precisava pagar as contas. Então comecei a trabalhar no Colégio Marista Lucia Mayvorne, no Monte Serrat, onde fiquei por oito anos. Foi incrível, porque era uma escola com uma infraestrutura boa, dentro da favela. Dei aula do primeiro ano do Fundamental até o Ensino Médio. Comecei com as aulas de comunicação, de tradução de tecnologia para crianças, e depois fui para as oficinas de robótica, mídia e jogos digitais, para Fundamental 2 e Ensino Médio, que foi uma grande bagagem. Em paralelo ao Marista, trabalhei em uma lan house no centro de Florianópolis, que me deu uma visão de mundo muito louca, porque tinha muito imigrante, muito turista que frequentava, então lá foi uma grande escola também. Em 2018, comecei a dar aula no curso técnico de jogos digitais da Faculdade Senac da Palhoça e foi o ano em que comecei o projeto social que viria a se tornar o Prototipando a Quebrada (PAQ). Em 2019, montei uma produtora de audiovisual, onde trabalhava com edição de vídeo, gravação, animação e motion, e em 2021 resolvi parar com as escolas para me dedicar a empreender socialmente, fazer gestão de equipe e desenvolver processo de aprendizagem dentro de um lugar que fosse meu. É o que venho fazendo desde então. Sou um dos fundadores do Prototipando a Quebrada e estou à frente da parte de captação e gestão de recursos. Voltei a lecionar no ano passado, no Colégio AZ Floripa, que é uma escola particular de elite de Florianópolis, trabalhando com startups e marketing digital para jovens.

O que te fez escolher esse caminho?

Eu venho da periferia, sou um jovem periférico que, por vários acasos da vida e por vários desejos, acabou querendo fazer faculdade. Sou o primeiro formado da família, de todos os lados, não tinha primos, tios que fizeram faculdade. Hoje, se eu pudesse ter tido a chance de escolher uma graduação, talvez eu tivesse feito Engenharia de Automação. Mas eu fui me plugando no que me era possível na época. Então, eu fiz curso técnico em informática, porque eu já gostava de informática. Quando era adolescente, tive um amigo em São Paulo que falou sobre o vestibulinho. Fiz a prova em 1998 e entrei no curso técnico em 1999. Depois fui morar no Paraná, tentei fazer uma faculdade de informática, não consegui o FIES, tive que trancar. Aí um amigo, em um final de ano, perguntou por que eu não fazia faculdade. Lembro que eu falei que não tinha como pagar. Foi quando ele me contou da UNESPAR, que tinha câmpus na nossa cidade. Acabei fazendo o cursinho pré-vestibular, onde até depois dei aula como voluntário. Na época, queria muito fazer Física, mas não tinha o curso lá, então acabei optando por fazer História, com segunda opção para Matemática, porque a maioria dos meus amigos fazia História. Entrei no curso e foi super importante para me dar uma leitura mais aprofundada de mundo. Logo no segundo ano, tive a possibilidade de trabalhar no projeto de extensão de docência para terceira idade. Foi fantástico. Mas acredito que hoje, se eu tivesse tido a oportunidade, talvez eu tivesse feito Engenharia de Automação, que é uma área que gosto muito. Uma coisa bacana é que todas as experiências de docência e de vivência me levaram para um caminho de aprendizagem autodirigida muito profundo. Então, não tem nada que eu não consiga aprender depois que eu aprendi como aprender. Acho que essa foi uma das coisas mais legais da faculdade, do mestrado, que me ensinou como eu posso criar estruturas de desenvolvimento de aprendizagem. Então, poxa, eu preciso aprender um conteúdo novo? Quais são os caminhos? Eu vou ler artigos, eu vou procurar as disciplinas dos cursos superiores, eu vou fazer uma outra faculdade. Então, isso me deu uma base muito grande e isso eu acho que é importante.

O que você ainda almeja conquistar?

Eu quero comprar uma casa. Mas acho que, com o que realizo hoje, tenho um grande sonho que é impactar 1 milhão de educandos. Impactar 1 milhão de pessoas para que elas possam se desenvolver e aprender. Aprender é da hora, né? Eu almejo muito isso nas várias facetas do Jeff, o palestrante, o mentor, o consultor, mas o Jeff do PAQ quer fazer com que essa estrutura de acolhimento, de comunidade de aprendizagem, de desenvolvimento de jovens consiga ser levada primeiro para toda Santa Catarina. Eu quero muito plugar em todos os centros de inovação aqui porque são cases muito profícuos para que a gente possa fazer essa ação. E quero levar isso para outros lugares do Brasil, porque, infelizmente, a gente ainda tem muita comunidade, tem muita favela, tem muita quebrada para poder desenvolver. Então, acho que esse é o meu grande sonho. 

Quais hábitos você mantém para ter mais qualidade de vida e desempenho no âmbito profissional?

Tenho alguns ritos que eu realizo. Quando vou a São Paulo, cerca de duas a três vezes no ano, a trabalho, sempre vou à casa da minha mãe, da minha avó, que é na periferia, para relembrar o porquê estou nesse rolê. Rememorar qual é a sua causa, do que você está se propondo a construir, é importante para manter você ativo. É importante se questionar: por que estou fazendo as coisas que estou fazendo? Por que estou me dedicando tantas horas para fazer isso? E, para ter qualidade de vida, tenho uma companheira incrível que super se instiga a desbravar o mundo com o nosso pequeno. Tenho um menino de cinco anos, o Ravi, e levá-lo para conhecer o mundo é uma das coisas que mais me leva a ter qualidade de vida. A gente vai no parque, no cinema. Meu filho é um menino autista de nível 3, então vê-lo entendendo e descobrindo o mundo e me colocando à disposição para fazer isso, para ir na piscina, para ir na praia, tem sido um ponto muito importante para manter minha qualidade de vida. Criar essa rotina de descobrir lugares também, gosto muito de dirigir até uma cidade próxima e comer alguma coisa, beber alguma coisa. São coisas que pegam bastante para mim.

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Fundadora do Economia SC, 3 vezes TOP 10 Imprensa do Startup Awards e TOP 50 dos + Admirados da Imprensa em Economia, Negócios e Finanças.

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