É fácil observar como tecnologia, inovação e marketing tendem a excluir os idosos. Não é culpa direta desses setores, mas as pessoas que trabalham neles olham tanto para o futuro que acabam esquecendo as pessoas ao redor. E se “novo” é antônimo de “velho”, aqueles que já viveram muito parecem não pertencer a esse espectro.
Só que isso é um erro evidente. Mesmo que possamos citar vários dados sobre o envelhecimento da população, a exclusão dos idosos em papos do marketing e da tecnologia pode se resumir mais facilmente a uma ignorância.
E eu não quero levantar essa questão aqui por conta do Silver Money (a economia e o potencial de consumo de quem tem mais de 50 anos), mas por outro motivo: propósito.
Mesmo que não gostem dele, o idoso adora marketing e tecnologia
Embora a tecnologia e o marketing deem sinais de que não se importam com os mais velhos, a verdade é que os idosos adoram inovação. Esqueça o senhorzinho nostálgico da TV de tubo que reclama do streaming. Não que essa imagem não contenha algum nível de veracidade, mas enquanto você pensar nela, talvez foque mais nos produtos e menos no que realmente importa: o desejo de pertencer.
O mundo é de todos. Os que estão aqui, de qualquer idade, ocupação ou interesse. Se alguém se sente de fora, precisamos resolver isso. Há algo errado.
Em planejamentos de marketing rasos e pobres de técnica, é muito comum ver a definição do público-alvo indo dos 18 aos 60 anos. O começo faz sentido: há produtos voltados única e exclusivamente a adultos.
Mas o que acontece depois dos 60? Ninguém se torna inativo ou desinteressado só por soprar velinhas.
De qualquer forma, muitas marcas evitam colocar idosos em suas propagandas porque, mesmo que queiram conversar com o público de mais de 60, imaginam que eles só querem ver jovens para se imaginarem joviais.
A propaganda que sobra é a de crédito fácil – aposentados e pensionistas do INSS são a certeza de que há dinheiro entrando mensalmente – e produtos para vigor físico e desempenho entre 4 paredes.
Será que todo idoso quer essas coisas? Claro que não. O que muitos querem é algo bem mais simples: serem parte da conversa de forma normal.
Os bancos, por exemplo, falham em acolher quem passou literalmente décadas e mais décadas pagando as mais diversas taxas e agora precisa aprender a operar tudo no digital. Não que não sejam ágeis no smartphone, muito pelo contrário, mas se até a opção de ligar para falar com um humano resulta num atendimento por robô, valeu a pena todos os pagamentos em dia?
Até onde foi planejado e pensado para eles? Que possibilidades estão disponíveis, além de empréstimos e seguros?
Só cresce quem envelhece
É aquela história: ninguém teme crescer e se desenvolver, mas envelhecer dá medo. Mesmo que uma coisa ande com a outra. E nem preciso de muito tempo justificando o porquê de eu ter afirmado isso, porque você com certeza já entendeu.
Para resumir, muito do medo não está na idade, mas no peso social que ela carrega. Tememos a finitude e a solidão que, muitas vezes, associamos aos mais velhos. Mas o etarismo está no sofrimento imposto, na dificuldade de garantir o pertencimento.
Ninguém deveria ficar se questionando se ainda dá para sonhar ou enfrentar uma “morte social”, convivendo apenas com a ausência de pessoas que partiram, seja por mudanças, seja pelo fim. Isso não é papo furado. A idade avançada carrega, sim, limitações, mas ela não deve ser uma sentença de invisibilidade.
Muito menos de invisibilidade na conversa. Velhice existe, e não adianta romantizar: há consequências físicas e mentais. Não é só uma questão de personalidade e espírito.
Quem a gente diz que tem “espírito jovem” tem ambições e se dispõe a lutar por elas, enquanto aqueles com espírito mais velho preferem menos sacrifícios. E todos eles podem ser idosos ou não.
Construindo oportunidades reais
Será que a gente usa muito o termo “idoso” porque “velho” virou sinônimo de descartável?
O mercado de trabalho reforça essa percepção. Até a geração Z teme não encontrar emprego quando envelhecer. Para muitos, a aposentadoria é um sonho de segurança, e não de exclusão, mas o temor de se tornar irrelevante é o pior de tudo. Em um mundo que exige adaptação constante, a especialização se torna um fardo.
Esse é o caso do seu professor universitário que sabe tudo sobre a matéria dele, mas não domina o PowerPoint. E chega ao seu cúmulo em idosos que caem em golpes não por falta de melhor julgamento, mas por pertencerem a um sistema que não os inclui.
Eu mesmo quase caí na armadilha de ver o idoso como um único alguém. Assim como é complicado generalizar um jovem adulto, também o é com o idoso. Será que facilitaria se houvesse o jovem idoso (ali nos sessentinha) e o super idoso (mais de 80)?
Provavelmente não, mas é o que venho dizendo: precisamos de mais debate, não só dar benefícios e achar que deu. Não me entenda mal: a fila preferencial é um direito, mas é apenas isso – um direito, não uma oportunidade. E o que a sociedade precisa construir para os idosos é oportunidade. Temos uma única vida, e ela segue até o último dia, com direitos e com sonhos.