Por Felipe Ribeiro, sócio e headhunter na Evermonte Executive Search.
Quando falamos sobre a saída de um CEO de uma organização, é preciso considerar diferentes cenários. Há casos em que o líder decide, por vontade própria, que é hora de seguir outro caminho. No entanto, há situações em que a saída é forçada, seja por inadequação à cultura da empresa ou por conflitos internos.
Fato é que a média de permanência dos CEOs nas empresas tem diminuído. Segundo uma pesquisa da PwC, a taxa global de rotatividade desta posição executiva foi de 17,4% em 2022, a mais alta dos últimos 19 anos. E, embora a saída de um executivo possa ser planejada, essa mudança sempre gera impactos significativos para as empresas.
Na tentativa de responder qual é o custo real da demissão de um diretor executivo, elenco cinco tópicos que podem nos dar uma perspectiva geral em relação a esse cenário.
1. Custo financeiro
O primeiro aspecto que vem à mente quando pensamos na saída de um CEO é o custo financeiro. Pacotes de rescisão, conhecidos como golden parachutes, podem ser exorbitantes. Em 2018, por exemplo, a rescisão do CEO da General Electric, John Flannery, custou à empresa cerca de US$10 milhões, um valor significativo considerando o cenário de crise em que a organização se encontrava.
Outro ponto interessante é que esses pacotes geralmente incluem compensações além do salário, como bônus, participação em lucros e, em alguns casos, até benefícios de longo prazo. De acordo com um estudo da Equilar, o valor médio do pacote de saída de CEOs nos EUA gira em torno de US$30 milhões em grandes empresas. Esse custo financeiro direto, porém, é apenas uma parte da equação.
2. Reputação
A imagem de um CEO está diretamente atrelada à percepção do mercado sobre a empresa. Quando há uma demissão, especialmente em cenários de crise, a reputação da organização pode sofrer abalos severos. Um estudo da Deloitte mostra que 87% dos executivos acreditam que a reputação é um dos maiores ativos de uma empresa, e a saída de um CEO pode colocar isso em risco.
Um exemplo é a saída de Travis Kalanick da Uber, que levou a uma série de discussões sobre a cultura interna da empresa, abalando a percepção do mercado e forçando a organização a reformular sua imagem. Além disso, CEOs detêm inúmeras informações estratégicas sobre a empresa, e a saída desses executivos pode gerar incertezas em relação ao uso de informações confidenciais, especialmente quando o relacionamento entre a liderança e a empresa já possui ruídos.
3. Sucessão
Infelizmente, um ponto que muitas empresas negligenciam é o plano de sucessão de seus CEOs. De acordo com uma pesquisa da PwC, cerca de 40% das empresas listadas na Fortune 500 admitem que não possuem um plano de sucessão claro para a liderança executiva. Quando um CEO é demitido ou decide deixar a organização sem que haja um sucessor preparado, o impacto pode ser bastante abrangente.
A busca por um novo líder, especialmente em empresas de grande porte, pode levar de 6 a 12 meses, o que gera incertezas e perda de foco estratégico. A ausência de um plano de sucessão pode causar uma perda temporária de direção e liderança, gerando custos adicionais relacionados à contratação, além de prejudicar o desempenho da empresa no curto prazo.
4. Impacto nas ações
Um dos impactos mais imediatos e visíveis da saída de um CEO é no valor das ações da empresa. A demissão de um líder pode causar uma queda significativa nas ações. Em 2019, a saída do CEO do McDonald’s, Steve Easterbrook, resultou em uma queda imediata de 3% no valor das ações da empresa, o que representou bilhões de dólares em valor de mercado.
Em uma análise realizada pela Fortune, empresas que passaram por uma troca inesperada de CEO perderam, em média, 3,5% de valor de mercado no curto prazo. Esse impacto reflete a importância da confiança do mercado na liderança executiva. A falta de clareza ou uma transição conturbada pode trazer ainda mais receio para investidores e gerar volatilidade nos papéis da companhia.
5. Engajamento do C-Level
Outro fator menos visível, mas igualmente importante, é o impacto sobre o engajamento do C-Level. Quando um CEO sai, especialmente em situações de conflito, outros executivos podem começar a questionar sua segurança na organização. Um estudo da Gallup revelou que líderes que se sentem inseguros quanto à estabilidade de suas posições tendem a ser 32% menos engajados em suas funções. Isso pode resultar em perdas significativas, gerando um efeito cascata – com outros líderes optando por deixar a empresa.
Atuação preditiva
Demitir um CEO envolve muito mais do que apenas um pacote de rescisão. Cada contexto é único, assim como as realidades de cada companhia. Mas uma coisa é certa: o impacto dessa mudança vai muito além do financeiro – ele pode afetar a reputação e a estratégia da organização de forma profunda. Logo, deveríamos estar preocupados com o processo anterior a essa decisão, mitigando riscos e nos preparando com um plano de sucessão sólido. Afinal, a saída de um CEO é apenas o início de uma série de desafios – cujos impactos podem ser mitigados com uma atuação preditiva.